EXISTE UMA RELAÇÃO ENTRE BEBER ÁLCOOL E TRANSTORNOS DE ANSIEDADE? O QUE MOSTRAM OS RATOS.

 

Reinaldo N. Takahashi

Depto de Farmacologia/CCB, Universidade Federal de Santa Catarina,

 

            A natureza multifatorial do alcoolismo tem estimulado as pesquisas envolvidas na participação de fatores genéticos e ambientais na vulnerabilidade ao álcool. Determinar por que as pessoas bebem álcool apesar das conhecidas consequências adversas constitui uma questão central nas pesquisas do álcool. O álcool etílico ou etanol, de maneira similar a outras drogas de abuso, possui o chamado efeito reforçador que parece constituir papel chave no comportamento de beber álcool. Além deste aparente efeito prazeroso, sabe-se que o álcool produz sensação ansiolítica, assim na motivação do beber álcool, outro fator como a redução da ansiedade poderia estar envolvida. Somando-se ao efeito do reforço positivo, o desenvolvimento do alcoolismo pode estar associado a fatores como a ansiedade. A comorbidade entre o alcoolismo e estes distúrbios emocionais tem impulsionado o desenvolvimento de estudos que buscam identificar os mecanismos que afetam as respostas comportamentais para o álcool. Na pesquisa pré-clínica a utilização de modelos animais, especialmente roedores, tem contribuído bastante para a melhor compreensão dos mecanismos biológicos implicados numa variedade de eventos. Do ponto de vista evolutivo e genético existe uma grande similaridade entre animais, primatas não humanos e roedores. Considerando o exposto acima, fica evidente a relevância em se avaliar os modelos genéticos animais para diferentes patologias ou transtornos como, por exemplo, a dependência ao álcool e a ansiedade. Na presente apresentação serão abordados  o estudo do consumo oral de etanol em 2 linhagens consanguíneas de ratos Lewis (LEW) e espontaneamente hipertensos (SHR), caracterizadas em diferentes testes comportamentais  como linhagens extremas em termos de níveis basais de ansiedade,  respectivamente, “mais ansiosos” e “menos ansiosos” (Ramos et al., 1997) e em ratos Floripa H e Floripa L, animais resultantes da seleção bidirecional de ratos  com respostas contrastantes  para a ansiedade após 4 gerações (Ramos et al., 2003). Em seguida, será discutida a relação entre a sensibilidade aos efeitos do etanol em ratos LEW  e SHR em testes de emocionalidade e o subsequente consumo voluntário de etanol, sacarina e quinino. Não foram encontradas diferenças no consumo de etanol entre os ratos Floripa H e Floripa L testados no paradigma de livre escolha entre 2 bebedouros. Ao contrário do esperado, os ratos “menos ansiosos”, SHR, beberam significantemente mais solução de etanol (2 – 4%) que os ratos LEW. No geral, as ratas fêmeas consumiram mais etanol do que os ratos machos. A menor dose de etanol (0.6 g/kg, i.p.) induziu efeitos tipo-ansiolítico e estimulante em ratos SHR e estes animais apresentaram maior consumo de etanol e solução doce de sacarina. Os resultados sugerem que outros fatores que não a ansiedade inata, tais como a sensibilidade ao efeito ansiolítico/estimulante do etanol, maior consumo de sacarina e quinino em ratos SHR, constituiriam fatores indicativos para o comportamento diferenciado de beber etanol nesta linhagem. Além disso, o presente estudo utilizando metodologia simples evidencia  a linhagem de ratos SHR como um provável modelo experimental de alcoolismo (Da Silva et al., 2005).

Apoio finaceiro: PRONEX/FAPESC-SC/CNPq

Referências:

Ramos A, Berton O, Mormede P, Chaouloff F. Behavioural Brain Research, 85: 57-69, 1997.

Ramos A, Correia EC, Izidio GS, Bruske GR. Behavior Genetics, 33: 657-668, 2003.

Da Silva GE, Vendruscolo LF, Takahashi RN. Life Sciences, 77: 693-706, 2005.