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Vamos adotar a expressão economia criativa a indústrias
criativas. É mais ampla (inclui, por exemplo, a imensa gama de serviços
criativos), mais distante do paradigma da chaminé e abriga maiores possibilidades
de imbricação com questões como desenvolvimento local sustentável.
·
Novidade do mundo anglo-saxão introduzida em
princípios da década de 1990:
A identificação das ‘indústrias criativas’ como um grupo separado, ainda que
correlacionado, de indústrias em crescimento (e desta maneira, dignas da
criação de novas políticas) vem do manifesto pré-eleição de 1997 do New Labour (Novo Partido Trabalhista),
que foi fortemente influenciado pela política de ‘Nação Criativa’ da Austrália,
de 1994. Antes disso, o termo ‘indústrias culturais’ vinha sendo usado
na política pública por pelo menos 15 anos (British Council, out. 2005);
O termo já vem amplamente utilizado por todo o
Extremo Oriente, Australásia, Estados Unidos e, cada vez mais, na Europa.
O Reino Unido acaba de nomear um Ministro para
cuidar da Economia Criativa (James
Purnell, Minister for Creative Industries) com o objetivo de assistir “the creative industries by raising their
profile and helping them achieve their full economic potential”
·
Um debate inevitável: indústrias culturais x
indústrias criativas
Conjunto de atividades baseadas na criatividade, talento ou habilidade
individual que têm potencial para criação de riqueza e geração de empregos
através da criação e exploração da propriedade intelectual.
SETORES
INCLUÍDOS
·
mídia, cinema, música, televisão, artesanato, artes
cênicas, arquitetura, fotografia, design,
publicidade e propaganda, museus, galerias de arte, livrarias,
·
atividades que contribuem diretamente para a
economia criativa
·
trabalhadores free-lance (escritores, artistas,
artesãos, etc.)
CARACTERÍSTICAS
·
não poluentes
·
tecnologia desemprega pouco
·
não há barreiras à entrada
POTENCIALIDADES
·
criam emprego e renda
·
geram tributos e impostos
·
atraem indústrias e trabalhadores qualificados
·
alimentam a economia do turismo
·
realçam as tradições e história locais
·
promovem a inclusão social e o reforço da cidadania
·
promovem a diversidade e a tolerância
ALGUNS NÚMEROS
Fonte: Copyright
Industries in the U.S. Economy: The 2004 Report – (International Intellectual Property Alliance - IIPA)
Segundo este relatório, em 2002
as indústrias de copyright mantiveram
seu papel de destaque na economia norte-americana.
The U.S. “core” copyright industries accounted for an
estimated 6% of the U.S. gross domestic product (USD 626.6 billion). The “core” industries are those industries whose primary
purpose is to produce or distribute copyright materials. These industries
include newspapers, book publishing, recording, music, and periodicals, motion
pictures, radio and television broadcasting, and computer software (including
business application and entertainment software).
The U.S. “total” copyright industries accounted for an
estimated 12% of the U.S. gross domestic product (USD 1.25 trillion). The “total” industries are composed of four groups
called the core, partial, non-dedicated support, and interdependent sectors.
The “core” copyright industries employed 4% of U.S.
workers in 2002 (5.48 million workers).
The “total” copyright industries employed 8.41% of U.S.
workers in 2002 (11.47 million workers). This
level approaches the total employment levels of the entire health care and
social assistance sector (15.3 million) and the entire U.S. manufacturing
sector (14.5 million workers in 21 manufacturing industries).
Between 1997-2002, the core copyright industries added
workers at an annual rate of 1.33%, exceeding that of the U.S. economy as a
whole (1.05%) by 27%. Factoring out the
difficult economic year of 2002, between 1997-2001, employment in the core
copyright industries grew at an annual growth rate of 3.19% per year, a rate
more than double the annual employment rate achieved by the U.S. economy as a
whole (1.39%).
The U.S. copyright industries achieved foreign sales and
exports estimated at $89.26 billion, leading
other major industry sectors such as: chemicals and related products, food and
live animals, motor vehicles, parts, and accessories, and aircraft and
associated equipment sectors.
Reino Unido
Fonte: British Council (Out. 2005):
as indústrias
criativas foram responsáveis por 8.2% do Valor Agregado Bruto
(GVA) em 2001, tendo crescido em média 8% ao ano entre 1997 e
2001;
as
exportações realizadas pelas indústrias criativas contribuíram com £11.4
bilhões para a balança comercial em 2001. Isto representou cerca de 4.2%
de todos os produtos e serviços exportados;
as
exportações das indústrias criativas cresceram cerca de 15% ao ano
no período de 1997 a 2001;
em junho de
2002, o número de empregos nestas indústrias totalizou 1.9 milhões de postos (em um total de 30,95
milhões);
113 mil
empresas compõem este setor;
95% das
empresas do setor empregam à volta de 10 trabalhadores.
Notícia publicada pela Agência Reuters (ou pra se ter uma idéia do
tamanho da coisa):
"Harry
Potter and the Half-Blood Prince", o penúltimo volume da saga do mago
britânico, pode ser o livro mais rapidamente vendido da história. A rede
britânica Waterstone's prevê que 10 milhões de cópias podem ter sido vendidas
em todo o mundo durante as primeiras 24 horas nas prateleiras. As primeiras
contagens mostravam números absurdos. A rede britânica WH Smith registrou
vendas de 13 livros por segundo em suas 391 lojas nas primeiras horas do
sábado. A quinta aventura de Harry Potter vendeu oito cópias por segundo. Até
sexta-feira, a série de Harry Potter havia vendido 270 milhões de cópias em
todo o mundo. Os jornais britânicos prevêem que a fortuna da autora, J.K.
Rowling, já estimada em 1 bilhão de dólares, deva crescer mais 20 a 25 milhões
de libras somente com o resultado do primeiro dia de vendas.
União
Européia
O European Audiovisual Observatory,
sediado em Strasbourg, no seu 2004 Yearbook
- "Economy of the Radio and Television Industry in Europe", avaliou o mercado
europeu do audiovisual em 99 billion de Euros.
Brasil
Diagnóstico dos Investimentos na Cultura no Brasil,
realizada, em 1998, pela Fundação João Pinheiro, sobre a economia da cultura no
país, por encomenda do Ministério da Cultura cobrindo o período compreendido
entre 1985 e 1994 e com projeções para os três anos seguintes, 1995-97, teve
como objetivo avaliar o impacto dos investimentos públicos e privados em
cultura na economia brasileira – portanto, os gastos diretamente efetuados em
atividades culturais pelos governos federal, estaduais e dos municípios das
capitais, dos órgãos das administrações indiretas, dessas e outras esferas
governamentais, bem como das empresas estatais e das empresas privadas – de
forma a permitir uma primeira aproximação números do “PIB da cultura” no país,
isto é, do valor adicionado à economia pelas atividades específicas da área
cultural.
Segundo
projeções do estudo, a produção cultural brasileira movimentou, em 1997, cerca de 6,5 bilhões de reais, algo
equivalente a aproximadamente 1% do PIB brasileiro, percentual ligeiramente
abaixo de setores fundamentais como saúde e educação, cuja participação no PIB
alcançaram no período, respectivamente, 2,2% e 3,2%.
A pesquisa
indica, também, números surpreendentes, por exemplo, quanto ao potencial
empregador da economia da cultura, que para
cada 1 milhão de Reais investidos chega a criar, em média, 160 empregos diretos.
Assim, de acordo com este estudo, em
1994 havia 510 mil pessoas empregadas na produção cultural brasileira,
considerando-se todos os seus setores e áreas. Esse contingente era 90%
maior do que o empregado pelas atividades de fabricação de equipamentos e
material elétrico e eletrônico; 53% superior ao da indústria automobilística,
de autopeças e de fabricação de outros veículos e 78% superior do que o
empregado em serviços industriais de utilidade pública (energia elétrica,
distribuição de água e esgotos e equipamentos sanitários).
Outro dado
interessante é que o setor, além de ser capaz de gerar empregos, paga um salário médio que é o dobro da
média do conjunto das atividades econômicas, no que parece ser uma tendência
constante do setor, pois já em 1980 o salário médio das atividades culturais
era 73% superior ao da média da economia.
O panorama
traçado por esta pesquisa, mesmo tendo deixado de fora setores que, como a
publicidade e as indústrias da informação, do lazer e do turismo, ocupam
espaços de grande magnitude num mercado ampliado de bens simbólicos, dá conta
de um quadro promissor e dinâmico, alimentado, em particular, tanto pelas
políticas e recursos públicos quanto pela crescente e já expressiva
participação do capital privado nas atividades culturais estimulada, nos anos
mais recentes, pela legislação de incentivo fiscal tanto federal quanto
estadual e municipal.
·
Números e estatísticas
·
Conta-satélite ou PIB da cultura
·
Políticas de crédito
·
Políticas de investimento
·
Política tributária
·
Estudos e pesquisas (cadeias produtivas, públicos,
geração de emprego e renda, etc.)
O
CENTRO INTERNACIONAL DE ECONOMIA CRIATIVA (CIEC)
·
pequeno histórico:
Na XI Conferência da
UNCTAD- Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento,
realizada em São Paulo em junho 2004, ao reconhecer o potencial das indústrias
criativas e a necessidade de criar-se um espaço político mais amplo e flexível
a fim de melhorar a transparência do mercado internacional para seus produtos e
serviços, a comunidade internacional propôs a criação de um Centro
Internacional das Indústrias Criativas (CIIC). Esta entidade teria como
objetivo apoiar os responsáveis políticos dos países em desenvolvimento na
formulação de políticas visando o fortalecimento de suas economias criativas. O
Governo brasileiro, ciente da importância da economia criativa para sua
estratégia de desenvolvimento, ofereceu-se para sediar esta nova instituição no
Brasil. Neste sentido, organizou, em conjunto com várias agências do Sistema
Nações Unidas, o Fórum "Rumo ao Centro Internacional das Indústrias
Criativas", em Salvador, de 18 a 20 abril de 2005, com os objetivos de
discutir o escopo, as modalidades de operação, as formas de financiamento, a
estrutura organizacional e as possíveis parcerias para a criação do Centro.
·
objetivos do CIEC:
Atualmente, não há nenhum
organismo internacional dedicado exclusivamente a tratar das questões
específicas das indústrias criativas que afetam o mundo em desenvolvimento. O
CIEC preencherá esta lacuna e atuará como um centro de conhecimento e ponto
focal a fim de promover sinergias e engajar os vários segmentos da área das
indústrias criativas em um diálogo produtivo. O CIEC servirá, assim, como uma
instituição mediadora e como um centro especializado para assistir aos governos
na formulação de políticas nacionais, regionais e internacionais apropriadas, e
dar apoio e prestar serviços aos artistas, criadores e empreendedores da área
criativa. O CIEC atuará através de parcerias público-privadas internacionais,
oferecendo assistência técnica e jurídica no intuito de promover o potencial
das indústrias criativas nos países em desenvolvimento. O propósito do CIEC é
ser uma organização flexível, aberta a todos os países e a parceiros do setor
privado, organizações governamentais e não-governamentais nacionais e
internacionais, universidades, centros de pesquisa, fundações e instituições
sem fins lucrativos.