OS ESTUDOS GEOLINGÜÍSTICOS NO BRASIL: DOS ATLAS REGIONAIS AO ALiB[1]

 

Maria do Socorro Silva de Aragão

Universidade Federal do Ceará

 

1.      INTRODUÇÃO

 

A Dialetologia no Brasil, apesar das dificuldades que sempre passou, especialmente com a pouca quantidade de pessoal qualificado, da falta de interesse das instituições e da conseqüente falta de recursos, continua a se expandir, não só quantitativamente, mas qualitativamente, incluindo em seus estudos os aspectos diastráticos e diafásicos.

 

O resultado dessas pesquisas é a publicação, até o momento, de oito Atlas Lingüísticos estaduais e um Atlas Lingüístico Regional. Destes, sete foram publicado: o Atlas Prévio dos Falares Baianos (1963), o Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (1977), o Atlas Lingüístico da Paraíba (1984), o Atlas Lingüístico de Sergipe (1987), Atlas Lingüístico do Paraná ( 1994), Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil - Alers (2002), Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará - Alispa (2004). Os outros dois que ainda não foram publicados, foram teses de doutorado defendidas na Universidade Federal do Rio de Janeiro: Atlas Lingüístico de Sergipe II (2002),Atlas Lingüístico do Amazonas (2004).

 

Outros tantos Atlas encontram-se em fase avançada e inicial de elaboração, como o Atlas Lingüístico do Ceará, o Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, Atlas Lingüístico do Rio de Janeiro, O Atlas Lingüístico de São Paulo, o Atlas Lingüístico do Acre, o Atlas Lingüístico do Mato Grosso, o Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul, o Atlas Lingüístico do Maranhão, Atlas Lingüístico do Espírito Santo e Atlas Lingüístico do Rio Grande do Norte.

 

Assim, apesar dos pesares, o sonho de Antenor Nascente e Serafim da Silva Neto vai aos poucos sendo realizado, prevendo-se sua completa realização com o Atlas Lingüístico do Brasil, em fase inicial de elaboração.                               

 

 

2. ATLAS PUBLICADOS

 

2.1.      Atlas Prévio dos Falares Baianos

 

            O Atlas Prévio dos Falares Baianos se constitui em um marco nos estudos da Geografia Lingüística no Brasil não só por ter sido o primeiro trabalho a ser publicado mas, por sua fundamental importância para o conhecimento do falar regional da Bahia e, por extensão, de grande parte do falar nordestino.

 

            Publicado em 1963, o APFB está assim estruturado: a) 50 localidades, cobrindo todo o estado da Bahia. b) 99 Informantes das seguintes faixas etárias: 25 a 84 anos. c) Nível de instrução: analfabeto e semi-alfabetizados. d) homens e mulheres.e) O Questionário contém 164 questões. f) nos campos semânticos: agricultura, pecuária, anatomia e fisiologia humana, culinária e alimentação, geografia e astronomia. g) As cartas, em número de 209 compreendem 11 de identificação, 154 fonéticas e léxicas e 44 cartas resumo. Os termos vêm transcritos no interior da própria carta ou com legendas e símbolos, em preto e branco e coloridos. Algumas cartas apresentam dados etonográficos, inclusive com ilustrações.

           

2.2.      Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais

 

            O Atlas Lingüístico de Minas Gerais,deverá ser publicada em 4 volumes, dos quais o primeiro, único publicado até o momento está assim estruturado: a) 116 municípios mineiros, cobrindo todo o Estado.b) 83 Informantes da Faixa etária de 30 a 50 anos.c) analfabetos a primário completo.d) homens e mulheres. e) O Questionário com 415 questões.f) Campos semânticos do 1º volume: a terra, folguedos infantis.g) As cartas, em número de 78, são 05 de identificação, 21 léxicas, 24 fonéticas, 03 isófonas e 25 cartas isoléxicas. Os termos vêm com símbolos e legendas; na parte extrema esquerda das cartas constam os vocábulos de freqüência mínima e na direita, os vocábulos de alta freqüência, ficando no interior do mapa apenas os símbolos, círculos e triângulos cheios e vazios.

           

2.3.  Atlas Lingüístico da Paraíba

 

            O Atlas Lingüístico da Paraíba foi publicado em 1984 compreende três volumes, dos quais dois já publicados.

 

            A obra está assim estruturada: a) 25 municípios base e 75 municípios satélite, cobrindo todo o Estado.b) 107 Informantes da Faixa etária de 30 a 75 anos.c) Nível de instrução: analfabeto a primário completo.d) homens e mulheres. e) Questionário tem 877 de questões.f) Campos semânticos : Questionário geral: a terra, o homem, a família, habitação e utensílios domésticos, aves e animais, plantação e atividades sociais. Questionário específico: mandioca, cana-de-açúcar, agave, algodão e abacaxi.g) O Atlas é composto de cartas léxicas e cartas fonéticas, intercaladas. O segundo volume traz uma descrição detalhada da metodologia utilizada, os dados histórico-geográficos, geo-econômicos e sócio-culturais das localidades, a ficha dos informantes, os informantes por localidade, a análise das formas e estruturas lingüísticas encontradas sob os aspectos fonético-fonológicos e morfo-sintáticos.

 

2.4.  Atlas Lingüístico de Sergipe

 

            O Atlas Lingüístico de Sergipe ficou pronto desde 1973,  por uma série de problemas, inclusive financeiros, somente foi publicado em 1987 e está assim estruturado: a) 15 localidades, cobrindo todo o Estado.b) 30 Informantes da Faixa etária de 25 a 65 anos.c) Nível de instrução: analfabetos e semi-analfabetos.d) homens e mulheres. e) Questionário com 700 questões.f) Campos semânticos: terra, homem, animais, vegetais.g) Foram elaboradas 180 cartas, sendo 11 introdutórias e 169 cartas léxicas com transcrição pormenorizada e numerosos dados etnográficos, tendo em vista a quantidade de notas que acompanham as cartas. Em cada carta há a remissão à carta correspondente no Atlas Prévio dos Falares Bahianos. Há no ALS, ainda, uma série de cartas conjuntas Bahia-Sergipe, com dados da Bahia, não apresentados no APFB.

 

2.5. Atlas Lingüístico do Paraná

           

            O Atlas Lingüístico do Paraná publicado em 1994/1995 compreende dois volumes: um com a Apresentação e o outro com as Cartas.

 

            A obra está assim estruturada: a) 65 localidades, cobrindo todo o Estado.b) 130 Informantes da Faixa etária: 25 a 65 anos.c) analfabetos e com primário completo.d) homens e mulheres. e) Questionário com 325 questões. f) Campos semânticos: I- Terra; II - Homem. g) O Atlas contém os seguintes tipos de cartas: cartas de identificação - 06; cartas léxicas - 92; cartas fonéticas - 70; cartas isoléxicas - 19; cartas isófonas - 10; cartas anexas com a distribuição geográfica do povoamento do Paraná, do século XVII a XX - 06.

 

            No verso de cada carta há notas explicativas e de análise do material coletado.

 

O volume referente à Apresentação contém uma introdução; Esboço histórico da colonização paranaense; Pontos lingüísticos investigados; Características dos informantes por localidade; Questionário lingüístico; Notações fonéticas; Apresentação das cartas e notas.

           

2.6. Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil - ALERS

 

            O Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul teve seus dois primeiros volumes publicados em 2002. O volume 1 compreende a Introdução e o volume 2 contém as Cartas Fonéticas e Morfossintáticas.

 

A obra tem a seguinte estrutura: a) Área Rural - 275 pontos: 100 no Paraná, 80 em Santa Catarina e 95 no Rio Grande do Sul; Área Urbana - 19 pontos: 6 no Paraná, 6 em Santa Catarina e 7 no Rio Grande do Sul. b)  2 informantes por cada ponto das zonas rurais e 6 por cada ponto das zonas urbanas. c) homens e mulheres. d) Faixa Etária: 28 a 58 anos.d) Graus de Escolaridade: analfabetos ou com até a 4ª série do Fundamental.e) Questionário: 735 de caráter geral, subdivididas em mil itens, das quais algumas coincidem com os outros Atlas já publicados, complementadas por questionário específico em cada Estado. f) Os questionários são: Semântico Lexical com 800 questões, cobrindo vários campos semântico,. Morfossintático, com 75 perguntas e o O Fonético - Fonológico conta com 26 questões. g) O Atlas contém um total de 176 cartas, sendo 70 de fonética e fonologia, 104 de morfossintaxe e duas cartas auxiliares.

 

2.7. Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará - ALISPA

 

Este Atlas é o resultado de um projeto do Professor Abdelhak Razky, da Universidade Federal do Pará, e é parte do Atlas Geo-Sociolingüístico do Pará, que se encontra em fase avançada de realização.

 

A obra está assim estruturada: a) 10 Localidades pertencentes às seis Mesorregiões do Estado do Pará. b) 40 Informantes de 18 a 30 e 40 a 70 anos. c) Nível de instrução: até a 4ª série do primeiro grau. d) homens e mulheres. e) Questionário Fonético – Fonológico com 157 questões. f) O Atlas é o primeiro Atlas sonoro do Brasil contém 600 cartas lingüísticas e o Menu apresenta os seguintes itens: a) Entrevistas; b) Informantes; c) Realização; d) Análise Acústica; e) Palavras. Através desses itens pode-se buscar as cartas por localidades, por informantes, por faixas etárias, por sexo, podendo-se ouvir as realizações fonéticas produzidas pelos informantes, para cada item do questionário, além da possibilidade de uma busca automática da variação fonética, em certos contextos, e sua relação com os fatores sociolingüísticos. Pode-se, também, ouvir as entrevistas integrais dos 40 informantes.

 

3. ATLAS ELABORADOS E NÃO PUBLICADOS

 

3.1.  Atlas Lingüístico de Sergipe II

 

            O Atlas Lingüístico de Sergipe II foi elaborado, como Tese de Doutoramento defendida no final de 2002, na UFRJ.

 

A obra está assim estruturada: a) 15 localidades, cobrindo todo o Estado de Sergipe. b) 30 Informantes de 25 a 65 anos. c) analfabetos e semi-analfabetos. d) homens e mulheres. e) Questionário Semântico-Lexical com 700 questões.Campos semânticos: terra, homem, animais, vegetais.f) O Atlas, compõe-se de dois volumes, com três tomos e um CD, com amostras dos questionários aplicados a 15 informantes.

 

O Volume I contém uma introdução com uma fundamentação teórica, a metodologia e uma bibliografia. O Volume II contém dois tomos, sendo o primeiro tomo dedicado  à introdução das cartas, com os inquéritos, o questionário da área semântica homem, os critérios de apresentação das cartas, referências bibliográficas, índice de formas transcritas e índice  onomasiológico.O segundo tomo do Volume II é o dedicado às cartas, em número de 108.

 

3.2. Atlas Lingüístico do Amazonas

 

O Atlas Lingüístico do Amazonas é resultado da tese de doutoramento defendida em 2004, na UFRJ.

 

A obra está assim estruturada: a) 09 localidades. b) 54 Informantes de faixa etária de 18 a 35; 36 a 55; mais de 56 anos, alfabetizados, com no máximo a 4ª série do Fundamental.c) homens e mulheres.d) Questionário  com 329 questões.e) Campos semânticos: A natureza, o Homem. f) O Atlas está organizado em dois volumes, no primeiro está a Apresentação, Introdução e Fundamentação teórico-metodológica. O segundo contém 107 cartas fonéticas e 150 cartas semântico-lexicais.

 

 

 

4. O PROJETO DO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL - ALiB

 

            A partir do final de 1996 foi criado um Comitê Nacional para a elaboração do Projeto e realização da pesquisa para o Atlas Lingüístico do Brasil. Esse Comitê é atualmente constituído por sete professores das segintes Universidades UFBA, UFC,  UEL, UFJF, UFRS, UFMS e UFPA.

 

            A pesquisa para o AliB tem as seguintes orientações: a) Informantes de Faixas Etárias: 18 a 30 anos e 45 a 60 anos, homens e mulheres. b) Nível de instrução: no máximo a 4a. série, e superior, nas Capitais.c) Localidades: Região Norte: 23 pontos; Região Nordeste: 71 pontos;Região Sudeste: 79 pontos;Região Sul: 41 pontos;Região Centro - Oeste: 21 pontos. d)  Questionários: Semântico Lexical, com 15 áreas semânticas e 207 questões; Morfossintático, com 121 questões; Fonético-fonológico, com 159 questões; Pragmático, com 05 questões;Prosódico, com 04 questões; Temas para discursos semi-dirigidos, 04 temas.

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Pelo que se pode observar a partir da rápida análise acima realizada, num país como o Brasil, com 26 estados e o Distrito Federal é muito pouco o que foi realizado ou está em elaboração no que concerne à Geografia Lingüística.

 

            Tal fato tem se refletido negativamente no ensino da Língua Portuguesa em nosso país, por não haver, em termos das variantes diatópicas e diastráticas, um maior conhecimento da realidade lingüística regional e nacional.

 

A realização das pesquisas para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, será, sem qualquer dúvida, um marco na história dos estudos dialetais e geolingüísticos no Brasil.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

AGUILERA, Vanderci de A. Atlas lingüístico do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado do Paraná / Londrina: UEL, 1994/1995.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de.; MENEZES, Cleusa P.B. Atlas lingüístico da Paraíba. Cartas léxicas e fonéticas - V 1. Análise das formas e estruturas lingüísticas encontradas - V2.Brasília: CNPq/UFPB, 1984.

CARDOSO, Suzana A. M. Atlas lingüístico do Brasil - ALiB - Projeto. Salvador: UFBA, 1998.

_____. Atlas lingüístico de Sergipe II. Rio de Janeiro: 2002. Tese (doutorado) - UFRJ.

CRUZ, M. L. C. Atlas lingüístico do Amazonas. Vol. I e II. Rio de Janeiro: UFRJ. Tese de Doutorado. 2004.

FERREIRA, Carlota da S. et al. Atlas lingüístico de Sergipe. Salvador: UFBA; Aracaju: Fundação Estadual de Cultura de Sergipe, 1987.

KOCH, W.; KLASSMANN, M.S.; ALTENHOFEN, C. V. (orgs.) Atlas lingüístico-etnográfico da região Sul do Brasil. Porto Alegre / Florianópolis / Curitiba: Ed.UFRGS/Ed.UFSC/Ed.UFPR, 2002. v. 1 e 2.

RAZKY, Abdelhak.   (Org.) Atlas lingüístico sonoro do Pará. Belém: PA/CAPES/UTM, 2004. CDRoom.

RIBEIRO, José; Mário Roberto L. Zágari ; José Passini ; Antonio Pereira Gaio. Esboço de um atlas lingüístico de Minas Gerais. Rio de Janeiro: FCRB, 1977.

ROSSI, Nelson; FERREIRA, Carlota; ISENSEE, Dinah. Atlas prévio dos falares baianos. Rio de Janeiro: INL, 1963.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Trabalho apresentado no Simpósio “Olhando a Língua pelas Trilhas da Geolingüística”, na Reunião Anual da SBPC, de 17 a 22 de julho de 2005, na Universidade Estadual do Ceará.