DO SERTÃO OLHANDO O MAR EM TERRAS DO CEARÁ

 

 

MELQUÍADES PINTO PAIVA

Universidade Federal do Ceará

 

 

            São estudadas as características do sertão e do mar no Ceará, suas relações com as populações sertanejas e praieiras, impactos do povoamento e da explotação dos recursos naturais, com sugestões para a melhoria das condições de vida do povo pobre, mediante o uso sustentado das atividades agrícolas e pesqueiras.

            A semi-aridez no nordeste brasileiro decorre de causas naturais, agravadas pelo homem. As secas desorganizam as atividades rurais e a economia regional, resultando da baixa pluviosidade na época normalmente chuvosa. O Ceará está totalmente incluído no domínio das caatingas, com 81 a 100% de incidência das secas.

            Em verdade, o mar virou sertão no Ceará, onde o sertão alcança o mar, sem a faixa de mata costeira – na linguagem popular, o sertão vai bater no mar.

            Por causa da diversidade climática, a vegetação das caatingas varia desde o tipo florestal ao extremo de se apresentar com árvores e arbustos espaçados, com solo raso e quase que descoberto. O Ceará tem 93% do seu território em condições de semi-aridez.

            O primeiro e forte brado em defesa da natureza cearense foi dado por Thomaz Pompeo de Sousa Brasil, em livro publicado no ano de 1859. A expansão algodoeira, a partir de 1861, causou o desmatamento dos sertões do Ceará.

            A fauna das caatingas é depauperada, com baixas densidades de indivíduos e poucas espécies endêmicas. A semi-aridez condiciona a distribuição da fauna, pois muitos animais abandonam a região quando faltam as chuvas, durante o estio anual ou as secas. Os açudes criaram novos e amplos ambientes para suporte das populações de peixes, aves aquáticas e da fauna em geral.

            As caatingas foram desbravadas no rastro dos bois e com os cultivos do algodão. A seca de 1777 – 1778 foi a causa primeira do desaparecimento da indústria nordestina da carne-seca – nas oficinas do Aracati (Ceará), eram carneados entre 20.000 e 25.000 bois por ano. A cotonicultura está agora decadente, por causa da praga do bicudo.

            A carência de perspectivas econômicas nas caatingas força a exportação de gente pobre, despovoando os sertões, onde a riqueza é privilégio de poucos e a pobreza castiga quase todos.

            São bem antigas as relações entre o sertão e o mar no Ceará. Os primeiros pescadores foram os índios tremembés, e o ambergris foi a fonte pioneira de riqueza cearense, isto até o início do século XVIII.

             Entre o delta do rio Parnaíba e o cabo de São Roque, o litoral é do tipo semi-árido, com formação de dunas. A correspondente plataforma continental é estreita. A partir de 20 m de profundidade, onde termina a fácies arenosa litorânea, começa a fácies de algas calcáreas, que é mais larga e vai até a borda do talude.

            No Ceará há um certo equilíbrio entre as pescas artesanal e industrial. No total, a produção de pescado desembarcado, ao longo de sua costa, situa-se em torno de 23.000 t/ano. Nas pescarias artesanais, os principais recursos explotados são as lagostas, a cavala, a serra e o pargo. As pescarias industriais se expandiram em direção à costa norte, cpturando lagostas, pargo e camarões.

            A explotação lagosteira no Brasil, desde o Amapá ao Espírito Santo, encontra-se sujeita à sobrepesca, sem perspectivas de aumento dos estoques; as pescarias industriais do pargo sofreram colapso em 1987, estando agora em lenta recuperação. Os cultivos de camarões marinhos muito cresceram no Ceará, que ocupa posição de destaque no conjunto da carcinocultura nacional.

            As jangadas são embarcações ecologicamente adaptadas à explotação de recursos pesqueiros de mar aberto, a partir de praias arenosas e sem portos.

            Há uma elevada e surpreendente urbanização da população cearense, com pouco mais de 70% dos habitantes residentes em cidades – o sertão expulsa gente pobre, em procura de melhores condições de vida.

            Nos sertões cearenses são recomendadas as culturas de plantas xerófilas nos terrenos secos e a criação extensiva do gado, desde que se adote o procedimento da fenação, nos meses chuvosos; a melhoria da produção e comercialização do pescado dos açudes; o aproveitamento agrícola das vazantes e dos “brejos” dos açudes; a séria e eficiente implantação dos perímetros irrigados.Duas outras alternativas de ação compreendem o desenvolvimento da mineração e do turismo.

            No que diz respeito à pesca artesanal, os pescadores e suas famílias devem ser agrupados em centros comunitários, concentrando equipamentos, serviços e ações governamentais, sob a administração dos pescadores.

            Na faixa litorânea do Ceará estão bem se desenvolvendo os projetos de carcinocultura e a infra-estrutura destinada ao turismo, por causa da atração de nacionais e estrangeiros, em procura de suas praias.