POLÍTICA INTERNACIONAL E OCUPAÇÃO DA ZONA COSTEIRA
Maria Cordélia Soares Machado (*)
A missão do CCT é “Propor planos,
metas e prioridades de governo referentes à área, efetuar avaliações relativas
a execução da política nacional do setor e opinar sobre propostas ou programas
que possam causar impactos a pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, bem
como instrumentos normativos para sua regulamentação”
Em reunião de abril de 2005 o CCT definiu que as ações prioritárias devem se
desenvolver dentro dos seguintes eixos temáticos: Amazônia, mar, semi-árido,
política industrial, programa espacial, programa nuclear, energia e cooperação
internacional. Feliz coincidência com o tema central da 57ª Reunião anual da
SBPC: do Sertão olhando o Mar. Ficou também definido em reunião do Comitê dos
Fundos Setoriais do MCT que o mar passa a ser ação transversal nos Fundos
Setoriais.
O Ministério
da Ciência e Tecnologia tem apoiado e estimulado novas pesquisas e tecnologias
nas áreas costeiras e oceânicas visando o desenvolvimento sustentável do
Brasil, através da Coordenação para Mar e Antártica da Secretaria
de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento – SEPED.
Listamos
algumas das pesquisas atuais das ciências oceanográficas, percebidas como temas
prioritários nos fóruns especializados, internacionais e nacionais: fluxos
biogeoquímicos, reserva do carbono,
qualidade da água do mar, interação
oceano-atmosfera , projeção da condição futura do mar, descrição do estado
atual do mar, conjugação de dados pretéritos com os atuais subsidiando modelos
de mudanças climáticos, mapeamento oceânico, técnicas avançadas de automação,
conhecimento aprofundado da biodiversidade marinha, causas e conseqüências das
mudanças nesta biodiversidade, estudo e uso sustentável do potencial
biotecnológico dos organismos marinhos, estimulando o cultivo responsável e a
identificação de novos produtos e processos. Tudo isto sem esquecer uma visão
mais sistêmica, buscando tecnologias de menores impactos e apoio ao
gerenciamento operacional.
Com relação à
zona costeira, sabemos que é a região mais densamente povoada e a mais
utilizada do planeta, submetida a uma degradação rápida e intensa. A zona
costeira é um complexo ecológico, social e econômico bem elaborado, onde
interagem processos imbricados e dinâmicos, ainda pouco conhecidos e pouco
compreendidos. Sem dúvida o potencial econômico desta região é enorme, embora
ainda mal aproveitado.
A zona costeira está no centro das
questões de interesse público sobre mares e oceanos, com problemas de poluição (óleo e outros produtos químicos
industriais continentais que afetam a qualidade da água e a saúde pública),
perda de interesse turístico devido ao desenvolvimento e urbanização costeira
desordenados, erosão costeira, perda de ecossistemas costeiros frágeis, como
recifes de corais, manguezais e da vida marinha em geral, eutrofização e
florescência de algas tóxicas, proliferação de espécies invasoras, esgotamento
do estoque pesqueiro, segurança de navios e de operadores de alto mar. A lista
é grande e de grande impacto para a economia, a saúde e o bem estar das
populações humanas.
Buscando
vencer (aos poucos, que seja!) tantos desafios, procuramos trabalhar com uma
visão de ciência integrada e integradora, reunindo seus aspectos fundamentais e
práticos, buscando apoio no conhecimento dos pesquisadores científicos em
instituições públicas e privadas. Procuramos trabalhar para que o usuário
individual (turista, iatista, surfista, pescador, mergulhador), pequenas e
grandes empresas (de maricultura, de pesca, hotelaria e turismo, óleo e gás de
alto mar, transporte marítimo, dragagem, construção naval) possam explorar de
forma sustentável os recursos do mar, gerando emprego, renda e prazer também.
A Comissão Oceanográfica Intergovernamental -COI é órgão da UNESCO, com a
missão precípua de desenvolver, promover e facilitar programas de pesquisa
oceanográfica internacional, promover programas de educação, treinamento e
assistência técnica e assegurar que os dados oceanográficos sejam confiáveis e
acessíveis. É composta de 128 Estados Membros, entre eles o Brasil, que é
também membro eleito do Conselho Executivo da COI. Como exemplos dos programas
que a Comissão coordena e promove nas áreas das ciências marinhas e costeiras
podemos citar o Programa do Ecossistema Marinho, o de Gerenciamento Costeiro,
Floração de Algas Nocivas (HAB) e o Censo da Vida Marinha.
O Comitê Científico de Pesquisas Oceânicas (Scientific Committee on Oceanic
Research) –SCOR, do
Conselho Internacional para a Ciência (International
Council for Science) – ICSU funciona através de Grupos de Trabalho (GT) interdisciplinares que analisam aspectos
científicos atuais. Está em discussão a formação de seis novos GTs. Estes
temas, entre eles “Hipoxia natural e
antropogênica e as conseqüências para a áreas costeiras” foram debatidos
recentemente por um grupo de especialistas brasileiros reunidos pelo MCT. O
Brasil, aliás, tem participado ativamente de muitos destes GTs e esperamos que
a nossa comunidade cientifica se envolva cada vez mais promovendo o intercâmbio
e a visibilidade de nossos conhecimentos.
Entre as
novas ações a serem empreendidas pelo MCT/SEPED/CMA está a “Pesquisa e Desenvolvimento em Biotecnologia dos Organismos
Marinhos”, a implementação da Redealgas – Rede de Biotecnologia das Macroalgas
Marinhas e a realização do “Estudo da Estrutura e Funcionamento dos
Ecossistemas Oceânicos e Costeiros”. Para este estudo, previsto no IV Plano
Setorial dos Recursos do Mar da Comissão Interministerial dos Recursos do Mar
(IV PSRM / CIRM) é preciso alavancar uma Proposta Nacional de Trabalho, levantar
os dados pretéritos, realizar Oficinas de Trabalho para sistematização e
padronização de metodologias e prever a realização de Campanhas Oceanográficas
de modo a ampliar, entre outros objetivos, os cenários de impactos
oceanográficos. Para a consolidação
das ações serão necessários recursos financeiros (de
órgãos governamentais; convênios e
parcerias empresariais), recursos materiais (aquisição, manutenção e aparelhamento de navios e laboratórios
oceanográficos) e recursos humanos (adequação e treinamento de RH técnicos e científicos).
Resguardemo-nos
de qualquer desânimo em fase da enorme tarefa com a máxima de Oscar
Wilde: “um mapa do mundo em que não aparece o país Utopia não merece ser
guardado."
(*) Ministério da Ciência e
Tecnologia - MCT / Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e
Desenvolvimento - SEPED / Coordenação para Mar e Antártica - CMA
mmachado@mct.gov.br
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