Divulgação Científica: da Teoria à
Prática
Marcelo Knobel
Professor Associado do Instituto de Física Gleb
Wataghin (IFGW) - UNICAMP
Coordenador do Núcleo de Desenvolvimento da
Criatividade (NUDECRI) - UNICAMP
Editor da sessão Radar da Ciência, da Revista Eletrônica
ComCiência (http: //www.comciencia.br)
Diariamente somos inundados por inúmeras promessas de
curas milagrosas, métodos de leitura ultra-rápidos, dietas infalíveis, riqueza
sem-esforço. Basta abrir o jornal, ver televisão, escutar o rádio, ou simplesmente
abrir a caixa de correio eletrônico. A grande maioria desses milagres
cotidianos são vestidos com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais
rebuscada, aparente comprovação experimental, depoimentos de “renomados”
pesquisadores, utilização em grandes universidades. São casos típicos do que
costuma-se definir como “pseudociência”. A definição de pseudociência é muito
genérica, e pode incluir, além dos poucos exemplos citados, uma miríade de
fenômenos paranormais, sobrenaturais, extrasensoriais, e qualquer conjunto de
procedimentos e “teorias” que tentem se disfarçar como ciência sem realmente
sê-la. A discussão dos limites entre ciência e pseudociência certamente inclui
uma questão mais profunda: o que é ciência? Como defini-la? Esse é um assunto
complexo e delicado, e impossível de tratar em um breve seminário. Entretanto,
vale a pena discutir porque devemos nos preocupar com as pseudociências. Alguns
dos exemplos citados, e os respectivos personagens envolvidos, não passam de
objetos de ironia e diversão para uma camada da população mais instruída.
Aparentemente, não podem causar mais impacto do que simples arranhões à já aparentemente
consolidada imagem da ciência, que é geralmente vista como um pilar firme onde
a sociedade se apóia. Entretanto, vale lembrar que inúmeras vezes a
pseudociência é utilizada com má fé, destinada a usurpar o dinheiro da
população em geral que ingenuamente acredita em evidências casuais, rumores e
anedotas. Esse fato torna-se ainda mais drástico quando essas crenças atingem a
área de saúde, onde o prejuízo financeiro pode vir acompanhado de um
irreparável dano físico e/ou mental.
Neste seminário é apresentada uma breve tentativa de
delimitação do que pode ser considerada pseudociência, lembrando, entretanto,
que os limites muitas vezes são extremamente tênues. Serão dados exemplos de
lendas urbanas que, por caminhos tortuosos, atingiram diretamente um grande
número de pessoas, com o objetivo de ilustrar os potenciais “perigos” das
pseudociências. Serão discutidas algumas possíveis ações de divulgação científica
que os educadores e cientistas podem realizar, sempre recordando que o
importante é estimular, antes de tudo, o pensamento crítico e a discussão.
Finalmente, são mostradas algumas ações que vem sendo realizadas na UNICAMP,
como as atividades do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor),
do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), e a iniciativa recente
de constituir um Museu Exploratório de Ciências.
No caso do Labjor, a espinha dorsal de suas
atividades de ensino e pesquisa é constituída pelo seu programa de jornalismo
científico que oferece, na área, um curso de pós-graduação, lato sensu, em
parceria com outras unidades da Unicamp
e fora dela, e da produção mensal da revista eletrônica ComCiência, de jornalismo e divulgação
científica. O Labjor é, também, o responsável técnico, com sua equipe de
jornalistas e pesquisadores, pela produção editorial da revista Ciência & Cultura - Temas e
Tendências, da SBPC
e da Imesp. Apóia,
institucionalmente, o Observatório
da Imprensa nas suas versões eletrônica e televisiva, além de
abrigar outros projetos de alcance cultural e de interesse científico, como é o
caso do Brasil Pensa veiculado,
durante mais de 6 anos, pela TV Cultura,
e do programa Ponto de Ebulição, produzido em parceria com o Canal Futura da
Fundação Roberto Marinho, em um total de 26 programas. Mais recentemente, o
Labjor é responsável pela produção da revista Uniemp Inovação, além de diversos
outros projetos na área de divulgação científica e cultural.
Outra
experiência interessante da UNICAMP é a constituição de um grupo de trabalho
para pensar e implementar um novo espaço de divulgação científica, um Museu
Exploratório de Ciências. Apesar de ser uma iniciativa ainda nascente, há
diversos aspectos interessantes a serem relatados, no que se refere aos
desafios e dificuldades práticas inerentes da implantação de um projeto dessa
envergadura. Pretende-se discutir exemplos de algumas ações específicas que vem
sendo elaboradas, como é o caso do projeto NanoAventura, e o projeto
TecnoDesafio, considerados os primeiros grandes projetos do Museu de Ciências.
Considerando esse conjunto de ações e exemplos,
contextualizando com o cotidiano e com os desafios a serem enfrentados na
prática da divulgação científica, pretendemos discutir pragmaticamente de que
maneira é efetivamente possível atuar nessa área tão importante para a disseminação
da cultura científica em nosso país.