POR QUE LANÇAR SATÉLITES PARA OBSERVAÇÕES METEOROLÓGICAS ?
Marcelo
de Paula Corrêa
Luiz
Augusto de Toledo Machado
Rodrigo Augusto Ferreira de Souza
Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Rodovia Presidente Dutra km 40 – Cachoeira Paulista – SP – CEP 12630-000
Contato: {mpcorrea, machado, rodrigo}@cptec.inpe.br
Os satélites meteorológicos são
ferramentas imprescindíveis para a meteorologia atual, uma vez que podem extrair dados de altitude e cobrir áreas remotas sobre os oceanos
e continentes, contribuindo decisivamente para uma melhor compreensão e
quantificação de fenômenos e parâmetros relevantes para a previsão do tempo e
clima. Esta função se torna ainda mais importante em um país que carece de uma
rede adequada de coleta de dados e de observação convencionais. Para suprir
esta lacuna e atender a crescente demanda, deve-se priorizar o desenvolvimento não apenas técnicas
para extração de informações a partir de dados de satélites meteorológicos, mas
também pesquisas aplicadas, suporte técnico, elaboração de aplicativos e
armazenamento de dados. Estas atividades envolvem o acompanhamento de novas
missões de satélites ambientais visando uma atualização permanente no uso de
novos sensores e na análise de oportunidades em missões nacionais e
estrangeiras. Toda esta atividade é de fundamental importância para o
monitoramento de tempo e do clima e na assimilação em modelos de previsão
numérica de tempo. Por outro lado, também contribuem tanto para fortalecer a
autonomia nacional no domínio de técnicas espaciais de observação do meio
ambiente, como para fornecer diversos serviços de utilidade pública.
De modo a responder a pergunta
formulada no título deste trabalho, uma série de produtos derivados de
observações de satélites tem sido desenvolvida por pesquisadores brasileiros e
será apresentada a seguir. Para melhor compreensão do leitor a apresentação
será dividida em três principais linhas de pesquisa: a) Radiação no Sistema Terra-atmosfera, atividades dedicadas ao estudo
de fenômenos radiativos, que são de fundamental importância para o apoio
conceitual e numérico às outras linhas de pesquisa. A partir do estudo da
intensidade da radiação emergente do planeta e de suas características
espectrais é possível avaliar propriedades atmosféricas, tais como a
distribuição vertical de temperatura e de umidade, concentração de gases e
aerossóis, tipos e propriedades de nuvens, estado e fluxos radiativos à
superfície; b) Teledetecção da Atmosfera,
linha que se dedica à pesquisa e ao desenvolvimento de métodos de detecção
satelital para gerar ferramentas para monitoramento da atmosfera em tempo real,
com produção de dados para assimilação em modelos de previsão numérica e para
uso imediato em defesa civil, gerenciamento de bacias hidrográficas, geração e
distribuição de energia elétrica, entre outros; e c) Teledetecção da Superfície, que se concentra no monitoramento de
fenômenos ambientais naturais (temperatura continental e do mar; estado da
vegetação natural, umidade do solo, dentre outros) e antropogênicos (queimadas,
desmatamento) de impacto direto em áreas como defesa civil, agricultura, pesca
e gerenciamento de recursos hídricos. Estes dados também são de grande valor para
se avaliar a interação superfície-atmosfera, sendo assimilados em modelos de
previsão numérica de tempo e clima.
Deve-se destacar que a utilização de
satélites meteorológicos depende de uma análise preliminar para se determinar
qual o satélite e o sensor mais adequados, levando-se em conta a sua resolução
espacial, temporal e espectral. Para tanto, os pesquisadores contam com um
amplo conjunto de dados coletados de diversos satélites, entre eles os da
família GOES, EUMETSAT, NOAA e EOS. Além da utilização destes dados como base
de informações para as atividades de previsão e análise do tempo e do clima,
uma variedade de produtos baseados nas três linhas de pesquisa apresentadas
acima resultam, atualmente, em uma fonte de informação útil à sociedade e às outras
atividades relacionadas à meteorologia e meio-ambiente. Como exemplo, a tabela
1 ilustra os produtos desenvolvidos pela Divisão de Satélites e Sistemas
Ambientais (DSA) do Centro de Previsão de Tempo e
Estudos Climáticos (CPTEC) atualmente disponíveis no endereço eletrônico (http: //satelite.cptec.inpe.br).
Radiação |
Radiação solar e terrestre |
|
Índice ultravioleta (IUV) |
||
Classificação de nuvens |
||
Teledetecção da superfície |
Queimadas |
|
Índice de vegetação |
||
Temperatura da superfície do mar (TSM) |
||
Coleta de dados (PCDs) |
||
Teledetecção da atmosfera |
Sondagens atmosféricas |
Vento |
Sistema convectivo e tempestades |
Atraso zenital troposférico |
|
Precipitação |
Temperatura de brilho |
|
Nevoeiro |
Produtos MODIS |
|
Tabela 1: Produtos operacionais desenvolvidos na DSA |
Os produtos citados como exemplo fazem
parte de um intenso esforço em pesquisa e desenvolvimento. A atualização e
renovação destes produtos são sempre consideradas como meta do grupo de
trabalho, refletindo-se em um número representativo de publicações científicas,
formação de pessoal capacitado e colaborações, além de convênios e intercâmbios
técnicos e científicos com diferentes instituições nacionais e estrangeiras. Atualmente
se encontra em andamento uma série de projetos financiados pela iniciativa
privada e por instituições de fomento à pesquisa, como a CAPES, o CNPq e a
FAPESP. Tais projetos envolvem estudos em diferentes áreas, como o monitoramento
e estimativa de queimadas, estudos sobre precipitação, efeitos geográficos,
atmosféricos e temporais sobre fluxos de radiação UV, umidade do solo,
concentração de aerossóis e gases minoritários, dentre outros. Além destes
pontos positivos em relação ao desenvolvimento científico e tecnológico
brasileiro, destacam-se também fatores importantes para a economia do país,
tais como mostram os seguintes exemplos:
a)
Levando-se em conta o Produto
Agrícola do Brasil, da ordem de US$ 40 bilhões/ano, e tomando-se o percentual
de 5% (estimativa do aumento da produtividade devido o uso de previsões
meteorológicas diárias), ter-se-ia o valor de US$ 2 bilhões, para o benefício,
apenas no que diz respeito à agricultura.
b)
Estima-se que a manutenção de todo o
sistema meteorológico do Brasil, demandaria a quantia de US$ 40 milhões por
ano, dos quais US$ 10 milhões para investimentos e U$ 30 milhões para custeio.
Resultando em um Custo / Beneficio = 2 bi/ 40 mi = 1/50.
c)
Estudo feito pela NOAA/NESDIS
calcula que aproximadamente 20% da economia americana é sensível às condições
do tempo. Por exemplo, na aviação comercial as condições do tempo são
responsáveis por aproximadamente 2/3 dos atrasos nos vôos ao custo de U$ 4
bilhões anualmente, sendo US$ 1,7 bilhões evitáveis.
d)
Estudo da EUMETSAT concluiu que a
introdução de dados do satélite geoestacionário METEOSAT nos modelos de previsão
numérica de tempo melhorou as previsões na ordem de 15 %. O impacto da
introdução de dados de satélite nos processos na América do Sul são ainda mais
significativos.
Os pontos apontados neste
trabalho dão ao leitor material suficiente para avaliar a importância dos
satélites ambientais para a meteorologia, e os benefícios de suas utilizações
para os setores econômico e social do país, tais como a saúde, a agricultura,
os transportes, as telecomunicações, a energia, assim como o próprio gerenciamento
de políticas públicas. Investimentos neste setor são necessários e devem ser
incentivados, pois a relação entre custo e benefícios à sociedade é altamente
positiva. A apresentação deste seminário na 57ª Reunião da SBPC visa à
descrição detalhada de todos estes aspectos.