José Raimundo Braga Coelho
O meio ambiente terrestre enfrenta variações contínuas em
função do processo de evolução natural e de fatores provenientes das atividades
humanas. A utilização de técnicas de
observação em escalas temporais e espaciais diversas permite a melhor
compreensão do inter-relacionamento dos fenômenos causadores dessas variações.
A utilização de satélites artificiais é o mecanismo mais eficiente e econômico
para a coleta de dados necessários ao monitoramento desses fenômenos,
principalmente em países de grande extensão territorial.
Em 1988, os Governos do Brasil e da China firmaram um acordo
para o desenvolvimento conjunto de satélites avançados de observação da Terra,
denominados CBERS (China Brasil Earth Resource Satellites).
O compartilhamento da capacidade técnica e dos recursos
financeiros dos dois países permitiu o desenvolvimento de um sistema completo
de observação da Terra, competitivo, compatível com o padrão de exigência
internacional e com algumas funções voltadas especificamente às necessidades
dos dois países.
O engajamento do país no CBERS marcou o início de uma nova
etapa para o programa espacial brasileiro – o Brasil passou à condição
privilegiada de fornecedor de imagens de satélites.
A conjuntura envolvendo a idéia da cooperação era muito
favorável. A caminhada da China rumo ao exterior, de onde havia se isolado por
um longo período, encontrava um Brasil aberto ensaiando passos para uma
organização madura e consistente na área de Ciência e Tecnologia, com a
criação de um Ministério para cuidar
especificamente dessa área.
Semelhança e convergência adicionavam-se à complementaridade
– fator preponderante ao sucesso de empreendimentos em parceria. Em sua
bagagem, a China carregava realizações de considerável envergadura com a
colocação em órbitas distintas de vários satélites utilizando bases e veículos próprios
de lançamento.
Em contrapartida, o Brasil vivia momentos de rara
expectativa em razão dos avanços obtidos em seu programa de desenvolvimento de
satélites, no contexto da denominada Missão Espacial Completa Brasileira
(MECB). Por outro lado, dispunha de
maior familiaridade e tradição em eletrônica
sofisticada, recursos humanos treinados em países desenvolvidos, maior familiaridade
com a complexidade da gestão de grandes projetos, parque industrial moderno e
principalmente um domínio muito superior na utilização de metodologias
envolvendo imagens de satélites de sensoriamento remoto.
Paralelo a isso, a cooperação entre os dois países
significava um esforço singular entre dois países em desenvolvimento no sentido
de romper o bloqueio erigido pelas nações mais avançadas ao desenvolvimento das
chamadas tecnologias sensíveis.
Os dois primeiros satélites foram lançados, com sucesso, em
1999 e 2003, respectivamente. Estão previstos, para a nova fase da cooperação,
os lançamentos de mais três satélites – CBERS 2b, CBERS 3 e CBERS 4.