EVOLUÇÃO
RECENTE DA CIÊNCIA NO BRASIL E DE SEU SISTEMA DE APOIO
Gerhard Malnic
Instituto de Ciências
Biomédicas, USP. Presidente, FESBE
O progresso
da ciência no Brasil pode ser medido através da produção de trabalhos científicos,
a partir de bases de dados como as do ISI, Institute for Scientific
Information, de Philadelphia, EUA. Há levantamentos disponíveis através do SCI,
Science Citation Index, onde a produção científica é apresentada para o mundo
todo e por países ao longo dos anos, podendo-se obter dados objetivos a
respeito da evolução da produção científica do Brasil e compará-la com aquela
de outros países. Deve-se levar em conta, no entanto, que estes levantamentos
não abrangem toda a ciência brasileira, mas sòmente certas áreas e sòmente
revistas internacionais consideradas de boa qualidade pelo ISI. Iremos
considerar a área de Ciências Exatas, Biológicas e da Saúde, área na qual a
produção científica brasileira atingiu bom nível de qualidade e que por isto está
bastante internacionalizada em termos de publicação. Portanto, nesta área é
possível usar esta base de dados para avaliar a evolução de nossa produção
científica. Quando se analisa estes dados, verifica-se que é admirável o
crescimento da nossa produção científica nos últimos anos, indo de 1,1 para
1,5% da produção mundial total em 4 anos (1998 a 2002). Esta é uma proporção
(elevação de 36%) maior que aquela da grande maioria dos demais países, é claro
que em parte devida à baixa base da qual partimos. A média mundial de elevação
da produção científica no mesmo período é de 8,7%. Para comparação, é
interessante mencionar também que a produção brasileira era de 0,2% da mundial
em 1981, e de 0,7% no período de 1995 – 1997. Neste trabalho iremos discutir alguns
fatos paralelos a este progresso, com base em dados levantados pelo grupo de
infra-estrutura da SBPC, e dados disponíveis nos sítios do MCT, CNPq e FAPESP.
Iremos também comparar estes dados à evolução da disponibilidade de apoio à
ciência brasileira por parte das agências de apoio, federais e estaduais, em
termos de bolsas e de verbas de fomento.
Uma
boa medida do tamanho da ciência no Brasil, além da produção científica da área
de exatas e biológicas, é avaliar o número de grupos de pesquisa existentes no
país, com base em levantamento do MCT/CNPq, número que tem se elevado
significativamente entre 1997 e 2003. Uma das áreas que teve maior aumento
destes grupos é a da Saúde, que foi de 79% no período. Mas o setor de humanas
praticamente duplicou seus grupos de pesquisa no mesmo período. Entrando em
maiores detalhes, verifica-se elevação do numero de grupos de pesquisa neste
período nas seguintes áreas: Computação
133%, Ecologia 126%, Genética 67%, Bioquímica 59%, e Física 57% . Como parte
destes números pode se dever ao maior conhecimento pesquisadores brasileiros a
respeito da possibilidade de cração de grupos de pesquisa, é interessante
também usar dados independentes como a
formação de doutores nas diferentes áreas. Não há dúvida que de uma maneira
geral o número de doutores nas Universidades brasileiras como um todo aumentou
consideravelmente: entre 1997 e 2003 este número se elevou de cerca de 25.000
para 45.000, isto é, de 80%, principalmente nas Universidades públicas, mas
também em privadas. Em termos de titulação de doutores, temos em Física
elevação da formação entre 1997 e 2003 de 45 % (145 para 210 doutores formados
nestes anos), 88 % em Bioquímica (85 para 160) e 128 % em Ecologia (46 para
105), as áreas de maior crescimento. É claro que há áreas menos privilegiadas,
como a de Matemática, com elevação no mesmo período de 42 % (45 para 64). Este
aumento do número de doutores nas Universidades e sua formação incrementada vai
contribuir novos pesquisadores à Ciência nacional. Certamente estes dados
refletem a vitalidade da Ciência brasileira nos últimos anos.
E
o apoio a esta Ciência, por organismos públicos nacionais ou estaduais, explica
esta marcada elevação de produtividade, e de atração de jovens aos
laboratórios? Os gastos totais de pesquisa
e desenvolvimento (P&D) no Estado de São Paulo foram de 2,29 bilhões de
reais em 1998, e 2,5 bi em 2002, portanto um aumento de 9,2%. Destes gastos, o
Estado foi responsável por 1.32 vs. 1,55 bilhões de reais (elevação de 17,4%),
e a Federação por 0,95 vs 1,0 bi, aproximadamente, um aumento de 5,3%. Quando
se analisa o número de bolsas do sistema federal, mas também da FAPESP, pouco
aumento houve entre 1997 e 2003, com algma recuperação em 2004, o mesmo
acontecendo com as verbas de fomento. Em termos de bolsas federais (Capes +
CNPq) o incremento de bolsas foi de 8,9% entre 1995 e 2004, enquanto a elevação
de alunos matriculados na pós-graduação no país todo foi de 79,8% no mesmo
período. Quanto à FAPESP, houve, após a crise do dólar (desvalorização do Real)
em 1999, uma redução do número de bolsas distribuídas, mas o fomento se manteve
em um nível razoável, se bem que também sem crescimento expressivo. Este quadro
mostra que, apesar do apoio limitado das agências à pesquisa científica, houve
expressivo desenvolvimento da Ciência brasileira no fim do século passado e
início deste. Até o momento houve progresso científico dentro deste quadro. No
entanto, de um lado o progresso poderia ser bem maior se houvesse apoio
proporcional ao crescimento, e de outro, é difícil saber até quando o observado
crescimento da nossa Ciência poderá se manter nestas condições.