AMAZÔNIA AZUL E ANTÁRTICA
CMG (RM1-TTC) Geraldo Gondim Juaçaba
Filho
Secretaria da Comissão Interministerial para
os Recursos do Mar
A Comissão Interministerial para
os Recursos do Mar (CIRM) foi criada pelo Decreto n° 74.557,
de 12 de setembro de 1974, no contexto das discussões sobre o Direito do Mar
nas Conferências das Nações Unidas, com a finalidade de coordenar os assuntos
relativos à consecução da Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM).
A CIRM é um órgão colegiado
coordenado pelo Comandante da Marinha e constituído por representantes dos
seguintes Ministérios e Instituições:
·
Casa Civil da Presidência da República
·
Ministério da Defesa
·
Ministério das Relações Exteriores
·
Ministério dos Transportes
·
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
·
Ministério da Educação
·
Ministério do Desenvolvimento, da
Indústria e do Comércio Exterior
·
Ministério de Minas e Energia
·
Ministério da Ciência e Tecnologia
·
Ministério do Meio Ambiente
·
Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão
·
Ministério do Esporte
·
Ministério do Turismo
·
Secretaria Especial de Aqüicultura e
Pesca
·
Comando da Marinha
A PNRM, aprovada em 1980, foi
sendo consolidada por Planos e Programas plurianuais e anuais decorrentes,
elaborados pela CIRM, que obtiveram excelentes resultados.
São Planos integrantes:
·
O Plano de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC);
·
O Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM): e
·
O Plana Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC).
O Plano de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC) iniciou
seus trabalhos de campo para estabelecer o limite exterior da nossa Plataforma
Continental no seu enfoque jurídico, além das 200 milhas, em junho de 1987, de
acordo com os critérios estabelecidos pelo Art. 76 da Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), celebrada em Montego Bay, em 10 de
dezembro de 1982,
Durante toda a fase de aquisição
de dados, que terminou em 1996, foram coletados cerca de 230.000 km de perfis
geofísicos (sísmicos, batimétricos, magnetométricos e gravimétricos) ao longo
de toda a extensão da margem continental brasileira.
Com a
conclusão do LEPLAC, a Proposta Brasileira de Limites da Plataforma Continental
foi protocolada, no dia 17 de maio de 2004, na Comissão de Limites da Plataforma
Continental da ONU. Nesta Proposta, o Brasil incorpora 911.847 km2
ao seu território, totalizando 4.451.766 km2 de Plataforma
Continental Jurídica Brasileira, uma área equivalente a 52% de sua extensão
terrestre, considerada a nossa “Amazônia Azul”, legado de fundamental importância para o futuro das próximas
gerações de brasileiros.
O Plano
Setorial para os Recursos do Mar (PSRM), teve a sua sexta versão
aprovada, recentemente, pela CIRM. Com a finalidade de conhecer e avaliar as
potencialidades do mar e de monitorar os recursos vivos e não-vivos e os
fenômenos oceanográficos e climatológicos das áreas marinhas sob jurisdição e
de interesse nacional, visando à gestão e ao uso sustentável desses recursos, e
à distribuição justa e eqüitativa dos benefícios.
O PSRM desdobra-se em diversos Programas.
O Programa de Avaliação do Potencial Sustentável de
Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE), resulta
de compromisso internacional assumido pelo Brasil ao ratificar, em 1988, a
CNUDM.
O REVIZEE tem como
objetivo principal proceder ao levantamento dos potenciais sustentáveis de
captura dos recursos vivos na nossa Zona Econômica Exclusiva (ZEE), que se
estende desde o limite exterior do Mar Territorial, de 12 milhas de largura,
até 200 milhas náuticas da costa.
A fase operacional do
REVIZEE começou no segundo semestre de 1995 e, após a sua conclusão, prevista
para o final de 2005, espera-se que as seguintes metas sejam alcançadas:
·
Inventariar os recursos vivos na ZEE e as características
ambientais de sua ocorrência;
·
Determinar suas biomassas; e
·
Estabelecer os potenciais de captura sustentável.
Os
resultados alcançados pelo REVIZEE já permitem o acesso ao conhecimento
integrado dos recursos vivos do mar. Sua conclusão contribuirá para o
ordenamento do setor pesqueiro do País, assegurando o aproveitamento sustentável
dos recursos vivos da ZEE, contribuindo para o aumento da produção de alimentos
e a geração de emprego e renda, em especial com a inclusão social das
comunidades de pesca artesanal, além da necessária conservação dos ecossistemas
marinhos, beneficiando, assim, toda a sociedade brasileira.
O
Programa-Piloto para o Sistema Global de Observação dos Oceanos (GOOS/BRASIL), aprovado
pela CIRM em novembro de 1995, desenvolve atividades de monitoramento
oceanográfico e climatológico no Atlântico Sul e Tropical.
O
lançamento de bóias fixas e de deriva pelo Programa Nacional de Bóias (PNBOIA),
parte operacional do GOOS/BRASIL, tem propiciado a produção de conhecimento e
contribuído para o fornecimento de previsões oceanográficas, climatológicas e
meteorológicas indispensáveis aos processos decisórios sobre a utilização
eficaz dos recursos do mar.
O
PNBOIA, desde o início de suas atividades, lançou 40 bóias de deriva, das quais
10 estão em funcionamento, e 2 bóias fixas. Os dados coletados pelas bóias são
transmitidos em tempo real, via satélite, para os órgãos responsáveis pela
previsão meteorológica e a comunidade científica.
Outro
componente da rede de monitoramento é o Pilot Research Moored Array in the
Tropical Atlantic (PIRATA), programa tripartite entre Brasil, Estados Unidos e
França. O PIRATA fundeou no Atlântico Tropical 12 bóias fixas, em profundidades
de aproximadamente 5000 metros, para a coleta de dados oceanográficos e
meteorológicos, importantes para a previsão de anomalias climáticas nas regiões
norte e nordeste do País.
O
Programa GOOS/BRASIL vislumbra, no futuro, o estabelecimento de redes de
monitoramento oceanográfico e climatológico ao longo da costa brasileira.
Dentre elas podemos destacar: a rede de bóias fixas e de deriva; a rede de
medição do nível médio do mar; e a rede de estações meteorológicas automáticas.
A implementação destes artefatos
de coleta de dados possibilitará a melhoria da previsão climática das secas e
inundações no nordeste, sul e sudeste brasileiro e da previsão meteorológica
marinha; a determinação dos índices de precipitação pluviométrica; o
monitoramento do nível médio do mar; a previsão da propagação de ondas em águas
rasas, fundamental para a determinação das taxas de erosão e acumulação em
segmentos costeiros com tendência à instabilidade morfológica; e a obtenção de
dados oceanográficos, climáticos e meteorológicos, em geral, para fim de
pesquisa e estudo.
O Programa
Arquipélago, aprovado pela CIRM em dezembro de 1996, consolidou a
habitação permanente do Arquipélago de São Pedro e São Paulo com o
estabelecimento de uma Estação Científica, em junho de 1998, e a realização de
mais de 190 expedições científicas, dedicada à execução sistemática e contínua
dessas atividades, em diversas áreas de conhecimento das ciências do mar, como
geologia e geofísica, biologia, recursos pesqueiros, oceanografia e
meteorologia.
Tal fato amparou a decisão do Presidente da República de
aprovar o estabelecimento de Zona Econômica Exclusiva (ZEE) em torno do
Arquipélago de São Pedro e São Paulo, uma região com significativa importância
estratégica, por ser o único conjunto de ilhas oceânicas brasileiras no
hemisfério norte e por estar localizada na rota de peixes de comportamento migratório,
que percorrem diversos oceanos e com alto valor econômico.
O Programa Arquipélago é um exemplo de abnegação
levado a efeito pela comunidade científica que desenvolve seus projetos naquela
inóspita região e por aqueles que realizam e colaboram com as atividades de
manutenção da Estação Científica, que representa o marco da presença da
bandeira nacional, no ponto mais afastado do litoral nordeste do Brasil.
Programa
de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica
Brasileira (REMPLAC) foi criado pela CIRM, em dezembro de 1997, para dar
continuidade aos levantamentos já efetuados nos cerca de 4,2 milhões de km2
de plataforma continental jurídica. Essa ação é necessária em face do
nível de conhecimento adquirido desta região ser insuficiente para uma
avaliação mais precisa dos recursos naturais não vivos e dos processos
geológicos atuantes, dificultando o estabelecimento de políticas governamentais
relativas à utilização de seus recursos.
O Programa REMPLAC tem os seguintes objetivos
específicos:
·
Efetuar o levantamento geológico-geofísico básico
sistemático da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (PCJB); e
·
Efetuar, em escala apropriada, levantamentos
geológicos-geofísicos em sítios de interesse geoeconômico-ambiental identificados
na PCJB, visando avaliar a sua potencialidade mineral.
A geração de dados geológicos básicos é missão do Estado e é
fundamental para o planejamento territorial e para a formulação e implementação
de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável dos recursos
minerais, petrolíferos e hídricos do País.
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) foi
instituído pela Lei n° 7661/88,
no âmbito da CIRM e vinculado ao PNRM, com o propósito de orientar a utilização
racional dos recursos na Zona Costeira, de forma a contribuir para elevar a
qualidade de vida da sua população, e a proteção do seu patrimônio natural,
histórico, étnico e cultural.
Para operacionalizar o PNGC
foi criado o Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO), em
dezembro de 1996, pela CIRM, para promover a articulação das ações federais
incidentes na zona costeira, a partir da aprovação de planos de ação federal.
Nesse sentido, já foram aprovados e estão sendo implementados:
·
O Plano de Ação Federal para a Zona Costeira (PAFZC);
·
A Agenda Ambiental Portuária;
·
O Programa Nacional de Capacitação Ambiental Portuária
(PNCAP);
·
O Projeto Orla; e
·
O PROGRAMA TRAIN-SEA-COAST (TSC – BR).
O Programa de Mentalidade Marítima
(PROMAR) foi criado pela CIRM, em 1997, com a finalidade de estimular, por meio de ações planejadas,
objetivas e continuadas o desenvolvimento de uma mentalidade marítima na
população brasileira, consentânea com os interesses nacionais.
Desde a sua criação, diversas ações têm sido implementadas pela Secretaria da CIRM, com o apoio da Marinha, em diversas cidades do País. Dentre elas podemos destacar
:
·
Cursos de Mentalidade Marítima para crianças carentes do
ensino fundamental;
·
Desenvolvimento do Projeto Navegar, Ministério do Esporte;
·
Exposições itinerantes;
·
Palestras em Universidades, Institutos de Pesquisa, Escolas
Públicas, para membros dos poderes constituídos e outros;
·
Apoio a grupos de escoteiros do mar; e
·
Apoio a museus do mar.
Além desses planos e programas derivados da PNRM, a
CIRM implementa, também, desde janeiro de 1982, o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), que se baseia na Política
Nacional para Assuntos Antárticos (POLANTAR).
O Brasil aderiu ao Tratado da Antártica, em 16 de
maio de 1975, e foi admitido como Membro Consultivo do Tratado, com direito a
voz e voto, a partir de 12 de setembro de 1983, após a realização da primeira
Operação Antártica e ter demonstrado o firme propósito de ampliar suas
pesquisas no continente gelado, inclusive com a instalação de uma estação
brasileira.
A Estação
Antártica Comandante Ferraz (EACF), inaugurada em 1984, com oito módulos e com
capacidade para hospedar 12 pessoas, por 32 dias, hoje, conta com mais de 63
módulos, totaliza 2.340 m2 de área, pode acolher até 48 pessoas e
propicia o desenvolvimento de mais de 25 projetos de pesquisa.
O PROANTAR
conta, ainda, com:
§
o Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel”, apoiando à
pesquisa a bordo, nos refúgios e em acampamentos, além de efetuar o
reabastecendo da EACF;
§
a Força Aérea Brasileira (FAB) realizando sete vôos, anuais,
de apoio às Operações Antárticas, transportando pesquisadores, material e
suprimentos;
§
a Estação de Apoio Antártico (ESANTAR), localizada na
Fundação Universidade Federal do Rio Grande, guardando e mantendo as roupas
especiais, materiais e equipamentos de todos que trabalham na Antártica, no
PROANTAR;
§
a doação, pela Petrobrás, de todos os combustíveis
utilizados pela EACF, navios, helicópteros, aeronaves e embarcações que
participam das Operações Antárticas;
§
o Ministério das Relações Exteriores, responsável pela
POLANTAR, conduzindo a atuação internacional do Brasil no âmbito do Tratado da
Antártica;
§
o Ministério de Ciência e Tecnologia definindo a política
científica, sempre que possível, adequando a pesquisa brasileira às diretrizes
do Comitê Científico sobre Pesquisas Antárticas (SCAR);
§
o Ministério do Meio Ambiente garantindo que as atividades
brasileiras provoquem o mínimo impacto possível na região antártica; e
§
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) coordenando e financiando a execução das pesquisas
realizadas por universidades e outras instituições, além da formação de
pesquisadores com conhecimento antártico.
Desde a criação do
PROANTAR, mais de 2200 pesquisadores e militares já desenvolveram atividades na
Antártica.
Todo esse esforço é
justificado pela importância estratégica que a Antártica tem para o País, além
de permitir que o Brasil participe das decisões sobre o destino do único
continente sem divisão geopolítica, com uma massa continental de mais de 14
milhões de km², onde se concentra cerca de 70% da água potável da Terra,
guarda, sob espessas camadas de gelo, inesgotáveis recursos minerais e exerce
forte influência sobre o nosso território.