AGRONOMIA DE PLANTAS MEDICINAIS

 

Francisco Celio Maia Chaves1

 

 

O extrativismo vegetal é considerado uma prática de obtenção de matéria-prima pouco eficiente em relação à qualidade desta, assim como causadora de degradação ambiental, levando à perdas de material genético. Por outro lado, o cultivo permite a escolha de matrizes, que passando pelas etapas de  plantio, manejo, colheita, secagem, armazenamento e extração, facilitam o controle de qualidade do produto, o que é um dos alicerces do setor produtivo. Este setor se ressente muito com estes problemas, pois o fato da matéria-prima já chegar à indústria com a qualidade comprometida, implica em perdas significativas por parte das empresas, principalmente no Setor de Bioativos.  Em muitos casos os produtos oriundos destes processos industriais são a base para a fabricação de alimentos, fitoterápicos e fitocosméticos, e requer tanto critério quanto, por exemplo, o setor da saúde. Através do cultivo com bases sustentáveis, muitas vantagens podem advir tais como a fixação do homem no campo, a oferta de matéria-prima de qualidade, a agregação de valor aos produtos oriundos dessa atividade, assim como a melhoria da condição de vida das populações do interior, evitando desta forma o êxodo rural em direção às cidades, principalmente as capitais, que já se encontram com uma população acima do normal. Estudos afirmam que através de técnicas de cultivo adequadas é possível a oferta de matéria-prima de plantas medicinais, aromáticas e condimentares de qualidade ao longo do ano. A matéria-prima assim deve receber avaliação fitoquímica, ou seja, o acompanhamento das variações químicas que ocorrem ao longo do desenvolvimento das mesmas, pois alguns dos princípios ativos mais importantes  para o setor são derivados do metabolismo secundário, que está sob a interferência dos fatores bióticos e abióticos. O cultivo de plantas medicinais no Estado do Amazonas se encontra em estágios iniciais, existindo uma lacuna neste setor. Considerando toda a riqueza em espécies com potencial de uso medicinal, aromático e cosmético, se faz mister que sejam implementadas rapidamente ações visando solucionar esse problema, pois o extrativismo em si não é capaz de oferecer em quantidade e qualidade matéria-prima para as indústrias, quer sejam de base familiar, quer sejam de outro porte. A Embrapa Amazônia Ocidental vem trabalhado atualmente com algumas espécies medicinais. Entre elas temos a sacaca (Croton cajucara Benth.), a sacaquinha (Croton sacaquinha Croizat), o crajiru (Arrabidaea chica Verlot.), a caapeba (Pothomorphe peltata Miq.), a pimenta de macacao (Piper aduncum L.). Estes estudos iniciaram-se na caracterizações botânica, química e genética, avançaram para a área de métodos de propagação e estamos agora cultivando em campo em relação às respostas de espaçamento, época de colheita, de plantio, adubação, secagem, dentre outras, mas com o acompanhamento fitoquímico. Outras espécies também estão no processo de cultivo, como a unha de gato (Uncaria guianensis e U. tomentosa) e a caferana (Picrolemma sprucei). A partir do conhecimento gerado e da viabilização comercial, será implementada a produção junto a comunidades agrícolas, repassando as tecnologias desenvolvidas, o fornecimento de mudas e a garantia de compra da produção, fortalecendo desta forma a cadeia produtiva, promovendo a inclusão social e geração de renda.

 

 

 

 

 

 

 

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