AVALIAÇÃO DE ACESSIBILIDADE EM ESCOLAS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Eduardo José Manzini –
Unesp, Marília - SP
As condições de acessibilidade em ambientes físicos
tais como escolas, teatros, universidades e demais logradouros públicos podem
facilitar, em muito, para que a inclusão social ocorra. No meio escolar, nos
deparamos com muitas escolas que ainda não estão adaptadas para receberem
alunos com necessidades especiais, principalmente quando temos em foco alunos
com deficiência física. Infelizmente, as adaptações do ambiente físico, na
escola de ensino fundamental – um dos primeiros níveis de acesso à
escolarização formal – são pouco conhecidas. Também pouca informação a escola
de ensino fundamental tem sobre o que significa desenho universal. Dessa forma,
no planejamento para reformas, questões de acessibilidade não são tocadas.
Nesse contexto, o diagnóstico das condições de acessibilidade não ocorre por
falta de informação e, também, por falta de instrumentos de medidas que possam
diagnosticar e, ao mesmo tempo, indicar possíveis mudanças na estrutura
arquitetônica escolar de forma a melhorar as condições de acessibilidade
existentes. Para auxiliar nessa tarefa, construímos um protocolo para avaliação
da acessibilidade física, que foi objeto de um estudo de mestrado (AUDI, 2004).
Os princípios norteadores para o desenvolvimento do protocolo foram: 1) ser
auto-explicativo, não necessitando de manual para aplicação; 2) ser de fácil
preenchimento e, assim, ser possível a aplicação por profissionais não
especialistas; 3) permitir a reprodução, em preto e branco, por meio de cópias
xerográficas; e 4) possibilitar o diagnóstico das condições de acessibilidade
física e, ao mesmo tempo, proporcionar indicações de alterações a serem
realizadas. O desenvolvimento do instrumento foi executado em cinco fases. Na
primeira, foi realizada uma apreensão do ambiente físico escolar, ou seja, a
identificação da composição e das configurações espaciais da escola de ensino
fundamental. Isso foi possível por meio da análise de projetos de escolas
disponíveis na Secretaria de Educação Estadual de São Paulo, Diretoria de
Ensino da Região de Marília e em bibliografia específica. Assim, foram
analisados espaços como recepção de alunos, salas de aulas, biblioteca, dentre
outros. Observações in lócus foram
realizadas a fim de fotografar esses espaços e seus componentes, como
bebedouros, escadas, corrimãos, degraus. As fotos foram transformadas em
desenhos com caneta nanquim em papel vegetal, pois o intuito seria que o
material pudesse se reproduzido em cópias em preto e branco. O estudo inicial
permitiu verificar que as composições e configurações dos espaços escolares
eram muito parecidas. A partir dessa primeira análise, foi composta uma
primeira versão do protocolo que trazia os vários itens que deveriam ser
avaliados em um ambiente escolar. Iniciou-se, então, a segunda fase, na qual o
protocolo foi julgado por arquitetos. A primeira versão trazia uma
representação bidimensional, ou seja, muito parecida com os desenhos
apresentados pela norma técnica NBR 9050/94. A sugestão dos juízes foi
transformar os desenhos para uma reprodução tridimensional, o que deveria
permitir uma melhor iconicidade dos itens¸ como portas, itens relacionados aos
banheiros, diversidade de tipos de degraus. Na terceira fase, designada como
experimental, foi realizada a aplicação-teste do protocolo. Quatro avaliadores,
alunos do curso de pedagogia da Unesp, aplicaram o protocolo em três diferentes
escolas. Assim, para cada escola havia quatro avaliações a serem analisadas,
cujo intuito era verificar a interpretação dada frente aos itens reais
(degraus, portas, pisos, etc) e os correspondentes desenhos apresentados, bem
como identificar as dificuldades encontradas. Os critérios utilizados para
selecionar as escolas, no qual o protocolo seria aplicado, foram: 1) escolas
municipais e estaduais de ensino fundamental, de 1ª a 4ª séries da cidade de
Marília; 2) data da construção do prédio anterior a 1996, pois, de acordo com a
LDB (1996), as escolas construídas após essa data deveriam atender aos
requisitos de acessibilidade; 3) ocupação do solo com pavimentos diferenciados,
para que a amostra representasse vários tipos de configurações espaciais; 4)
escolas que possuíam alunos com deficiência matriculados, cuja hipótese era a de
que, talvez, algumas mudanças arquitetônicas pudessem ter ocorrido. Os
avaliadores não tiveram contato em si durante aplicação, pois a avaliação foi
realizada em dias e horários diferentes para cada escola. Nesta fase
experimental, em que o protocolo foi testado, analisaram-se os registros
através de cálculos de índices de concordância, entre pesquisadora e juízes,
para verificar se os desenhos demonstravam com objetividade os enunciados. Para
analisar as dificuldades de aplicação, uma reunião em grupo, com todos os
avaliadores, foi marcada na qual foram discutidas questões relacionadas à
interpretação dos desenhos, bem como as dificuldades encontradas. A reunião foi
gravada e uma análise da fala indicou os itens do protocolo que deveriam ser
reformulados. A quarta fase do desenvolvimento do protocolo culminou com a
revisão conceitual do instrumento. Pelas informações fornecidas pelos juízes
pôde-se constatar que o instrumento utilizado avaliava itens como degraus,
portas, banheiros, mas essa avaliação ainda ocorria de forma seccionada, ou
seja, não era possível uma análise mais integrada dos espaços. A solução
encontrada foi fazer uma análise baseada em rotas ou caminhos que eram
percorridas pelos usuários: 1) entrada da escola para a sala de aulas; 2) sala
de aulas para refeitório; 3) sala de aulas para diretoria; 4) sala de aulas
para banheiros; 5) salas de aulas para secretaria; 6) salas de aulas para
biblioteca; 7) sala de aulas para quadra esportiva/piscina. Com essa revisão
conceitual, para cada rota, eram avaliados os itens como portas, degraus,
corrimões, rampas, dentre outros. A partir do redirecionamento conceitual, foi
possível avaliar a acessibilidade de cada uma das rotas da escola. A quinta
fase correspondeu à validação do protocolo, ou seja, se ele poderia ser
sensível para medir as diferenças de acessibilidade entre as rotas e entre as
escolas. Para isso, desenvolveu-se um escalonamento da acessibilidade, por meio
da somatória de pontos (BUNCHAFT e CAVAS, 2002), na qual cada elemento arquitetônico
avaliado recebeu um valor numérico. Para avaliar o escalonamento, o protocolo
foi aplicado nas três escolas anteriormente citadas, designadas como escola A,
B, C e elegeu-se uma quarta escola D, que devido a sua história de atendimento
a alunos com deficiência física, havia sido arquitetonicamente adaptada. Os
resultados desta aplicação foram discutidos através das seguintes comparações:
as somatórias dos pontos acumulados com as características dos elementos
arquitetônicos, em cada rota de acesso ou caminho nas escolas A, B, C e D; as
somatórias dos pontos obtidos em todas as rotas, com as configurações espaciais
das escolas. O escalonamento permitiu observar quais os elementos que atuavam
como diferenciadores da acessibilidade em escolas. Assim, foi possível
estabelecer parâmetros de comparação de acessibilidade entre as escolas
avaliadas. Verificou-se que o protocolo é sensível para medir a acessibilidade
em escolas com configurações espaciais diferenciadas e que através da pontuação
obtida em cada elemento arquitetônico fornece-se feedback, sobre a acessibilidade existente, ao usuário do
protocolo.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Adequação das edificações e do mobiliário
urbano à pessoa deficiente. Rio
de Janeiro: ABNT, 1994.
AUDI, E. M. M. Protocolo para avaliação da
acessibilidade física e escolas de ensino fundamental. 2004. 228f. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Unesp, Marília.
BRASIL Lei nº 9.394 de 20/12/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília/DF.
Diário Oficial da União, nº. 248, de 23/12/1996.
BUNCHAFT, G, CAVAS, C.S. Sob
Medida: um guia sobre a elaboração de medidas do comportamento e suas
aplicações, São Paulo: Vetor, 2002.