DESIGNAÇÃO
E SIGNIFICAÇÃO DO REAL:
DISPUTA
ATUAL NA MÚSICA BRASILEIRA
Eduardo Guimarães
DL – IEL/ Labeurb
Unicamp
Nosso objetivo é analisar uma disputa de sentidos que
podemos encontrar na música popular brasileira. Para isso tomaremos duas ordens
de questão. De um lado o modo de os grupos sociais diversos se nomearem e
nomearem os outros e as coisas. De outro lado analisaremos as designações que
significam o lugar do homem e da mulher nas suas relações afetivas. Este embate
se dá na divisão dos lugares sociais de sujeito nestas letras.
Só
para dar um exemplo, observe-se como, na lírica masculina do Funk, encontramos
um conjunto de designações como “quentinha” e “lanchinho da madrugada” funcionando
em expressões referencias para referir a parceira. De um lugar oposto a este, o
do lugar social da lírica feminina, encontramos uma designação como “cachorra”,
presente em expressões referenciais significando positivamente a propósito da
mulher. “cachorra”, assim, passa de um sentido geral de falta “de caráter e de
vergonha”, para um sentido positivo, como forma de se designar como amante.
Evidentemente que a disputa de sentidos que aí se dá não é tão simples como o
exemplo acima pode levar a entender. Trata-se de uma disputa muito mais
complexa. É uma política dos sentidos sendo construída no interior de uma
prática de linguagem muito específica, uma certa lírica musical.
Partimos da
posição de que designar é um processo simbólico pelo qual a prática de
linguagem significa o mundo, por recortá-lo. A designação é assim um processo
enunciativo pelo qual falantes de uma língua, ao ocupar lugares sociais
distintos na cena enunciativa, apropriam-se do real enquanto significado pelo
próprio exercício da fala. Deste modo os nomes que designam são modos de
identificar o real e o sujeito, segundo esta partilha do mundo pela linguagem.
Partindo
desta posição, e tomando como instrumento de análise específico a noção de
domínio semântico de determinação (DSD), procuraremos analisar a disputa de
sentidos que podemos encontrar nas letras de música do Funk e do Hip Hop, por
exemplo. Esta partilha se faz, de um lado, entre os lugares da “periferia” e do
“centro” e, de outro, neste espaço da periferia, entre os lugares de locutor do
homem e da mulher de modo bastante diverso. Pode-se acompanhar como a
identificação da mulher e do homem se constróem de modo diverso em cada caso e
como há diretamente uma embate entre estes processos de identificação que o
trabalho das designações mostra.