A NOÇÃO DE
EMPRÉSTIMO E A POLÍTICA DAS LÍNGUAS
Eduardo Guimarães
DL-IEL/Labeurb
Unicamp
As
relações históricas entre grupos sociais diversos é pensada a partir de
conceitos e noções como contato, interferência, cruzamento, empréstimo e outros
termos. Esta última noção é de grande circulação nos estudos de linguagem.
Nosso objetivo neste trabalho é refletir sobre um ponto preciso da histórica
deste conceito na lingüística brasileira. Tomamos como momento de observação a
produção da lingüística brasileira das décadas de 1950 e 1960, dado seu caráter
fundamental no debate que levou ao desenvolvimento posterior da lingüística, a
partir da década de 1970.
Como
semanticista, e como interessado na história das idéias lingüísticas, vamos
observar o funcionamento deste termo na produção de dois lingüistas desta
época, Serafim da Silva Neto e Joaquim Mattoso Câmara Júnior. Procuraremos ver,
pela constituição da designação deste termo no pensamento de cada autor, como
esta aparência de uma neutralidade do termo significa em cada caso. Partimos de
um ponto muito particular, o fato de que a noção de empréstimo é usada, com
freqüência, e talvez predominantemente, para falar da entrada de formas de uma
língua na outra, notadamente no percurso orientado politicamente, no espaço de
enunciação das línguas consideradas, da língua de minoria para a língua
dominante.
Por
esta via, esperamos poder refletir, de modo mais específico, sobre o modo como
a lingüística brasileira tem tratado a questão da política de línguas, ou seja,
do embate entre as línguas, no decorrer de nossa história, marcada por um
universo claramente multilingüe.