O PAPEL DO CGEE NO FORTALECIMENTO DOS PROCESSOS DE GOVERNANÇA EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
DALCI MARIA DOS SANTOS e MARCIO DE MIRANDA SANTOS
Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos (CGEE)
O Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos (CGEE) é uma associação civil, sem fins lucrativos,
criada em setembro de 2001 durante a II Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação (II CNCTI), organizada pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia e pela Academia Brasileira de Ciências. Representa uma inovação institucional no sistema nacional de
ciência, tecnologia e inovação, que visa tornar permanente, como processo, a
mobilização de competências que a II CNCTI realizou como evento. De forma
similar ao que se passa em muitos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a
criação do CGEE decorre da necessidade de se informar adequadamente a tomada de
decisão quanto às possibilidades futuras da ciência e da tecnologia para
promoção do desenvolvimento econômico e social. O modelo adotado pelo CGEE para
condução de estudos de futuro leva em conta questões relativas à aplicação
conjunta dos conceitos de governança participativa, engajamento social e foresight. Esta opção se justifica pelo
reconhecimento (1) do fortalecimento da democracia como valor fundamental das
sociedades modernas, (2) da centralidade do conhecimento no enfrentamento da
crescente complexidade dos desafios submetidos aos governantes, (3) da dinâmica
acelerada de mudanças no padrão de comportamento dos cidadãos e (4) da
imprevisibilidade relacionada com ocorrências futuras, questões que apontam
para o exercício de modelos de governança centrados na sistematização e análise
da informação, na permanente mobilização e envolvimento dos principais atores
sociais e na capacidade de gestão de processos de inteligência antecipatória.
Na sociedade do conhecimento, a governança, para ser eficaz, deve garantir que
os cidadãos sejam capazes de fazer escolhas baseadas em informações sobre as
opções disponíveis. Neste sentido, as estruturas e a qualidade da governança
são determinantes críticas (1) da coesão ou do conflito social, (2) do sucesso
ou da falha no desenvolvimento econômico, (3) da preservação ou da deterioração
do meio ambiente, (4) do desenvolvimento responsável da ciência e da
tecnologia, bem como do (5) respeito ou violação dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais. Entre as
forças direcionadoras da moderna governança destacam-se: a consolidação da democracia;
a importância crescente dos fluxos de bens, capital, idéias e do conhecimento
tácito na promoção da inovação; a necessidade de processos de decisão baseados
em informação de qualidade, analisada e tratada de acordo com as necessidades e
disponibilizada em momento oportuno; a crescente preocupação com os impactos da
tecnologia no futuro da humanidade e no meio ambiente; e a importância da
transparência e da eficiência dos processos de macro coordenação. Além disso, a sistematização dos processos de
antecipar tendências de futuro como diferencial de governança faz com que esta
seja menos dependente de fatos passados e, cada vez mais, orientada para o
futuro. Considerando tais questões, o modelo teórico elaborado no CGEE para
orientar as ações de prospecção em ciência, tecnologia e inovação foi concebido
a partir de elementos constantes na estrutura metodológica proposta por Horton
(1999). A este modelo foram agregadas idéias e orientações obtidas a partir dos
trabalhos de Conway e Voros (2002), Keenam (2002), do Handbook of Knowledge Society Foresight (2002), do FOREN (2001),
entre outros. Cabe também ressaltar a incorporação de elementos advindos de
relatos de experiências sendo conduzidas ao redor do mundo com grande
diversidade de aplicações e usos de diferentes abordagens e metodologias. (Karube,
2001; Slaughter, 2002; Mjwara, 2001; Jeradechakul, 2003). Desafios para implementação de novos
processos de governança e de apoio à tomada de decisão dizem respeito à cada
vez maior complexidade, incerteza e ambigüidade de temas e questões; à
necessidade de lidar com tempos diferenciados para a tomada de decisão, o que
muito freqüentemente estabelece conflitos entre a urgência da decisão e o tempo
requerido para que sejam identificadas as alternativas; à quebra de barreiras
culturais que impedem ou dificultam os processos mais inclusivos e, finalmente;
à transformação de opções estratégicas em ações concretas. Ademais, a
declaração do Milênio das Nações Unidas indica que a criação de um ambiente
indutor de desenvolvimento e de eliminação de pobreza depende, dentre outros
fatores, de uma boa governança dentro de cada país e no nível internacional,
entre outros aspectos. O trabalho do CGEE em apoio a governança do sistema
nacional de ciência, tecnologia e inovação prioriza o planejamento e a execução
de uma ampla gama de atividades que visam estudar o futuro da ciência e da
tecnologia e seu impacto em vários setores da economia e da sociedade em geral.
Os estudos de futuro conduzidos pelo CGEE são, tipicamente, organizados de
forma a, para cada tema, questão ou setor em análise (1) levantar e
sistematizar a informação disponível; (2) identificar e analisar tendências e
sinais, especular sobre o futuro e debater aspectos relevantes com a
participação de representantes das comunidades científica, empresarial e de
governo, bem como de representantes da sociedade civil; e (3) apresentar
alternativas de encaminhamento para tomadores de decisão. Neste processo, grande importância é dada às
relações inter-pessoais e à valorização de produtos intangíveis, ambos obtidos
por meio de técnicas presenciais de análise e debate, no entendimento de que a
inovação é um processo social complexo altamente dependente da criação de
oportunidades para a interação entre
seus principais agentes. Adicionalmente, mapear a controvérsia e pontos de
dissenso é tão ou mais importante do que a busca do consenso no que se refere
ao tipo de produto que se pretende obter. Resultados obtidos pelo CGEE nas
áreas biotecnologia, nanotecnologia, mudanças do clima, recursos hídricos,
energia, biocombustíveis, fármacos e medicamentos, entre outros, uma vez
apropriados na forma de programas, legislações e mecanismos de fomento a
C,T&I, indicam a importância de se conduzir, de forma permanente e institucionalizada,
estudos de futuro no apoio a uma governança informada e responsável.