CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O BRASIL

 

ANA MARIA FERNANDES

(UnB)

 

O desenvolvimento de qualquer país pressupõe educação, treinamento,  avanços científicos, tecnológicos e inovações, atualmente, num ritmo muito  veloz. Escolarização da população e uma cultura que valorize o conhecimento científico são elementos importantes na criação de um ambiente inovador e que estimule avanços científicos e tecnológicos.

 

No Brasil falhamos em promover a escolaridade primária e secundária  da população,  e o cultivo de uma cultura científica vem avançando  muito lentamente, competindo com interpretações muito diversas e mais populares. O analfabetismo, a baixa escolaridade, a grande desigualdade social, salarial e econômica são elementos que não contribuem para o florescimento nem da cultura científica nem da cultura  humanística. A educação é importante não só na disseminação de conhecimentos como também de uma ética, importante para a organização da vida pública e empresarial. A ética na política possibilita que pessoas privadas busquem a realização de objetivos públicos, tais como o desenvolvimento de um país e o bem-estar da maioria. Importantes elementos para o processo de desenvolvimento de uma nação são instituições adequadas nas várias esferas, e uma base ética e educacional do capital humano.

 

Entretanto, as questões do desenvolvimento, da vocação do país, se agrária ou industrial, sempre estiveram em pauta. Até mesmo as questões da importância da ciência e tecnologia e, recentemente, da inovação, têm estado em debate. Debate este, que foi estimulado  pelos cientistas e institucionalizado através da criação da Academia Brasileira de Ciências (1916)  e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1948), entre outras associações científicas.

 

 Alguns governos implantaram projetos desenvolvimentistas, alguns de largo espectro, que acabaram sendo inovadores e duradouros. Foram sendo moldados os  dois ou mais Brasis, que convivem atualmente, não sem conflitos. O Brasil produz e exporta aviões, é quase auto-suficiente na produção de petróleo, com tecnologia  de exploração em águas profundas, e  está presenciando uma alta produtividade na agricultura, graças a anos de investimentos em pesquisa  e desenvolvimento neste setor. Mas, do outro lado da moeda, uma  significativa parcela da população não tem acesso a alimentação,  educação, saúde, moradia e convive com altos índices de violência e criminalidade.

Os investimentos em ciência e tecnologia (C&T) no Brasil tem sido realizados principalmente pelo governo federal, sem grande participação dos governos estaduais e das empresas. Com exceção do estado de São Paulo, só recentemente outros governos estaduais passaram a investir em C&T, a criar secretarias nesta área e fundações de amparo à pesquisa. O investimento da indústria em pesquisa e desenvolvimento (P&D)  também é bastante recente. O conceito de inovação só foi incorporado nas políticas oficiais nos últimos cinco anos, assim como a idéia de que ela é realizada na indústria. 

 

Adotamos, por várias décadas,  o modelo linear de desenvolvimento científico desenvolvido por V. Bush nos anos quarenta nos Estados Unidos. Mas copiamos de forma superficial o modelo, pois nos EUA, a universidade, a pós-graduação e a pesquisa foram desenvolvidas fortemente articuladas com a indústria e com os problemas regionais. No Brasil, talvez por economia de esforços e pela facilidade de exercer um controle centralizado, todas  as universidades têm a mesma proposta, os mesmos cursos, sem nenhuma preocupação com problemas regionais ou locais e sem muita vinculação com os setores produtivos. A universidade também não se massificou, como ocorreu mundialmente, nos anos sessenta. A universidade brasileira absorve uma parcela pequena dos jovens com possibilidade de ingresso, sendo assim uma universidade elitizada, e quase 80%  dos universitários freqüentam estabelecimentos privados.

 

Um mercado interno potencial relativamente grande, ausência de concorrência, e políticas voltadas para dentro, exportando apenas produtos agrícolas, talvez não tenha estimulado  a competitividade e a inovação nas empresas. Problemas de marco institucional também dificultam investimentos em P&D, tais como instabilidade, juros altos, ausência de financiamentos, principalmente de capital de risco, falta de infra-estrutura,  e outras dificuldades para exportar.

 

Procura-se, novamente, criar uma cultura de desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação no país, face aos novos desafios da economia mundial e  dos novos padrões de competitividade mundial. Os Fundos Setoriais, 14 deles já em funcionamento, e com fontes de receita próprias, trouxeram promessas de estabilidade do financiamento,   recursos novos para o sistema e um novo modelo de gestão. Importante também realçar que eles estão ligados a setores específicos como petróleo, mineração, telecomunicações, o que colocaria a possibilidade de avanços tecnológicos nestas áreas.

 

Infelizmente, em poucos anos já foram contingenciados R$ 2,8 bilhões, frustrando as expectativas e quebrando a confiança,  principalmente, da comunidade científica e tecnológica e das empresas. Em 1999 só o Fundo do Petróleo dispunha de recursos, e em 2000, apenas 4 Fundos Setoriais.  Por outro lado e positivamente,  foi elaborada uma política industrial que selecionou quatro setores estratégicos, semicondutores,  software, fármacos e  medicamentos e bens de capital, indicando um planejamento a médio prazo  e o objetivo de desenvolver setores avançados em tecnologia.  O que se pergunta é: será ela implementada, haverá recursos e continuidade?  O importante é que se bem buscado a ampliação de investimentos do setor privado em C&T e inovação. Importante também seria a transição de um Estado executor de P&D para um Estado organizador do sistema de ciência, tecnologia e inovação, procurando criar ou transformar os processos de aprendizagem e de criação de recursos em todos os níveis (empresas, setores, região e país).

 

Atualmente  o desenvolvimento econômico, social e até mesmo político de uma nação está fortemente vinculado ao avanço da C&T e inovação e não há um único modelo a ser seguido, nem é possível replicar modelos bem sucedidos de países avançados. A trajetória brasileira de busca de desenvolvimento através da C&T e da inovação conta com  algum sucesso, que necessita ser ampliado, e   tem sido marcada por movimentos de uma gangorra, talvez por não ter sido incorporada como algo relevante e arcar com a grande dívida do analfabetismo e do setor educacional deficitário desde o ensino primário.