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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
BIOLOGIA POPULACIONAL DE Dilocarcinus pagei STIMPSON, 1861, (DECAPODA, TRICHODACTYLIDAE)
Cynthia de Barros Mansur 1   (autor)   cynthiamansur@uol.com.br
Fernando Aparecido de Morais Ortiz 3   (colaborador)   fernando.ortiz@universiabrasil.net
Jorge Alberto de Souza 3   (colaborador)   beico1984@bol.com.br
Vitor Simão Galletti 3   (colaborador)   vitorsg@universiabrasil.net
Nilton José Hebling 2   (orientador)   depzoo@unesp.rc.br
1. Profa. Dra. do Gaslab/ CPBio - UEMS - Dourados, MS
2. Prof. Dr. do Depto de Zoologia, IB, Unesp, Rio Claro, SP
3. Graduandos - Bolsistas de Iniciação Científica / UEMS, Dourados, MS
INTRODUÇÃO:
Os caranguejos de água doce constituem um grupo relativamente pouco estudado, sobretudo em seus aspectos biológicos, ecológicos e biogeográficos. As poucas publicações relacionadas as suas espécies referem-se à sistemática e à fisiologia, com raríssimas informações sobre a biologia reprodutiva, hábitos alimentares, estrutura populacional, crescimento relativo, e taxa de crescimento. Alguns caranguejos de água doce são muito abundantes no Brasil, particularmente na região do Pantanal Matogrossense, onde indivíduos jovens e adultos de algumas espécies, principalmente Dilocarcinus pagei Stimpson, 1861 (Trichodactylidae) são muito utilizados como isca viva para pescarias. A captura e comercialização dessas espécies constituem fonte de renda para muitas pessoas. A coleta é feita manualmente e/ou com a utilização de peneiras passadas e batidas nas raízes dos aguapés (Eichornia spp). No Rio Paraguai, essa espécie encontra-se associada, sobretudo aos aguapés, mais precisamente às suas raízes. Estas plantas aquáticas fornecem abrigo e alimento para caranguejos, camarões e peixes, jovens e adultos, além de insetos e outros animais de menor porte. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é caracterizar a estrutura das populações de D. pagei e S. australis no que diz respeito ao período de recrutamento, razão sexual, composição das populações e variação dessa composição ao longo dos dois anos de amostragem.
METODOLOGIA:
As amostragens foram realizadas mensalmente, no Rio Paraguai, município de Porto Murtinho, MS, Brasil, entre as coordenadas 21º 42,000'S 57º33,649'W e 21º41,449'S 57º33,770'W, no período de abril de 1999 a março de 2001. A captura de D. pagei foi feita com a utilização de peneiras retangulares, de 1,5 a 2,0 metros de comprimento por 0,8 a 1,0 metro de largura, passadas por baixo das raízes das macrófitas aquáticas e levantadas para fora da água. Os caranguejos foram selecionados e os demais animais, devolvidos para a água. A captura de S. australis foi realizada manualmente nas galerias que estes animais escavam nas barrancas do rio. Todos os indivíduos coletados foram acondicionados em sacos plásticos devidamente etiquetados, transportados para o laboratório em caixas térmicas e então congelados. Posteriormente foram obtidas as seguintes variáveis de cada indivíduo: largura da carapaça (LC), sexo, estágio de maturação morfológica, estágio de muda. Os indivíduos foram agrupados por categoria de interesse: machos, fêmeas, fêmeas ovígeras e com juvenis no abdômen. O número de indivíduos, bem como a freqüência dos mesmos em cada categoria, foi calculado. Foram determinadas 24 classes de tamanho, com intervalo de 2 mm, tomando como base a largura da carapaça, abrangendo a amplitude de 8,0 a 55,9 mmLC. Foram estabelecidas as proporções sexuais e utilizou-se o teste do qui-quadrado (c2) para verificar se a mesma difere da proporção de 1:1.
RESULTADOS:
Durante o período de amostragem foram capturados 3564 indivíduos de D. pagei, sendo 50,6% de machos, 47,1% de fêmeas e 2,3% de fêmeas ovígeras e com juvenis no abdômen. De S. australis foram capturados 683 indivíduos, sendo 25,6% de machos, 63,5% de fêmeas e 10,8% de fêmeas ovígeras e com juvenis no abdômen. A razão sexual calculada para D. pagei foi de 1:1 em ambos os anos. Para S. australis, no primeiro ano, a razão sexual foi de 1:4,47 e no segundo ano, de 1:3,94, com diferenças significativas ao nível de 5%. Fêmeas ovígeras de D. pagei foram encontradas nos meses de novembro a março, caracterizando o período reprodutivo para esta espécie. As maiores quantidades de adultos foram registradas durante os meses de agosto a janeiro. A partir de dezembro o número de adultos diminui e volta a aparecer uma grande quantidade de jovens, sobretudo entre os meses de dezembro a abril, indicando o período de recrutamento para a espécie. Para S. australis não foi possível evidenciar um padrão claro de distribuição e recrutamento, em função da impossibilidade de coleta, em alguns meses do ano. O período reprodutivo foi bem caracterizado nos meses de dezembro a fevereiro, com os jovens aparecendo logo em seguida, a partir de maio. Durante os meses de dezembro a março houve uma grande ocorrência de jovens, com os picos a partir de maio. Apesar da inviabilidade de realização de coletas em todos os meses, é possível verificar o deslocamento das modas.
CONCLUSÕES:
A caracterização estrutural de populações constitui informação fundamental para medidas que visem à manutenção dos recursos naturais. Uma população possui várias características ou propriedades exclusivas do grupo, que não são atributos dos organismos isoladamente, entre elas, densidade, natalidade, mortalidade, distribuição etária, potencial biótico, dispersão, recrutamento e forma de crescimento que, agrupadas, regem a dinâmica de uma população natural. Além disso, apresentam comportamento dinâmico, mudando continuamente com o tempo. Nas espécies que habitam o Pantanal existem alguns fatores como a pluviosidade que interferem diretamente na distribuição das espécies, afetando, inclusive o período reprodutivo, que coincide com a época de chuva. A ausência de S. australis durante alguns meses do ano, coincide com o período de cheia na região do Rio Paraguai, onde as águas cobrem os barrancos e a captura desta espécie se torna impraticável. As mudanças no tamanho de uma população implicam em complexas questões ecológicas, as quais podem ser melhor compreendidas investigando relações espécies-hábitat e interações intra e interespecíficas. Um aspecto importante de uma estrutura de população é sua distribuição por idade ou tamanho, indicando as proporções de seus membros ao longo de cada classe de idade, sendo utilizadas para estimar a intensidade e o período de recrutamento juvenil, que podem explicar variações sazonais em seu tamanho.
Palavras-chave:  Biologia populacional; Decapoda; Pantanal Sul-Matogrossense.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004