| G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia | | EXCLUSÃO SOCIAL E BAIXA AUTO-ESTIMA: ESTIGMA DA POBREZA E A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA EXISTENTES EM BAIRRO POPULAR | | Maria Aparecida Chaves Jardim 1, 3 (orientador) majardim@yahoo.com.br | Daniela B. Oliveira 2 (co-orientador) dani_scar@hotmail.com | Marina Sartore 2 (autor) marina_sartore@hotmail.com | Savio Garcez Moraes 4 (autor) savi002@yahoo.com.br | Clayton Marques 5 (autor) | Sarah Oliveira Lollato 6 (autor) sarahlollato@ig.com.br | Viviane Bassi 7 (autor) | Marcelo Augusto Daga 3 (autor) |
| 1. Programa de Pos-Graduacao em Ciencias sociais, Universidade Federal de Sao Carlos - UFSCar | 2. Programa de Pos-Graduacao em Engenharia de Producao, Universidade Federal de Sao Carlos - UFSCar | 3. Faculdade de Administracao de Monte Alto - FAN | 4. Departamento de Letras, Universidade Federal de Sao Carlos, UFSCar | 5. Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Sao Carlos, UFSCar | 6. Departamento de Psicologia, Instituto Taquaritiquense de Ensino Superior, ITES | 7. Departamento de Ciencias Sociais, Universidade Federal de Sao Carlos, UFSCar |
| | INTRODUÇÃO: Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratória desenvolvida em um bairro popular da cidade de São Carlos/SP, na qual buscamos identificar os motivos que influenciam na baixa auto-estima dos moradores e na ausência de identidade com o bairro. O interesse por este bairro surgiu do diagnóstico “Condições de vida e pobreza em São Carlos: uma abordagem multidisciplinar (1994) realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Documentação do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar, cujos indicadores sociais apontavam este bairro como um dos mais carentes em relação à educação, saúde, segurança, renda familiar e inserção no mercado de trabalho. | | METODOLOGIA: Essa Pesquisa Exploratória apoia-se na abordagem Qualitativa e tem como técnica de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, conversas informais e observação participante, visando aprofundamento dos dados. Nossa amostra foi composta por 13 membros da Associação de Moradores do Bairro e 30 adolescentes. A escolha pelos membros da Associação justifica-se por se tratar da entidade representativa dos moradores. A escolha pelos adolescentes deve-se a estes estarem vivendo o momento de elaboração da identidade.
Junto aos membros da Associação buscamos detectar o sentimento de identidade com o bairro, seu envolvimento com os problemas do bairro, a motivação no encaminhamento das demandas dos moradores, o espírito de liderança, bem como o espírito de grupo que estabelecem com o bairro; Junto aos adolescentes - 12 a 16 anos -, buscamos avaliar a auto-identidade e a relação e o sentimento de pertencimento que estabelecem com o bairro. Visando um primeiro contato com moradores de outros bairros da cidade, e observar o que pensam do bairro Cidade Aracy, realizamos entrevistamos com 1 motorista de ônibus, 1 cobrador de ônibus, 1 taxista, 5 representantes de comércio e 2 empresários da cidade. | | RESULTADOS: Detectamos que a baixa auto-estima dos moradores do bairro Cidade Aracy, relaciona-se não somente a desigualdade social e econômica a que estão submetidos, mas à questões culturais, ou seja, o estigma da pobreza, que trás consigo o estigma da marginalidade. Este estigma é fomentado pela imprensa, que correlaciona de forma direta as variáveis pobreza e marginalidade, quando divulga de forma sensacionalista atos de violência e “condutas sociais desviantes” .
Este estigma, faz com que as empresas locais privilegiam trabalhadores não-oriundas deste bairro; que motoristas, taxistas e cobradores trabalhem aterrorizados; que moradores do bairro não consigam crédito no comércio; e por último, que professores não trabalhem no bairro no horário noturno, privando jovens e adolescentes do direito ao acesso à escola.
Assim, morar no bairro Cidade Aracy constitui uma grande barreira social, especialmente junto aos adolescentes, que vivem momentos de conflitos e incertezas, próprios da idade. Precisam se auto-afirmar, ganhar visibilidade social, mas não querem sua história pessoal relacionada à história do bairro. Por isso, negam a identidade e o sentimento de pertencimento com o bairro. Por outro lado, a Associação de moradores não tem claro seu papel de ator coletivo, não possui espírito de liderança e não é capaz de diagnosticar demandar e encaminhá-las aos órgãos competentes. Além disso, sofrem pela falta de visibilidade junto aos moradores, que não a legitima como representante do grupo, e não a vê com capacidade de atuar em nome do bairro. | | CONCLUSÕES: Devido ao quadro de estigma social existente no bairro, os moradores negam a identidade de morador da periferia urbana de São Carlos, negando da mesma forma sua própria identidade, sua história e o sentimento de pertencimento com o bairro. Isso fica evidente quando incorporam o discurso de dominado e o reproduzem nas suas ações sociais. Esse fenômeno de incorporação da inferioridade, é denominado de violência simbólica (Bourdieu, 1989). A violência simbólica - que é simbólica porque acontece de forma invisível e dissimulada - leva os moradores a legitimarem a posição de dominados, compartilhando o discurso dominante em torno do estigma do bairro. Essa violência ocorre claramente, quando, por vergonha, omitem o endereço, tornando-se cúmplices da situação; quando desvalorizam, no plano discursivo, a partir de piadas e comentários pejorativos, o bairro e seus moradores; por fim, a violência simbólica ocorre, na sua prática social cotidiana, quando incorporam o discurso de marginalizado e se acomodam ao quadro social existente. | | Instituição de fomento: PUC/Rio | | | | Palavras-chave: bairro; estigma; violencia simbolica. |
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Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |