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A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
O ENSINO DE FÍSICA SOB A ÓTICA DOS DISCENTES EM INSTITUIÇÕES NA GRANDE ARACAJU: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS
Marcos Antonio Correia Silva 1   (autor)   macslsl@hotmail.com
Paulo Heimar Souto 2   (orientador)   pauloheimar@infonet.com.br
1. Depto. de Física, Universidade Federal de Sergipe - UFS
2. Depto. de Educação, Universidade Federal de Sergipe - UFS
INTRODUÇÃO:
Todo ato educativo deve formar o cidadão, dando-lhe a capacidade de se tornar governante, isto é, de ser pessoa capaz de pensar, estudar, dirigir e controlar quem dirige (Rodrigues, 2001). O Ensino de Física ainda é em muitas escolas, tratado de forma tradicional, excludente e distante dos princípios da Cidadania. Freqüentemente, o atual ensino preza pelo ato de memorizar, apresentando temas desvinculados da realidade do aluno. Em contrapartida, feitas as investigações, abstrações e generalizações potencializadas pelo saber da Física, em sua dimensão conceitual, o conhecimento volta-se novamente para os fenômenos significativos ou objetos tecnológicos de interesse, agora com um novo olhar (Brasil, 1998). Os extensos programas de vestibulares dificultam a prática das propostas contidas nos PCN’s, sobretudo pela quantidade de aulas semanais disponibilizadas, formação e condições de trabalho dos docentes. As próprias questões contidas nas provas dos vestibulares priorizam o caráter decorativo, pela repetição de cálculos, ao invés da assimilação pela compreensão. Embora haja enorme esforço e dedicação de vários candidatos em aprender Física para obter sucesso na disputa por uma vaga na universidade, em geral, aqueles que optam por carreiras não-científicas pouco retêm desse conhecimento (Pietrocola, 2001). Assim, neste trabalho, objetivamos diagnosticar à luz dos discentes, as concepções, e perspectivas acerca do ensino de Física em suas escolas, assim como oferecer sugestões.
METODOLOGIA:
Aplicamos 88 questionários de forma aleatória, dos quais 31 foram respondidos por alunos de escola privada, em igual quantia em colégio público estadual e os demais, num estabelecimento da rede federal. De acordo com a seqüência de aplicação dos questionários, o primeiro foi executado em uma entidade de ensino privado, sendo esta instituição uma das poucas do setor a não nos impedir de desenvolver a pesquisa. Desse modo, o trabalho investigativo foi desenvolvido em três colégios com alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Em duas escolas os questionários foram aplicados no turno matutino enquanto que, na rede pública estadual, foi aplicado no turno vespertino. A pesquisa foi desenvolvida no Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus (CASCJ), localizado no centro da capital sergipana; no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva (CEPCS), localizado na zona leste de Aracaju e, da rede federal, no Colégio de Aplicação (CODAP), localizado no Campus da Universidade Federal de Sergipe, no município de São Cristóvão. Após a tabulação dos dados foi possível verificar algumas hipóteses e constatar outras situações que nos surpreenderam. A partir desse momento, ampliamos o levantamento do referencial bibliográfico e constatamos que a literatura nacional voltada a esse propósito é exígua, frente às discussões relativas ao ensino de Física. Assim, buscamos outros referenciais teóricos que nos deram subsídios para a composição desse trabalho.
RESULTADOS:
Quanto à importância do ensino de Física na vida dos discentes, constatamos um maior grau de consciência nos alunos da rede privada (93,55%), enquanto que, nas demais escolas pesquisadas, apresentaram índices inferiores: CODAP (38,46%) e no CEPCS (29,03%). Com relação à concepção do ensino de Física possibilitar o exercício do raciocínio e/ou da memorização, verificou-se um maior direcionamento de respostas para a prática do raciocínio na instituição pública estadual (51,61%) e no estabelecimento particular (45,16%), ao passo que, no Colégio de Aplicação, foi apontado por 50% dos alunos, que o ensino de Física é mnemônico, dificultando assim a compreensão desta disciplina. Verificamos que a idéia da aplicabilidade é tão relevante para o alunato que, nas sugestões para a melhoria do ensino de Física a maior incidência apontou para a realização de aulas experimentais e/ou atividades extraclasse: 67,74% dos estudantes do Colégio Arquidiocesano 34,62% do CODAP e 29,03% do colégio público estadual, enfatizando dessa maneira, o desgaste que é exercitar a abstração por si só como meio de transmissão do conhecimento. Uma outra sugestão dada pelos alunos fez referência ao tempo dispensado na transmissão dos conteúdos, em que eles argumentam ser bastante curto em muitos assuntos. Isso nos remete a outro problema, que é o da adequação do extenso currículo de Física exigido pelos vestibulares às propostas elencadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais.
CONCLUSÕES:
A qualidade dos conteúdos ministrados pelo professor pode ser comprometida devido à extensa grade curricular cobrada pelos vestibulares. O ensino de Física deve estar voltado para o concreto e servir de aplicação na sociedade. Observou-se neste trabalho que, em parte, os PCN’s estão sendo cumpridos no tocante à contextualização dos conhecimentos físicos, embora as instituições públicas pesquisadas tenham obtido índices menos significativos. Notou-se também que a reivindicação por aulas experimentais é bastante assídua. Adequar o ensino de Física aos PCN’s e aos concursos vestibulares consiste em uma tarefa bastante árdua no atual contexto brasileiro. Insistir em manter o paradigma tradicional é priorizar a alienação e a distorção do real sentido do ensino de Física. Nossas escolas treinam e desenvolvem muito mais as faculdades sentantes que as faculdades pensantes de nossos alunos. Treinamos e formamos sentistas, de tanto sentar e ouvir, sem agir (Caniato, 1987). Podemos estar distantes da educação ideal, contudo precisamos encontrar alternativas cujas práticas contribuam para a melhoria do ensino de Física. Entendemos que a formação adequada e qualificada do profissional da educação; o redirecionamento dos instrumentos avaliativos das instituições superiores; e, uma urgente revisão do papel social das instituições escolares, bem como dos seus atores, constituem peças de fundamental importância para a construção de uma sociedade mais cidadã e de melhor qualidade educacional.
Instituição de fomento: Universidade Federal de Sergipe
Palavras-chave:  Ensino de Física; Discentes; Vestibular.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004