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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
DITADURA MILITAR NO BRASIL: UM ESTUDO ACERCA DA MEMÓRIA E IDENTIDADE DE MILITANTES ESTUDANTIS UNIVERSITÁRIOS
Larissa Raposo Diniz 1   (autor)   laralaracg@hotmail.com
Thelma Maria Grisi Velôso 1   (orientador)   thelma.veloso@ig.com.br
1. Depto. de Psicologia, Universidade Estadual da Paraíba - UEPB
INTRODUÇÃO:
Antes do Golpe de 1964, quando João Goulart era ainda Presidente da República, os estudantes eram uma das categorias que mais pressionavam o governo para realizar as reformas sociais a que se propunha. Por esse motivo, eram vistos pelos militares como um grupo identificado com a esquerda, portanto comunista, subversivo e desordeiro. Dessa forma, após a tomada do poder pelos militares, teve início uma perseguição sistemática a esses estudantes. Considerando o período da Ditadura Militar no Brasil como um dos mais importantes para a história nacional, e os estudantes como uma das personagens principais desse momento, desenvolvemos uma pesquisa que teve como objetivo principal analisar a memória sobre a Ditadura Militar no Brasil, daqueles que militaram no movimento estudantil universitário naquele período, buscando, ainda, refletir sobre a identidade que é veiculada através de suas lembranças. Especificamente, objetivamos identificar a imagem dos governos, dos órgãos de repressão, dos demais militantes e dos partidos expressas através das memórias dos entrevistados. Para tanto, entendemos a memória como uma reconstrução do passado a partir dos valores do presente, e não como uma simples conservação dos fatos vividos (BOSI, 1987). Desse modo, acreditamos estar contribuindo tanto para os estudos desenvolvidos no campo da História Oral, como para os desenvolvidos na área da Psicologia Política, que vem se concretizando, dentro da Psicologia Social, como uma vertente significativa.
METODOLOGIA:
Optamos pela metodologia da História Oral e realizamos uma pesquisa qualitativa, que segundo Minayo (1995, p 21), “se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado”. Realizamos entrevistas de História Oral de Vida, que para Bom Meihy (1994, p. 56) “remete ao registro da experiência pessoal”. Entrevistamos 5 ex-militantes estudantis (3 homens e 2 mulheres) – 2 residem em Campina Grande/PB e 3 em João Pessoa/PB –, com faixa etária de 53 a 58 anos, todos com nível superior de escolarização. Dentre os entrevistados, 4 estiveram presos pelos órgãos de repressão do Regime e sofreram torturas físicas e psicológicas. Optamos por não estipular um número de entrevistas a serem realizadas, pois nos baseamos no critério do "ponto de saturação" proposto por Bertaux (1980 apud LANG; CAMPOS; DEMARTINI, 2001). No entanto, encontramos obstáculos em estabelecer o contato com os militantes e em realizar as entrevistas, pois eles se mostraram bastante resistentes; outros até se negaram a participar da pesquisa. Vale ressaltar que uma das nossas entrevistadas não permitiu que gravássemos a sua entrevista. Com exceção desta, gravamos todas as outras e as transcrevemos na íntegra. Utilizamos também um CD-player para que fosse possível o entrevistando ouvir algumas músicas que foram gravadas em oposição ao Regime, que serviram de recurso “detonador” da memória. Para a análise das entrevistas, utilizamos o método hermenêutico-dialético proposto por Minayo (1992).
RESULTADOS:
Nenhum dos nossos entrevistados fez referência aos cinco militares que se sucederam na Presidência durante o Regime, referindo-se sempre aos “militares”, como se não existissem diferenças entre eles e todos fossem iguais àqueles que os prenderam e torturaram. A imagem dos órgãos de repressão que é veiculada nos seus discursos é a de agressivos, violentos e arbitrários. É compreensível que eles tenham essa representação, afinal eles foram militantes estudantis de esquerda, alguns até comunistas, que era uma categoria considerada inimiga declarada dos militares, portanto, bastante perseguida e torturada. Em relação às lembranças dos militantes, em seus relatos percebemos que eles usaram com freqüência o termo “nós”, especialmente naquelas ações partidárias de reflexão ou de articulação: “nós elaboramos”, “nós discutíamos”, “nós fomos presos”, “nós escapamos. É veiculada, assim, uma imagem de união e solidariedade. Quanto ao partido, os militantes se identificaram com aquele que tinha uma postura prático-ideológica congruente com a sua própria percepção de mundo. Nos seus relatos, eles se mostraram ainda crentes num mundo de igualdades sociais. A identidade que os participantes querem veicular e legitimar nos seus relatos aparece como “fio condutor” das suas narrativas. Assim, como nos adverte Gattaz (1998), cada biografia é a expressão da representação de si mesmo.
CONCLUSÕES:
Mais do que os acontecimentos factuais, estávamos em busca dos significados íntimos e pessoais que os nossos narradores conferiram às suas vivências, considerando esses significados como “o símbolo (...) de uma consciência em busca de sua verdade pessoal, própria” (GUSDORF, 1991 apud GATTAZ, 1998, p. 9). Através das entrevistas de histórias de vida realizadas, podemos perceber que as lembranças mais recorrentes nos discursos dos militantes entrevistados são aquelas que retratam a repressão político-ideológica exercida pelo governo militar. Mas o Regime é representado também como uma época de grandes paixões ideológicas, quando eles se identificam com um grupo partidário de oposição aos militares, e começam uma militância contra a Ditadura. Nas suas narrativas, as lembranças são permeadas por sentimentos de raiva, medo e injustiça; mas também existem saudades dos companheiros de militância e da existência de uma ideologia que dê rumo as suas vidas – algo que hoje, segundo um dos entrevistados, não existe mais no nosso cotidiano. As identidades veiculadas nos seus discursos são influenciadas pelas representações que fazem de si mesmos e pelas imagens de si que quiseram legitimar. Por fim, gostaríamos de ressaltar que, os momentos vividos durante a Ditadura Militar pelos entrevistados, reconstruídos pelas suas lembranças, possibilitaram a expressão de sentimentos, valores e crenças que fazem parte hoje da identidade de cada um deles.
Instituição de fomento: CNPq/PIBIC/UEPB
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Militante Estudantil; Memória; Identidade.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004