Ética na Assistência de Enfermagem

     Vilma Ribeiro da Silva[*]

 

RESUMO

 

A ética como qualquer outro campo do conhecimento vem passando por sucessivas  reformulações, adaptando-se às novas demandas ao longo do processo de desenvolvimento social. Propor uma discussão sobre o tema é sempre um desafio, que se coloca de forma mais evidente quando focamos as questões relacionadas à saúde. E aqui temos que colocar a saúde como “Bem Supremo”, valor de referência para julgamento das demais potencialidades e capacidades dos homens. Nestes termos, podemos concordar com Bellato (2003, pg. 430), quando diz “por seu incomensurável poder de agregar outros valores, a saúde se torna cenário privilegiado para o exercício da ética (...)”. Compreendendo a saúde nesta dimensão, passaremos à contextualização dos extremos vivenciados por nós brasileiros no cotidiano das práticas assistenciais.

Segundo Garrafa (2003), a saúde brasileira vem nos últimos anos apresentando uma contradição insustentável, onde em alguns hospitais brasileiros se desenvolvem cirurgias da mais alta complexidade técnica, como por exemplo, os transplantes múltiplos de órgãos e no outro extremo centenas de adultos e crianças continuam morrendo diariamente de problemas que poderiam ser evitados por meio de corriqueiras medidas sanitárias. Vivemos uma situação paradoxal, onde segundo Garrafa, apud Berlinger (1993), oscilamos entre a esperança e a repugnância. A “esperança” de que a ciência e a técnica consigam suplantar esses vergonhosos quadros. E a “repugnância” diante dos outros milhares de desassistidos espalhados por todas as regiões do país.

No entanto, alcançamos importantes avanços, que tem como marco a Constituição de 1988, que é uma das mais avançadas no que se refere às questões médicas sanitárias. Temos a nossa disposição um aparato legal considerável, como exemplo, a Lei Orgânica de Saúde, assentada em princípios teóricos da descentralização administrativa, da universalização do acesso dos usuários ao sistema prestador de serviços, da equidade e outros. É importante registrar que a Conferência Nacional de Saúde transformou-se em fórum de permanente reformulação/aperfeiçoamento desta Legislação e vem ampliando as possibilidades de participação, inclusive dos usuários, não somente na gestão do processo como também na formulação de políticas para o setor.

Porém a dificuldade está na implementação da prática dessas conquistas legais. Essas dificuldades se assentam, segundo Garrafa (2003), na ausência de comportamentos comprometidos com a saúde da população  em todos os níveis de gestão/prestação de serviços de assistência. Nessa direção visualizamos a educação/formação profissional como campos de ação privilegiado.

Há que se registrar que o movimento que vem ocorrendo nesta área e que resultou na mudança da legislação de ensino em todos os níveis e que resultou na proposição de um Projeto Político Pedagógico, vem permitir que as diversas adeqüem seus conteúdos contemplando essas questões, para a enfermagem brasileira por força das DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais), este projeto apontou para uma preocupação mais integrada da formação do enfermeiro centrada na realidade social e com perfil generalista, humano, crítico e reflexivo, tendo com base o rigor cientifico.   Há que se incorporar aqui, a exemplo do que acontece na saúde, a preocupação com as avaliações/ajustes necessários ao seu aperfeiçoamento.

 



[*] Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

 


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004