EVOLUÇÃO BIOLÓGICA: SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS
Suzana Moss
de Oliveira (*)
Desde 1995 o grupo de Sistemas
Complexos do Instituto de Física da UFF vem utilizando e aprimorando o modelo
de Penna [1] para envelhecimento biológico, a fim de
estudar uma enorme variedade de fenômenos ligados à evolução das espécies. Este
modelo se baseia na teoria do acúmulo de mutações, a qual explica o
envelhecimento como o resultado da diminuição da pressão seletiva natural com a
idade. Um exemplo de tal fato é a doença de Alzheimer: por ser
uma doença genética, seus portadores
já nascem com ela. Contudo, seus efeitos só se manifestam a partir dos 60 anos
e portanto, não impedem a reprodução. Como consequência,
tal doença é bastante comum, ao contrário da síndrome de Huntchinson-Gilford
(envelhecimento precoce), extremamente rara e também hereditária, que pode matar aos 13 anos de idade, portanto
antes da reprodução.
No
modelo Penna assexuado, o genoma “cronológico” de
cada indivíduo é representado por uma palavra de computador (tira de 32 bits,
cada bit valendo zero ou um). Bits 1 representam doenças genéticas; se por
exemplo o terceiro, dentre os 32 bits de um dado genoma, vale 1, isto indica
que aquele indivíduo passará a sofrer os efeitos de uma dada doença hereditária
no seu terceiro “ano” de vida. Cada indívíduo pode
viver no máximo por 32 “anos” e existe um limite para o número de doenças que o
mesmo pode ter. O genoma do filho é uma cópia do genoma da mãe, a menos de
mutações que são introduzidas em posições aleatórias, no momento da reprodução.
No modelo sexuado, cada genoma consiste de 2 tiras de bits, que são lidas em
paralelo. Neste caso, para se contar o número de doenças que o indivíduo vai
sofrer, é necessário definir, dentre as 32 posições possíveis, quais são recessivas
e quais são dominantes. Na reprodução considera-se o cruzamento e a
recombinação dos genomas dos pais para a formação do genoma do filho.
A
representação dos indivíduos por tiras de bits permite a utilização de
operações lógicas nas simulações, ao invés das operações aritméticas usuais,
que tornam os programas extremamente eficientes. Desta forma, é possível
simular uma população de milhões de indivíduos, tamanho equivalente aos das
populações reais, em qualquer computador e com grande rapidez.
Utilizando
o modelo Penna, foi possível entender as vantagens da
reprodução sexuada sobre a assexuada, a razão da menopausa
existir, porque os indivíduos morrem logo após a reprodução em espécies
como a do salmão, porque somos diplóides e não triplóides,
etc... Atualmente o modelo vem sendo adaptado para o estudo da especiação, isto
é, a divisão de uma espécie ancestral em duas ou mais espécies diferentes da
original. Neste caso, o fenótipo de cada indivíduo é também representado,
utilizando-se uma ou mais tiras de bits.
[1] T.J.P. Penna, Journal of Statistical Physics 78 (1995) 1629.
(*) Universidade Federal
Fluminense
e-mail: suzana@if.uff.br
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |