SOFTWARE LIVRE  E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO TECNOLÓGICO.

Sérgio Amadeu da Silveira

 

 

O objetivo inicial da exposição é relacionar o movimento do software livre ao modelo de desenvolvimento científico e analisar o mito da inovação vinculada à chamada propriedade das idéias. O objetivo final é apontar os riscos que o endurecimento das legislações sobre a propriedade do conhecimento para a disseminação das tecnologias da informação nos países em desenvolvimento.

Em primeiro lugar, serão apresentadas as características centrais do software livre, ou seja, o acesso ao código-fonte dos programas de computador e uma licença de uso que assegura quatro liberdades: liberdade irrestrita de uso, liberdade completa de estudar os códigos, liberdade total de alteração e liberdade ampla de redistribuição. Este modelo será contraposto aos modelos de software proprietário e semi-proprietário.

Em seguida, será discutida a forma de desenvolvimento colaborativo e compartilhado, utilizando como exemplo, os softwares GNU/Linux e a distribuição Debian. O processo cooperação será apresentado e sua estrutura de debbuging, seu grau de aperfeiçoamento, sua capacidade de incorporação e geração de novidades  será comparado com o modelo proprietário.

Aqui é possível demonstrar claramente que o modelo típico ou o tipo ideal de desenvolvimento  realizado pela comunidade de software livre se assemelha muito ao da comunidade científica. A hipótese apresentada indicará que o embate presente na área de software a respeito do controle e dos benefícios do conhecimento tecnológico se dá atualmente na arena científica, cujo maior exemplo está na área genética.

O ritmo da ciência pode ser afetado e arrefecido se for imposto ao fluxo livre de conhecimento um modelo semelhante ao da tecnologia proprietária. A idéia de que somente a propriedade intelectual assegura a inovação será questionada a partir das principais soluções do maior fenômeno da chamada era da informação, a Internet.

A quem serve a expansão da propriedade das idéias e a transformação de algoritmos em bens patenteáveis? Aqueles que querem bloquear a transmissão e troca de conhecimentos. Por que alguns buscariam isto? Para manter situações insustentáveis de oligopólio e monopólio.

Na sociedade informacional, as pequenas barreiras de entrada para se desenvolver softwares, produtos de alto valor agregado, permitem socializar mais facilmente que na chamada era industrial os benefícios desta atividade. Assim, como a inteligência é distribuída pelo planeta e as tecnologias da informação são tecnologias da inteligência, temos a oportunidade de democratizar riqueza e desconcentrar poder praticando o compartilhamento do conhecimento tecnológico.

A exposição também apontará que quanto mais se compartilha o conhecimento mais ele cresce o que é fundamental para o desenvolvimento humano sustentável. Finalizará esclarecendo que a única forma de paralisar o movimento de software livre é através de medidas estatais, principalmente legais e judiciais com foco no patenteamento de algoritmos e encadeamentos lógicos.

 

 

 

 

 


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004