USO DE CÉLULAS TRONCO EM TERAPIAS CELULARES

 

Rosalia Mendez-Otero (*)

 

Até  recentemente acreditava-se que o Sistema Nervoso Central (SNC) do indivíduo adulto não tinha capacidade de regenerar após sofrer lesões ou injurias e as funções exercidas pelas células ou processos lesados estariam irreversivelmente perdidas. Estudos recentes mostraram que, ao contrário do que se pensava, os axônios de neurônios do SNC apresentam uma certa capacidade de regeneração mas na maior parte das vezes o meio ambiente no qual deverão crescer impede esta regeneração. Além disto, nas últimas décadas foi demonstrado em diversos laboratórios que novos neurônios são gerados em regiões restritas do SNC durante toda a vida do indivíduo. Estas observações abrem possibilidades interessantes de aplicações clínicas e diversos estudos vem sendo realizados no sentido de identificar fatores que tornem permissivo o crescimento de processos lesados e de entender os mecanismos da neurogênese no adulto. No entanto, a regeneração axonal e a proliferação de precursores neurais no adulto não parecem ser suficientes para regenerar amplas lesões no SNC e mais recentemente diversas laboratórios e grupos de pesquisa vem investigando a possibilidade de se substituir neurônios perdidos em traumas ou doenças através do uso de terapias celulares com células tronco.

 

Células tronco são células capazes de auto-renovação e diferenciação em múltiplas linhagens. Em vertebrados, o zigoto é a célula tronco totipotente, capaz de gerar todas as células do organismo, além das células que suportam o desenvolvimento do embrião no útero. A partir do blastocisto é possível isolar linhagens de células tronco embrionárias que podem ser mantidas por períodos prolongados no estado indiferenciado ou que podem ser diferenciadas em células de diversos tecidos incluindo neurônios e glia. As células tronco adultas são células indiferenciadas presentes em um tecido diferenciado. Estas células são capazes de auto-renovação durante toda a vida do organismo e já foram identificadas em diversos  órgãos e tecidos incluindo o sistema nervoso. As células tronco adultas são raras e difíceis de identificar e purificar. Além disto, estas células proliferam mais lentamente do que as células tronco embrionárias.

 

As terapias celulares baseiam-se em duas estratégias: estimulação de precursores endógenos ou introdução de células tronco exógenas de origem embrionária ou adultas. A primeira estratégia baseia-se na identificação de fatores tróficos que possam estimular a proliferação de células tronco do próprio paciente, como hormônios e fatores de crescimento. Na segunda  estratégia transplantes celulares são realizados com células fetais ou adultas para que os sinais do próprio sistema nervoso do paciente estimulem a maturação ou diferenciação do tipo celular necessário para aquela lesão.

A utilização de células tronco fetais ou embrionárias levanta uma série de questões éticas e legais que impedem ainda o seu uso em protocolos clínicos e por este motivo os protocolos clínicos que estão sendo avaliados no momento utilizam células tronco adultas provenientes da medula óssea. As células tronco de medula óssea apresentam a grande vantagem de serem obtidas do próprio paciente o que elimina as questões éticas legais e em estudos experimentais apresentam uma grande plasticidade o que faz com tenham sido usadas em terapias celulares para lesões do sistema cardiovascular e nervoso. Nesta apresentação faremos uma revisão dos protocolos clínicos que tem utilizado células troncas adultas de medula óssea para tratar doenças neurológicas.

 

(*)Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho/UFRJ e Instituto do Milênio de Bioengenharia Tecidual.

 


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004