A QUALIDADE DA PESQUISA CIENTÍFICA NO BRASIL ESTA AUMENTANDO? QUAIS OS AGENTES ENVOLVIDOS NESTE PROCESSO?

 

Rogerio Meneghini

Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde-Organização Panamericana de Saúde-OMS

 

Indicadores de ciência e tecnologia são uma fonte importante de dados para avaliações de evolução destas macro-áreas do conhecimento em países, instituições, diferentes sub-áreas, etc. Por sua vez, isto norteia a elaboração de políticas por parte de governos, seus agentes de fomento e instituições de pesquisa.

O Brasil tem tido um crescimento científico significativo nos últimos vinte anos, a se basear nos dados do Institute of Scientific Information (ISI) dos Estados Unidos, que indexa cerca de 6000 periódicos científicos considerados pelo ISI como os de maior impacto na literatura (impacto não é sinônimo de qualidade, mas não se duvida que guardam uma correlação).

Na verdade, a curva de crescimento de publicações ISI do Brasil é a terceira do mundo, sendo suplantada apenas pela China e Coréia. Os países desenvolvidos tem níveis de publicação na base ISI significativamente mais altos do que estes três países, porém a curva de crescimento é bem mais atenuada e em alguns casos até estagnada.  

São várias as razões para este crescimento. A instucionalização  da pós-graduação, com um crescente número de cursos e de alunos ao longo dos anos, teve um papel reconhecido. É claro que isto não poderia ter sido conseguido não fosse uma política de aporte de verbas para bolsas através da CAPES, CNPq, e das FAPs. Simultaneamente houve um esforço,  principalmente nas áreas de ciências naturais, de dar condições de trabalho para os pesquisadores e alunos, através do aporte de recursos para equipamentos e insumos por diferentes agências e programas. Estes, com raras exceções, passaram por momentos de turbulência e vários programas foram iniciados com um  período de êxito tendo posteriormente sofrido interrupções ou momentos difíceis (exemplo, FNDCT). Mas é preciso dizer que o processo de alocação desses recursos foi feito com avaliação científica em geral rigorosa e baseada em mérito, mesmo nos programas direcionados para metas mais específicas. Se formos fazer uma comparação, não existe nenhum país na América Latina com um parque de laboratórios de pesquisa como o que se obeserva no Brasil. Mesmo na Europa só os países mais avançados superam neste quesito o nosso país. 

Outro aspecto que não pode ser desprezado é que o Brasil intensificou de forma vigorosa os trabalhos de colaboração inter-institucional. Em 1999, as publicações de instituições brasileiras com estrangeiras chegou a quase metade do total. Isso decorreu em grande parte dos vínculos de pesquisadores brasileiros com estrangeiros, estabelecidos nos  períodos de permanência em laboratórios de primeira linha, em programas de doutoramento e pós-doutoramento. Esses programas foram vigorosamente amparados por recursos das agências de fomento. Muito embora, num primeiro momento isso possa criar um processo de “colonização” da nossa pesquisa, na maior parte evolui para grupos brasileiros de linhas de pesquisa próprias os quais  podem, ainda assim, estabelecer colaborações internacionais, mas já com uma senioridade e liderança reconhecidas.

A tendência de coletivização da pesquisa é um fenômeno que cresce nos últimos anos, e o Brasil, em parte por essa experiência adquirida nos processos de colaboração, vem operando esse novo feitio de forma exitosa. O programa de genômica, operado em rede de laboratórios e iniciado pela FAPESP foi encampado em níveis do MCT e de FAPs de outros estados e tem tido um sucesso internacionalmente reconhecido. É um trabalho que não pode ser executado por um ou alguns poucos, exige uma hierarquisação de competências, lideranças fortes e organização rigorosa.

Este programa tende a se ampliar para outras áreas da biologia, como transcriptômica, proteômica e do lado mais ecológico, do biota. Na área mais de física e química deverá haver um esforço em pesquisa em rede no programa de nanotecnologia que está em gestação e com recursos já previstos.

Pode-se expandir os programas em rede para outros temas. Redes, por um lado, podem diminuir a competitividade e uma certa liberdade de rumos para os participantes em comparação com uma operação individual. Por outro lado permite maior velocidade na obtenção de resultados, não extingue um certo grau de liberdade, como acontece com equipes em empresas, mas exige uma excelente organização, metas bem estabecidas e fortes lideranças.

O Brasil ainda opera dentro de uma matriz orçamentária em ciência e tecnologia relativamente baixa, ou seja 1,2% do PIB. Isto representa de metade a um terço do gastos de países desenvolvidos. O presente governo estabeleceu uma marca de 2,0% para até o final do presente mandato. Porém, mesmo  

           


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004