O CENTRO DE PESQUISAS DO PANTANAL

 

Paulo Teixeira de Sousa Jr (*)

 

Contando com uma área alagada de aproximadamente 160.000 km2, o Pantanal distribui-se pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de porções minoritárias na Bolívia e no Paraguai.  A ocupação do Pantanal pelos colonizadores europeus (ou seus descendentes), teve origem no século XVIII, mesma época em que foi introduzido o gado, até hoje uma das principais atividades econômicas da região.  Apesar de ainda bem preservada sob o ponto de vista ambiental, a região vem sofrendo constantes ameaças, oriundas principalmente da urbanização e de atividades econômicas (prinicipalmente a agricultura) realizadas no seu entorno.  Declarado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em novembro de 2000, o Pantanal tem atraído cada vez mais a atenção internacional, sendo procurado por turistas interessados em conhecer a sua rica biodiversidade, além de apreciar a sua inestimável beleza estética.

Preocupados em dar uma resposta à sociedade, cada vez mais apreensiva com o futuro da região, e cientes da carência de recursos humanos com a adequada formação para enfrentar os desafios que o Pantanal requer, cientistas da UFMT tomaram a iniciativa de buscar parcerias, no intuito de se formular propostas que contribuissem efetivamente para a conservação e o uso sustentado do Pantanal.  Com este propósito, firmou-se, em fevereiro de 2001, um protocolo de intenções entre a UFMT, a Universidade das Nações Unidas e o governo do estado de Mato Grosso, visando a realização de um estudo de viabilidade que respaldasse a criação de um centro de pesquisas na região do Pantanal.  Ainda no mesmo ano, buscou-se o apoio do MCT e de colegas/instituições de Mato Grosso do Sul, tendo sido criado o “Grupo Gestor da Rede de Pesquisas do Pantanal”, no âmbito daquele ministério.  Produto de um processo de consultas à sociedade civil e à comunidade científica, o Centro de Pesquisas do Pantanal  (CPP) surgiu, desta forma, após um intenso ano de discussões. Configurado como uma associação civil, sem fins lucrativos,  o CPP obteve o título de OSCIP (organização da sociedade civil de interesse público) pelo ministério da justiça, em novembro de 2002, tendo sido, no mesmo ano, declarado instituição de utilidade pública pela câmara de vereadores de Cuiabá.

Estruturado como uma rede horizontal não competitiva, de modo a poder tirar proveito das vantagens comparativas das instituições de pesquisa ativas no Pantanal, e tendo como principal objetivo a produção de conhecimentos e a formação de recursos humanos para subsidiar as políticas públicas voltadas ao uso sustentável da  região, o CPP tem na participação comunitária um de seus pilares de ação, baseado na constatação de que a popularização do conhecimento científico é condição necessária ao exercício da cidadania no século XXI.

Os vários problemas econômicos e ambientais que ameaçam o manejo tradicional dos recursos pantaneiros a partir dos anos 80, representam um desafio que pode ser abordado por uma intensiva cooperação entre os cientistas e a sociedade civil, abordagem esta que constitui o cerne do CPP.   Nesse sentido, o CPP firmou, recentemente, termo de parceria com o MCT, onde prevê-se, ao custo de R$ 2,5 milhões anuais, a realização de pesquisas objetivando a sustentabilidade da pecuária e da pesca, duas das mais tradicionais atividades econômicas da região e que estão sob ameça em função da perda de competivividade.  Apesar de sua recente criação o CPP vem executando diversas ações, podendo-se destacar, dentre estas, a parceria (em fase final de negociação) com o ministério do meio ambiente/programa pantanal, para a criação do observatório de educação ambiental no Pantanal, que terá sua principal tarefa centrada na formação de recursos humanos (especialização), que servirão posteriormente como multiplicadores dos conhecimentos adquiridos.

Baseado na constatação de que o Pantanal é uma área tranfronteiriça e que, portanto, é necessário o estabelecimento de sinergia entre as políticas públicas voltadas para a conservação da região, considerando os três países que a abarcam, o CPP tem buscado parcerias na Bolívia e no Paraguai, através do Programa Ambiental Regional do Pantanal (Pantanal Regional Environmental Programme, ou UNU-PREP).  O UNU-PREP é um programa associado à Universidade das  Nações Unidas (United Nations University – UNU -sediada em Tóquio), sendo localmente coordenado pela UFMT e respaldado pelo CPP.  A parceria com a UNU tem propiciado o contato com cientistas de outras partes do mundo, facilitando também a comunicação com autoridades governamentais e ONGs da Bolívia e Paraguai. Nesse sentido, realizou-se, em outro de 2003, em Porto Cercado-MT, o workshop internacional “Pantanal Wetland: Interlinkages Approach for Wetland Management -- Best practices, awareness raising and capacity building –“.  Participaram deste evento, além de cientistas, autoridades políticas, tomadores de decisão e empresários da região e de várias partes do mundo, que, após três dias de intensas discussões, formularam uma lista de recomendações que foram encaminhadas às autoridades dos três países pantaneiros.

            Buscando sempre a ampliação de horizontes, o CPP está aberto a novas parcerias que possam contribuir para o melhor cumprimento de sua missão.

 

 

 

(*)  Secretário Executivo (teixeira@cpd.ufmt.br).

http://www.cppantanal.org.br


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004