A
GARANTIA DA SEGURANÇA POR MEIO DE PROVAS EFICIENTES
Osvaldo Catsumi
Imamura (*)
O homem tem conseguido realizar os
desenvolvimentos tecnológicos porque há uma constante busca de respostas a
questões que ainda não estão resolvidas.
Dentre estas questões está a prova
necessária para a compreensão de um fenômeno que tenha despertado o seu
interesse.
A questão, um
tanto filosófica, pode ser abordada de diversas maneiras mas, a resposta
deve estar fortemente correlacionada com a forma como a questão está sendo
encaminhada para ser considerada como válida.
Vejamos um exemplo aplicado a uma
situação atual. A segurança do processo eleitoral.
A eleição, um processo fundamental
para o exercício da democracia, é o fruto de um equacionamento de um conjunto
de processos, sistemas e participação dos envolvidos que reflete o modelo
criado para defini-lo. Esse modelo, complexo e amplo, para ser analisado, deve
ser entendido na sua totalidade para evitar as inserções de falsas premissas
que podem corromper os estudos que venham a ser realizados.
A confiabilidade global do processo
é resultante das avaliações das entidades que cria e executa o processo, do
processo propriamente dito e do ambiente de execução. Assim, todos os
componentes que integram o processo devem ser avaliados de forma equilibrada.
A seguir vamos exemplificar alguns
casos.
Caso 1: Confiabilidade da entidade
que cria o processo
A criação de um processo é o
primeiro passo para a garantia da credibilidade do processo. Um processo que
contenha vícios na sua especificação propaga as falhas na sua implementação e execução, mesmo que sejam
empregados as melhores técnicas no seu desenvolvimento e que seja executado em
um ambiente com segurança absoluta.
Caso 2: Confiabilidade da entidade
que executa o processo
A garantia da qualidade da execução
pode ser verificada pela integridade do processo em execução e pelos
procedimentos adotados para tal. O papel da entidade executora é vital para
assegurar a confiabilidade da execução do processo.
Caso 3: Confiabilidade do processo
O processo a ser executado pode ser
verificado em todas as fases que envolvem o seu ciclo de vida: o
desenvolvimento, a integração, a distribuição, a instalação, a execução e
desativação. As metodologias e as técnicas de construção estão em constante evolução
e aprimoramento para atender as situações previstas em cada uma dessas fases.
Caso 4: Confiabilidade do ambiente
de execução
O ambiente de execução conclui o
ciclo de confiabilidade. Esse ambiente é composto pela infra-estrutura e pelos
componentes humanos que atuam direta e indiretamente no processo.
Desta forma, cumpridos os requisitos
básicos para estabelecer os critérios e a execução de todas as fases, é
possível iniciar os estudos técnicos para a avaliação da segurança e
confiabilidade do processo na sua totalidade.
Refletindo as considerações para o
processo eleitoral, a segurança e a confiabilidade da eleição deve ser
analisada desde o estabelecimento das leis e resoluções até o desenvolvimento
dos equipamentos e dos programas de computador e o uso efetivo de todos os
componentes nos pleitos.
Simplificando um pouco o enfoque,
para ajustá-lo às questões em discussão por alguns grupos de críticos à
automação dos sistemas eleitorais, vamos considerar o requisito da prova da
integridade do voto realizado pelo eleitor e o seu posterior cômputo.
Neste caso, a única testemunha
física da verificação integridade do voto realizado é o próprio eleitor. A
premissa estabelecida para assegurar que o voto seja secreto, garantindo ao
mesmo a expressão da sua intenção de forma isenta, irrestrita e segura,
inviabiliza qualquer alternativa para que um terceiro possa participar nesta
verificação.
A criação de uma prova material do
voto é questionável por não ser um documento de segurança inquestionável.
Vejamos alguns exemplos: os problemas ocorridos na Flórida na última eleição
presidencial foram atribuídos à complexidade da interpretação da cédula
empregada no pleito1. Refletindo o exemplo
ao caso do Brasil, onde estudos mostram que somente 25% da população com mais
de 15 anos possuem plena capacidade de leitura e escrita2, fica a questão da eficácia da prova material.
Em uma análise mais técnica, a prova
material é produzida por um sistema composto dos mesmos elementos que integram
o equipamento de automação eleitoral. A verificação da qualidade da prova
material produzida deve ser realizada utilizando-se dos procedimentos e
técnicas conhecidas e de credibilidade3,
as mesmas regras que podem ser empregadas e validar os demais equipamentos e
programas que o eleitor usa para expressar o seu voto.
Aqui fica uma questão: nesta
situação estabelecida, como garantir a segurança de um processo eleitoral ?
A resposta está com os responsáveis
pelo desenvolvimento da tecnologia, que deve assegurar a qualidade dos
componentes do processo, e com os responsáveis pela criação, execução e
acompanhamento do processo.
Cada componente utilizado no
processo deve ser avaliado e validado individualmente e coletivamente para
compor a decisão final, sempre balizado pelo objetivo proposto que é a
segurança e a eficácia do pleito eleitoral.
(1) www.policyreview.org - Einer Elhauge, The Lessons
of Florida 2000, December 2001.
(2)
www.ipm.org.br - Saiba mais sobre o Indicador
Nacional de Analfabetismo Funcional.
(3) Comissão Especial de Engenharia de Software da Sociedade Brasileira de
Computação e Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade em Software
(*) Pesquisador
Titular
Instituto de Estudos Avançados
Centro Técnico Aeroespacial
Consultor do Tribunal Superior
Eleitoral
catsumi@ieav.cta.br catsumi@tse.gov.br
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |