Terapia Fotodinâmica
Orlando Parise Jr.
Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Hospital Sírio Libanês, SP
A terapia
fotodinâmica (PDT) é uma tecnologia recentemente incorporada a medicina. A PDT
é baseada na reação fotodinâmica, que é, por definição, uma reação
química induzida por luz que resulta em um efeito biológico. Assim sendo, as
lesões potencialmente curáveis com PDT são aquelas superficiais e acessíveis à
luz. Ela é diferente da cirurgia, da radioterapia e da quimioterapia, não
limitando o emprego destes outros métodos.
Para sua
aplicação clínica, a PDT utiliza a diferença existente entre o tecido normal e
os tumores quanto ao metabolismo de drogas e a capacidade de absorver e/ou
reemitir luz. O mecanismo que leva a concentração dos fotosensitizantes nas
células tumorais não está completamente esclarecido, variando de acordo com o
tipo de sensitizante estudado. O principal mecanismo de especificidade da PDT
para as células do câncer vem do fato de que as células normais excretam ou
metabolizam os agentes fotosensitizantes mais rapidamente do que as células do
câncer. Além das diferenças metabólicas existentes, diferenças estruturais
entre as células normais e neoplásicas e na microcirculação dos tumores
diferenciam os tecidos malignos ou pré-malignos dos tecidos normais, resultam
no aumento de especificidade da reação fotodinâmica. Provavelmente isto é
conseqüência de uma concentração preferencial dos agentes fotosensitizantes nas
membranas (por exemplo das mitocôndrias, abundantes nas células malignas) e
principalmente no arcabouço da microvasculatura do tumor. Uma vez que o agente
fotosensitizante esteja concentrado no interior das células do câncer, toda a
região de um tumor é estimulada pela luz no comprimento de onda
pré-determinado, destruindo as células do câncer em muito maior número, com
baixa toxicidade no local. No caso específico do câncer, a utilização de drogas
que induzam a apoptose, reforça o racional do uso da PDT. Embora a presença de
oxigênio seja fundamental para que ocorra a reação fotodinâmica, foi
demonstrado que a concentração de oxigênio necessária é mínima para as reações
do tipo I, sendo portando factível o tratamento por PDT mesmo em tecido
hipóxico como nos casos com intensa fibrose ou pós radioterapia. Com as
hematoporfirinas, uma concentração de 5% de oxigênio é suficiente para que o
máximo efeito fotosensitizante ocorra e para que a metade do efeito
fotosensitizante máximo ocorra, são suficientes de 0,5 à 1 % de oxigênio.
Pelo que
foi exposto, existem portanto 3 fatores que interferem no resultado final da
PDT: a concentração do agente fotosensitizante no tecido-alvo, exposição deste
tecido à luz do Laser com o comprimento de onda adequado e a presença (mesmo
que mínima) de oxigênio nas suas células.
Outra
vantagem significativa da PDT é que não existe limite para o número de
aplicações da PDT, desde que a regeneração e/ou reepitelização do tratamento
anterior esteja completa. Existe ainda um efeito indireto da PDT que resulta na
estimulação do sistema imunológico através da liberação de citoquinas no
processo inflamatório resultante do tratamento, promovendo uma provável
resposta imunológica contra o câncer de intensidade variável.
No caso dos tumores de cabeça e pescoço, se considerarmos a
dificuldade do manejo do campo de cancerização, freqüentes seqüelas funcionais
do tratamento padrão (cirurgia e/ou radioterapia), além da imposssibilidade de
reirradiação de lesões recidivadas tratadas por radioterapia, a PDT surge como
uma perspectiva terapêutica a ser considerada.
Os resultados obtidos com PDT nos tumores de cabeça e
pescoço são muito promissores. Nas lesões inciais, 25 pacientes portadores de
Tis e T1 de glote tratados exclusivamente com uma única aplicação de PDT
(Hematoporfirina como fotosensitizante), com seguimento médio de 79 meses,
apenas 1 paciente apresentou recidiva local. O mesmo artigo apresenta 29 casos
de lesões de cavidade oral Tis, T1 e rT1, todos com resposta completa após 1
aplicação de PDT porém com 5 recidivas num seguimento médio de 70 meses. A complicação
mais freqüente foi uma transitória fotosensibilidade cutânea, sem seqüelas
permanentes. Estes elevados índices de resposta completa foram confirmados por
diversos autores, embora a maior parte dos trabalhos inclua ainda um pequeno
número de pacientes. Este índice de controle das lesões iniciais pela PDT é
comparável aos índices obtidos pela radioterapia ou cirurgia. A vantagem da PDT
em relação à radioterapia é que a PDT é realizada em um tempo único, não induz
seqüelas como trismo ou xerostomia e pode ser repetida quantas vezes for
necessária. Comparativamente à cirurgia, a PDT tem a vantagem de destruir
seletivamente o tecido neoplasico poupando o tecido adjacente normal,
resultando em uma preservação funcional de estruturas como as cordas vocais, supraglote
ou língua. Ainda favorecendo a PDT no tratamento de áreas com anatomia complexa
e funcionalmente sensíveis como a laringe, existe o fato da cicatrização do
tecido danificado pela PDT ocorrer principalmente à custa de regeneração
epitelial, praticamente sem cicatrização fibrosa.
A
pioneira experiência do Hospital Sírio Libanês com PDT, embora inicial, é
extremamente promissora.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |