PAISAGENS PANTANEIRAS: TRADIÇÃO E
MODERNIDADE
Entre as famílias que habitam a sub-região pantaneira de Cáceres, Mato Grosso, constata-se a presença
de pessoas que ali nasceram ou residem há cinqüenta
anos ou mais e, até época recente, mantiveram modos de vida e técnicas de
manejo da pecuária extensiva seculares, pouco alterando o meio natural,
conservando, através dessa característica,
tradição. A vivência no local por considerável período evidencia que esse grupo
passa por um momento de conflitos devido às idéias modernizadoras introduzidas,
entre outros elementos, pela segunda geração que busca difundir novas técnicas
de trabalho visando à maior produtividade e ao acúmulo de capital. Dessa forma,
contestam os saberes tradicionais que determinam as formas de manejo do gado há
pelo menos dois séculos. Como correlato, observam-se alterações substanciais
nos papéis desempenhados pelas identidades sociais pantaneiras
no contexto da estrutura produtiva, alterando as formas de convivência na
família e no grupo social. No campo da
cultura material, constata-se a introdução de novos instrumentos e técnicas de
trabalho, por conseguinte, a vegetação nativa, outrora conservada e utilizada
como principal fonte alimentícia do gado bovino, está sendo retirada e
substituída por forrageiras exóticas, interferindo no equilíbrio do meio
ambiente. Mediante esse contexto, este trabalho tem como principal objetivo
descrever parcela dos aspectos que
integram a cultura pantaneira tradicional, apontando
elementos que sinalizam para
transformações no âmbito da cultura imaterial e material com ênfase para
as conseqüências desse processo na
paisagem. Essa trajetória permite visualizar a modernização do Pantanal de
Cáceres, rompendo com os valores tradicionais, (re)configurando
novas identidades e diferentes formas de relacionamento com o meio natural,
imprimindo, assim, novas marcas na
paisagem pantaneira. O processo de modernização na
área em estudo implica em um movimento com dupla direção no qual, por um lado,
podem ocorrer as transformações das identidades e o esquecimento das tradições pantaneiras via incorporação de novos modos de vida e
modernas técnicas de trabalho, por outro, aconteceria a revalorização da
cultura material e imaterial produzindo
uma situação que não se traduz necessariamente pela destruição dos aspectos
tradicionais. Assim, discute-se a
necessidade de acatar a modernização como um desafio para o
desenvolvimento sustentável no sentido de que a proteção ecológica caminhe
simultaneamente com as transformações culturais e os anseios econômicos dos
habitantes do Pantanal.
Palavras-chave: Pantanal - Cultura - Modernização - Desenvolvimento Sustentável
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |