PAISAGENS PANTANEIRAS: TRADIÇÃO E MODERNIDADE

Onélia Carmem Rossetto

(Depto. de Geografia – UFMT)

oneliarossetto@terra.com.br

 

 

Entre as famílias que habitam a sub-região pantaneira de Cáceres, Mato Grosso, constata-se a presença de pessoas que ali nasceram ou residem cinqüenta anos ou mais e, até época recente, mantiveram modos de vida e técnicas de manejo da pecuária extensiva seculares, pouco alterando o meio natural, conservando,  através dessa característica, tradição. A vivência no local por considerável período evidencia que esse grupo passa por um momento de conflitos devido às idéias modernizadoras introduzidas, entre outros elementos, pela segunda geração que busca difundir novas técnicas de trabalho visando à maior produtividade e ao acúmulo de capital. Dessa forma, contestam os saberes tradicionais que determinam as formas de manejo do gado há pelo menos dois séculos. Como correlato, observam-se alterações substanciais nos papéis desempenhados pelas identidades sociais pantaneiras no contexto da estrutura produtiva, alterando as formas de convivência na família e no grupo social.  No campo da cultura material, constata-se a introdução de novos instrumentos e técnicas de trabalho, por conseguinte, a vegetação nativa, outrora conservada e utilizada como principal fonte alimentícia do gado bovino, está sendo retirada e substituída por forrageiras exóticas, interferindo no equilíbrio do meio ambiente. Mediante esse contexto, este trabalho tem como principal objetivo descrever parcela dos aspectos  que integram a cultura pantaneira tradicional, apontando elementos que sinalizam para  transformações no âmbito da cultura imaterial e material com ênfase para as  conseqüências desse processo na paisagem. Essa trajetória permite visualizar a modernização do Pantanal de Cáceres, rompendo com os valores tradicionais, (re)configurando novas identidades e diferentes formas de relacionamento com o meio natural, imprimindo, assim,  novas marcas na paisagem pantaneira. O processo de modernização na área em estudo implica em um movimento com dupla direção no qual, por um lado, podem ocorrer as transformações das identidades e o esquecimento das tradições pantaneiras via incorporação de novos modos de vida e modernas técnicas de trabalho, por outro, aconteceria a revalorização da cultura material e imaterial  produzindo uma situação que não se traduz necessariamente pela destruição dos aspectos tradicionais. Assim, discute-se a necessidade de acatar a modernização como um desafio para o desenvolvimento sustentável no sentido de que a proteção ecológica caminhe simultaneamente com as transformações culturais e os anseios econômicos dos habitantes do Pantanal.

 

 

 

Palavras-chave: Pantanal - Cultura  - Modernização - Desenvolvimento Sustentável

 


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004