O processo histórico de
formação de nossa cultura afetou as mentalidades e os costumes africanos da
população negra brasileira, no que diz respeito à relação entre a escrita e
oralidade. Reteremos este propósito no âmbito que se inicia no “terreiro” até a
formação das denominadas escolas de samba.
O primeiro ambiente, o terreiro, circunscreve-se o uso da
tradição voz, uma arte que se baseia nas técnicas do encaixe, da combinação de
certo modo improvisada, da colagem, sem autentificação
individualizada, portadora dos anseios da coletividade. Com a introdução da
escrita e sua absorção pelo contingente afrodescendente
brasileiro, expressa-se à distância que o homem parece
tomar para consigo, seu afastamento do próprio corpo, sua desconfiança, até sua
vergonha dos contatos diretos, tendência contrariada sem cessar, mas dominante
no universo das escolas de samba.
Assim,devemos recuperar os espaços mutilados pela exclusão
social revitalizando o uso das linguagens musicais na construção da
subjetividade dos afrodescendentes.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |