Mônica Teixeira
Fundação Padre Anchieta/TVCultura – Unicamp
A indústria farmacêutica influi de
maneira considerável sobre a vida contemporânea. Por exemplo, sobre a pesquisa
em biomedicina: dados apresentados em 2001 pela própria indústria, nos Estados
Unidos, avaliam em US$ 30,5 bilhões o investimento do setor em atividades de
pesquisa e desenvolvimento. Esse valor faz das transnacionais dos medicamentos
as maiores financiadoras da investigação na área: o volume de recursos
declarado supera o orçamento dos National Institutes of Health que,
tendo dobrado em cinco anos, chegou em 2003 a US$ 28 bilhões. Ainda que a indústria
inclua, no valor declarado, a realização de ensaios clínicos em sua fase IV,
caracterizada por atividades que estariam mais bem classificadas como marketing e publicidade do que pesquisa
e desenvolvimento, ainda assim a comparação entre os valores aponta para uma crescente privatização das decisões sobre
linhas de investigação e para a incorporação nelas de mais e mais
pesquisadores. A indústria farmacêutica influi também, de forma significativa,
sobre a prática médica, pelo menos de duas maneiras: porque os preços que
pratica onera os sistemas de saúde de todo mundo; porque a estrutura montada
para validar a comercialização de um medicamento vem modificando fundamentos da
boa clinica médica. Apoiada na “cientificidade” de seus produtos e procedimentos,
a indústria conta -- para ampliar mais sua influência -- com o beneplácito das
mídias que, como mostrarei através de exemplos, se deixa pautar pelas
farmacêuticas, e apresenta ‘remédio novo’ ou mesmo ‘doença nova’ sem buscar o
contraditório. Dessa forma, os jornalistas trabalhando na mídia traem o mandato
que recebem da sociedade -- de construir no material que produzem versões cujo
conteúdo de verdade advém da escuta de pontos de vista diversos --, e tornam-se
porta-vozes dos interesses das fábricas – o que diminui as possibilidades para o exercício da cidadania
plena.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |