CIDADES PERIFÉRICAS DO PANTANAL MATO-GROSSENSE: POBREZA E PROBLEMAS AMBIENTAIS
Marinete Covezzi [1]
O crescimento populacional das cidades e localidades urbanas e semi-urbanas na região pantaneira do estado de Mato Grosso pode ser considerado um dos fenômenos mais importantes do desenvolvimento econômico dessa região nas últimas três décadas.
As
mudanças no processo de urbanização estão relacionadas às políticas de desenvolvimento
regional implantadas entre as décadas de 1970 e 1980, em todo o Estado de Mato
Grosso. Essas políticas provocaram profundas mudanças sócio-econômicas, ao
integraram essa região à economia nacional, com a construção de rodovias,
projetos de colonização agrícola, programas de incentivos fiscais, subsídios às
atividades agropecuárias e agro-industriais.
Ocorreu um
rápido desenvolvimento na região, com ampliação das atividades econômicas e os
serviços ofertados para atender as mudanças nos espaços rurais, com a
introdução de sistemas “modernos” na agricultura e pecuária. Essas mudanças
provocaram problemas nas áreas de agricultura tradicional e de pesca, gerando
êxodo rural e um processo de periferização das cidades e empobrecimento de
parcela considerável da população.
Nesse
quadro aparecem às cidades de Poconé e Barão de Melgaço, cidades históricas,
com origem no século XVIII. São pequenas cidades, Poconé possui atualmente
29.051 habitantes e Barão de Melgaço apenas 7.682 habitantes. A base da
economia dos dois municípios e a pecuária de corte e de leite, a monocultura da
cana-de-açúcar e a extração mineral, atividades que, pelo processo de
tecnificação, geram poucos postos de trabalho. Além dessas atividades a pequena
produção agrícola e a pesca, sobretudo em Barão de Melgaço se constituem em
fonte importante de renda. O mercado de trabalho urbano tem sua base em postos em
órgãos públicos estaduais e municipais, comércio local, pequenas indústrias, em
sua maior parte caseira, e o grande mercado informal. O setor de turismo,
sobretudo do eco-turismo, tem crescido nos dois municípios, absorvendo parte da
força de trabalho que sai das fazendas, embora para as cidades o turismo ainda
seja pouco explorado, por serem as cidades locais de passagem para hotéis e
pousadas no pantanal.
Na cidade
de Poconé, a atividade de extração do ouro ainda é considerada a atividade mais
impactante para a cidade e o município, por estar situada no perímetro urbano.
Embora a maior parte dos garimpos tenha sido fechada em 1990, oito empresas
ainda exploram essa atividade, gerando um processo violento de degradação
ambiental.
Nos dois
municípios, os problemas ambientais mais graves estão vinculados à produção
agrícola e agropecuária, sobretudo à monocultura que provoca desmatamento,
erosão, carga sedimentária nos rios e contaminação por agrotóxicos, e a
expansão de pastagens artificiais, com o desmatamento do cerrado e degradação
da vegetação.
Embora o
processo de urbanização dessas cidades possua peculiaridades, a maior parte dos
problemas é decorrente de questões comuns entre elas: os programas de
colonização, a mineração de ouro e outros minerais e a implantação de grandes
fazendas de criação de gado.
A redução
da população rural nos municípios de Poconé e Barão de Melgaço têm sido
provocadas por mudanças nos setores produtivos, com a introdução de técnicas modernas
de produção agrícola e especialização de culturas que, associadas ao aumento e
concentração das áreas destinadas a atividades agropecuárias, acabam expulsando
uma parcela considerável de pequenos proprietários e trabalhadores rurais.
A maior
parte da mão-de-obra liberada do meio rural dirige-se aos núcleos urbanos do
próprio município em que estava situada, ou para as maiores cidades da região,
especialmente a capital, Cuiabá. Esse processo de êxodo rural tem aumentado o
índice de desemprego nos municípios. Como não existe absorção da força de
trabalho na economia urbana, de parcela relevante do contingente liberado no
setor primário, essa parcela da população vai sendo gradativamente incorporada
ao mercado informal.
Embora existam graves problemas ambientais
em toda região pantaneira, no caso das cidades os problemas sócio-ambientais
são mais impactantes. Existe uma parcela considerável da população, tanto da
área urbana quanto da área rural, que vive sem o atendimento mínimo do que tem
sido considerada “qualidade de vida”, convivendo com os problemas decorrentes
da pobreza e da falta de emprego.
O rápido crescimento urbano,
realizado em bases econômicas extremamente precárias, redundou em grandes
níveis de desemprego e pobreza. A
economia regional, sempre orientada para a produção e a exportação para o
mercado nacional e/ou regional com base na pecuária e na monocultura e uso de modernas
tecnologias, tem expulsado um grande contingente populacional das áreas rurais,
e gerado um enorme excedente de força-de-trabalho sem qualificação para os
postos de trabalho urbanos, sem quaisquer chances de encontrar oportunidades de
trabalho.
Nesse
contexto, os problemas sócio-ambientais têm se agravado, com um contingente
enorme dessa população vivendo em bairro periféricos, em condições inadequadas
e graves riscos ambientais, como a população periférica de Poconé que reside no
entorno das áreas de mineração e a de Barão de Melgaço, que vive nas
proximidades de áreas que no período das águas, inundam parte dos bairros.
Este estudo encontra-se
inserido no Programa Pantanal Norte: estudos integrados dos processos
ecológicos e sociais com vistas à conservação, Site 12/UFMT. Financiado pelo
PELD/CNPq.
[1] Professora Adjunta do Departamento de Sociologia e Ciência Política/UFMT - Pesquisadora do NERU/UFMT.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |