A SAÚDE DA POPULAÇÃO INDÍGENA
Maria
Clara Vieira Weiss
Departamento
de Saúde Coletiva/ISC/UFMT
Durante séculos de contato com a sociedade brasileira a depopulação dos
povos indígenas ocorreu devido a epidemias, massacres e trabalho escravo
mantendo-se até a década 60, quando se verificou um incremento no aumento
populacional de alguns povos e vem se mantendo nas últimas décadas. O IBGE,
somente em 1991, incluiu a categoria indígena no censo da população brasileira,
antes considerados como pardo ou amarelo. Atualmente são reconhecidos
216 povos totalizando aproximadamente 350 indivíduos, correspondendo a 0,5% da
população brasileira. Entretanto, os indicadores demográficos e de saúde ainda
são insuficientes para permitir
avaliações mais precisas sobre a situação de saúde desses povos.
A gestão e responsabilidade da
saúde indígena são da FUNASA, a mudança no modelo de atenção através da
implantação de 34 DSEI no país, tendo como estratégia de operacionalização
convênios com ONGs, Municípios e Universidades, têm por finalidade a adequação das práticas de saúde às condições
sócio-culturais com ênfase na participação social, porém ainda observa-se alta
mortalidade infantil por infecções respiratórias e intestinais, mortalidade
geral por doenças crônico-degenerativas e causas externas, destacando-se entre
as principais doenças as infecto-parasitárias, obesidade, hipertensão arterial,
diabetes e outras associadas a impactos ambientais provocados por garimpos e
construção e funcionamento de usinas
hidrelétricas, e sociais como o alcoolismo e suicídio.
As ações básicas de saúde implementadas apresentam dificuldades
para avançar na adequação da atenção á saúde indígena, tanto na atenção
primária como na média e alta complexidade
em articulação com o SUS. Com exceção da melhoria da cobertura vacinal e
da implantação de programas específicos como da Tuberculose, de DST/AIDS e o
PPACI, são encontrados problemas
decorrentes da falta de intersetorialidade entre saúde e educação na compreensão e intervenção no processo
saúde-doença, de implementação de
programas específicos de saúde nas escolas indígenas, de projetos de educação
ambiental, de controle de vetores e de geração de renda; do não reconhecimento
do poder de cura da medicina tradicional; da inadequação dos programas de saúde
da mulher, no suprimento de
medicamentos e dos projetos implantados para abastecimento de água e destino
dos dejetos; do desconhecimento da situação nutricional e da sub-notificação de doenças compulsórias,
além da falta de iniciativas para valorização étnica devido à discriminação e preconceito a que são submetidos quando
saem das aldeias para tratamento de saúde.
Os investimentos adequados, a
articulação entre instituições parceiras na execução das ações que afetem a
saúde indígena e o respeito á autonomia
e autodeterminação dos povos indígenas são fundamentais para que a política de
saúde indígena possa surtir efeito como inclusão social.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |