ABORDAGENS RECENTES EM
SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO: A ETNOGRAFIA DA CIÊNCIA DE BRUNO LATOUR
Luís Augusto S. C. de Gusmão – UnB (*)
A comunicação pretende chamar a atenção para uma dificuldade
central na sociologia do conhecimento de Burno Latour, a saber, a presença nessa sociologia, que se
pretende empírica, descritiva, voltada para a explicação da
atividade científica como fenômeno social, da problemática normativa,
epistemológica e não sociológica, da justificação do conhecimento científico. Latour busca, quase compulsivamente, é verdade,
desacreditar a reflexão epistemológica de inspiração anti-naturalística,
apriorística e normativa. Nesse sentido, cabe
reconhecer, não seria justo identifica-lo como um epistemólogo justificacionista. Contudo,
este o ponto a ser desenvolvido na comunicação, a anti-epistemologia
de Latour permanece, em larga medida, prisioneira da
problemática filosófica da justificação, pois argumentos contra a idéia de uma
ciência objetiva, neutra em relação às valorações e interesses dos homens reais
sócio-historicamente situados, são tão normativos quanto os argumentos em favor
dessa idéia! A identificação, em Latour, do discurso
científico como mera retórica bem sucedida implica uma abordagem deste discurso
tão filosófica e normativa quanto a identificação em Popper da ciência como
triunfo maior da racionalidade crítica. Sendo assim, a sociologia do
conhecimento de Bruno Latour acaba se revelando um
sermão filosófico travestido de conhecimento social.
(*) lociks1@terra.com.br
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |