Que é morfologia? O estudo da combinação de morfemas para
formar palavras. Essas podem ser de dois tipos: palavra lexical e palavra funcional.
A primeira, nome, adjetivo e verbo, é
uma classe aberta, pois o léxico de uma língua pode ser enriquecido, seja por criação seja por empréstimo. A
segunda, preposição, artigo, pronome pessoal e determinativo, é uma classe fechada, em
que não há acréscimos nem perdas
a não ser ao longo de uma
trajetória diacrônica.
Que é Fonologia? O estudo da combinação de sons para
formar palavras. As unidades
básicas são sílaba e o
pé métrico. Estudos sobre padrões
silábicos têm mostrado que há línguas
com apenas (CV), mas não há língua que possua somente (V).
Se possuir (V), também (CV) estará presente em seu vocabulário. A maioria
apresenta um inventário um pouco mais complexo, o português, assim como o espanhol, admite sílabas até cinco segmentos (CCVCC), como a primeira
sílaba de claustro exemplifica.
Há sistemas ainda mais complexos.
Mas raras línguas, como Berber, formam
sílabas sem vogais. Por outro lado, estudos sobre o acento, ou seja, sobre constituintes métricos, têm mostrado a predominância de pés binários seja com o elemento
forte à esquerda, troqueu, seja
com o elemento forte á direita, iambo.
A menor unidade da morfologia é o
morfema que por si só pode constituir uma palavra como em mar, mas uma palavra pode se
constituída de mais de um morfema como em
roseira. A menor
unidade da fonologia prosódica é
a sílaba, a qual, combinada com outra
sílaba forma o pé métrico, que
determina o acento da palavra . Por
conseguinte a palavra fonológica
distingue-se pelo contorno prosódico delineado a partir do acento
primário de que é portadora e representa na hierarquia prosódica o primeiro
nível em que morfologia e fonologia interagem.
È essa palavra em confronto com a palavra morfológica que será discutida.
Existe isomorfia entre palavra prosódica e palavra
morfológica? È a questão.
Note-se que os termos palavra prosódica e palavra fonológica estão sendo usados
como sinônimos.
Identificada a palavra fonológica
por seus componentes, sílaba, pé e acento, e a palavra morfológica como portadora de morfemas, verificar-se-á que
nem sempre são isomórficas. Há palavras fonológicas menores e iguais à
palavra morfológica correspondente mas
há também maiores, embora as últimas
somente existam em nível
pós-lexical como resultado da sintaxe.
Ver-se-á que a palavra
fonológica possui três propriedades básicas:
i) é um expoente de proeminência
relativa em virtude da relação sintagmática de seus membros, ii) é uma entidade
rítmica em virtude da organização métrica de suas sílabas e iii) é um domínio
de regras fonológicas e fonotáticas.
Também merecerá nossa
atenção o grupo clítico, isto é, o
clítico e seu hospedeiro, por nós considerado como palavra fonológica
pós-lexical. Não só clíticos de
uma só sílaba, como me, te, se,
lhe, por, de, mas de mais de uma
sílaba fazem parte do português, cada, para, pelo, sem falar no fato bastante comum de
palavras, sobretudo funcionais, perderem muitas vezes seu acento,
comportando-se como clíticos. Admitimos que o processo que liga o clítico a seu
hospedeiro, como em de casa ou para Elisa, é o de adjunção. Note-se que o pronome pessoal átono no
português brasileiro é geralmente proclítico, mas por vezes o enclítico também
se manifesta, embora seja mais freqüente na escrita do que na fala.. Se o clítico não é uma forma livre, então
não é uma palavra prosódica; se é
ignorado pelo acento, não faz parte da palavra; se não é uma forma de posição fixa também como afixo não pode ser catalogado. A falta de coincidência absoluta entre o
clítico e a palavra prosódica ou entre
clítico e outras palavras
formais é a evidência em favor do postulado de que o clítico junto a seu
hospedeiro é uma locução que se cria na sintaxe e que adquire prosodicidade no componente fonológico pós-lexical. É
importante ressaltar que essa locução, ou seja, palavra fonológica pós-lexical,
é uma referência importante na descrição do português brasileiro.
Considerações finais envolvem a
repercussão da palavra fonológica na escrita e a importância de identificar os
componentes de uma e de outra: a fonológica, na fala; a morfológica, na
escrita, Erros escolares e registros em
documentos antigos serão comentados.
Bibliografia
Beckman. J. (1998). Positional Faithfulness.Doctoral dissertation.
Amherst: University o Massachusetts.
Bisol, L. (1999). A sílaba e seus
constituintes. In : Neves, M., H., Moura (
Org.). Gramática do Português Falado,
v.VII. FAPESP, Editora da UNICAMP, Campinas, p.701-742 .
Booij , G. (1983). Principles and parameters in prosodic phonology. Linguistics 21, 249-280.
Câmara Jr., J. Mattoso (1969). Problemas da Lingüística Descritiva.
Petrópolis . Vozes.
Nespor, M and I. Vogel . (1986). Prosodic Phonology. Dordrecht: Foris.
Peperkamp, S. (1997). Prosodic Words. HIL Dissertations 34. The Hague:
Holland Academic Graphics.
Vigário, M. C. (2001). The prosodic Word in European Portuguese. Dissertação
de Doutoramento. Faculdade de Letras, Lisboa
Selkirk,E. (1984). Phonology and Syntax. The Relation between Sound and
Structure. Cambridge, MA:MITPress.
Silveira, Souza da (1952). Fonética
sintática. Edição da organização Simões, Rio de Janeiro.
Zwicky, ( 1977). On Clitics. Paper resented atn the 3rd.
International Phonologie-Tagung, University f Vienna.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |