RESGATE DA CIDADANIA, UMA QUESTÃO DE DIREITO: A Reprodução possível da classe trabalhadora na caótica periferia da cidade
João
Batista Filho
Universidade Norte do Paraná
INTRODUÇÃO
Londrina foi planejada desde o
inicio como um centro de serviços às novas frentes pioneiras que se instalavam
na Região Norte do Paraná. Como um entreposto de comércio com diversificadas
atividades, contava com uma cadeia bancária que viabilizava investimentos e financiamentos, além de
polarizar densa malha rodo-ferroviária
de ligação regional com outros
centros de importância no país, de modo
especial, como Santos e São Paulo. A expansão e o crescimento de Londrina são
caracterizados pela presença de um conjunto de fatores que a induziram a um
processo de urbanização acelerada, vinculado às transformações econômicas e sociais de reflexo regional que nela se implantaram.1
A
concentração do poder econômico nos
aspectos acima mencionados definiu e acelerou o caráter terciário da cidade.
Para Neide Prandini a fisionomia de Londrina é o reflexo da sua história.2
Como
Centro Regional, além de outros problemas como os criados com a especulação
imobiliária, surgem em Londrina (1) diferenças fundamentais no processo
estratificado de organização e ocupação do espaço físico da cidade. As
revitalizações espaciais se impuseram. Mas, aguçaram-se as contradições, com o
surgimento das áreas periféricas que diferentemente dos bairros nobres e
centrais ainda hoje, não dispõem de
infraestrutura e demais políticas públicas básicas para uma população em
crescimento acelerado. Além de bairros e vilas pobres e distantes da cidade,
surgiram também as favelas e ou assentamentos, sendo esses últimos, os locais
de investigação do presente projeto de pesquisa.3
OBJETIVOS
DA PESQUISA
A meta do
trabalho é propiciar maior relacionamento entre UNIVERSIDADE E A SOCIEDADE em
geral e, de modo específico com essa
população que vive nessas regiões periféricas de Londrina. A pesquisa procura analisar junta a essa
população questões de cidadania e de identidade urbana e a luta pelo espaço físico, de sua existência e
condições gerais de sua reprodução na
forma de excluídos , vivendo nas periferias da cidade de Londrina. O trabalho
estuda a situação de vida, bem como a composição da população desde os nascidos
na própria cidade e o que se tem com o processo de migração, rural - urbana e
também cidade / cidade. Faz de modo
específico uma análise sócio-jurídica da “eficácia” ou ineficácia da exigência
da lei nacional – de obrigatoriedade
para todos – da posse e porte dos
documentos pessoais ditos indispensáveis, sem levar em consideração a falta de
condições de acesso aos mesmos, por imensa maioria dessa população, não só por
questões econômicas mas, principalmente por falta de informação.
Metodologia
A Pesquisa,
com supervisão do professor, foi feita
através de amostragens em 12 favelas (mais de 60) e com sorteio de barracos. Todo o trabalho de
campo que teve a duração de 4 períodos escolares, foi realizado pelos alunos do
curso de direito , com eventuais participação de líderes das comunidades e suas
associações, na aplicação dos questionários e entrevistas, tanto com a população mais antiga como com
a recém chegada, como forma de maior
compreensão para as análises gerais de
suas condições e histórias de vida.
Dados em síntese:
Das 5354 pessoas pesquisadas: A) 32% são nascidas em Londrina, 60% da região (total 92% do PR.) e 8% outros estados. B) Escolaridade: 16% analfabetos e 83%
primeiro/segundo ano “primários”na roça ( semi- analfabetos) 1% segundo grau incompleto. C) Trabalho: 44%
desempregados, 56% mercado informal, sem qualquer direito trabalhista. D)
Salários (renda familiar) 91% de 1 a 2 S/M. E) Documentos básicos: 71% sem registro de nascimento, 84% sem
identidade , e 86% sem título de eleitor. ...” dos 447 mil habs de Londrina,160 mil vivem em estado de risco.-
11mil famílias vivem em situação de miséria, com menos de um dólar dia.”- IBGE
e Sec. De Ação Social da Prefeitura, - Folha de Londrina 11 de Agosto2002, Mapa
da Miséria.
Considerações finais
A
Organização e estruturação do viver a cidade, obedece a um projeto ideológico e,
os espaços físico ou social de melhores qualidades de vida da cidade, já têm
seus endereços certos. Mas, a classe trabalhadora de baixa renda que está
sempre em trânsito , excluída de todo o planejamento das políticas públicas e,
mais ainda, sem documentos , sujeita a todo o tipo de segregação e demais
rejeições , no interior de sua luta
pela sobrevivência , vive como única opção do seu direito à cidade, ou como
moradores de rua ,ou em precários barracos nas favelas periféricas, longe de
tudo e, sem condições de resgatar a sua cidadania e de seus familiares.
Rua
Nevada, 214
86060-150
Londrina
Paraná
Tel.:
(43)33480306
e-mail:
congo@sercomtel.com.br
1 O Projeto Cura no Parque Guanabara – Uma política- programa de Revitalização urbana em Londrina- João Batista Filho- Tese de Doutorado
2 Prandini, N. Aspectos de Geografia Urbana de Londrina- in: Anais
3 Mapa de Londrina- plano Diretor 1997? (último)
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |