PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO E AS PRIORIDADES DO
DESENVOLVIMENTO
CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO
Fernanda A. da Fonseca Sobral
Profª. Drª. do Departamento de Sociologia da UnB
O trabalho pretende apresentar e discutir os resultados da
pesquisa sobre “o Fomento do CNPq e as Prioridades Temáticas do PPA-MCT”. Este
estudo* teve como objetivo identificar
possíveis convergências entre resultados de ações de fomento dessa agência e as
prioridades temáticas estipuladas pelo Plano Plurianual
de Ações (PPA) do MCT (2000/2003).
Para fins da presente pesquisa,
foram considerados como resultados de
ações de fomento do CNPq: a) os relatórios de pesquisa de bolsistas do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC, elaborados em
2000; b) as dissertações de mestres ex-bolsistas do CNPq, defendidas no mesmo
ano 2000; c) as teses de doutores que foram bolsistas do CNPq, defendidas em
2000; d) os projetos de pesquisa de bolsistas de produtividade que receberam
bolsa em 2000 nas diferentes áreas de conhecimento, ou seja, Ciências Agrárias,
Ciências Biológicas,Ciências Exatas e da Terra,Ciências Humanas, Ciências da
Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias,Lingüística e Letras.
O Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT) definiu 15 programas temáticos prioritários, abrangendo campos muito
variados e constantes do PPA do Governo - 2000-2003. Foram consideradas como prioridades temáticas as
questões, ou temas, objetivos ou metas, ou ações expressas nos documentos
relativos a esses programas.
Os dados obtidos com a
presente pesquisa revelam convergência de resultados de fomento do CNPq, a
partir da demanda espontânea, com relação a determinadas prioridades temáticas
estipuladas pelo PPA, principalmente em algumas grandes áreas do conhecimento,
tais como Ciências Agrárias, Ciências da Saúde e Ciências Biológicas. Por outro
lado, os dados indicam também que nessa convergência destacaram-se determinados
programas, tais como C&T para Agronegócios,
Fomento à Pesquisa em Saúde, Biotecnologia e Recursos Genéticos e, finalmente,
Sociedade da Informação. Deve-se ressaltar que a origem desses programas
encontra-se vinculada a ações de fomento desenvolvidas pelo CNPq, antes mesmo
da elaboração do PPA, tendo alguns deles se iniciado ainda na década de 80,
seja através da implementação do PRONAB, do PADCT e do RHAE ou do planejamento
estratégico do CNPq que, em 1995, definiu Saúde, Educação, Informática, Meio
Ambiente e Agricultura como áreas estratégicas de atuação.
Percebe-se que nas
demais grandes áreas do conhecimento, tais como Ciências Humanas, Ciências
Exatas e da Terra, Ciências Sociais Aplicadas e Lingüística
e Letras, registrou-se também convergências das pesquisas financiadas pelo CNPq
com os Programas Temáticos Prioritários do PPA citados acima, embora em menores
proporções. A única exceção ocorreu na grande área de Engenharias, cujos temas
das pesquisas se enquadraram sobretudo nos programas Produção de Equipamentos
para Indústria Pesada e Climatologia, Meteorologia e Hidrologia.
No entanto, algumas
suposições podem ser feitas a respeito do maior grau de convergência de algumas
áreas em relação a determinados programas.
Primeiramente, os
programas que obtiveram maiores níveis de convergência já eram objeto de ações
de fomento do CNPq, há alguns anos, com participação da comunidade científica
na sua elaboração, o que evidencia a articulação entre governo e academia, já
mencionada anteriormente. Embora outros programas do PPA também já fossem
objeto de ações por parte do governo, essas não eram ações especificamente
articuladas prioritariamente pelo CNPq.
Em segundo lugar, os
programas prioritários, na sua maioria, apresentam um alto conteúdo tecnológico
e aplicado nas suas ações, como se pode verificar nos
temas mais freqüentes dos programas, ainda que as fronteiras entre a pesquisa
básica e aplicada estejam cada vez mais tênues, conforme observado
anteriormente. As áreas de Ciências Agrárias e de Ciências da Saúde são aquelas
que já apresentam uma certa tradição de aplicabilidade e puderam, por essa razão,
se encaixar mais facilmente nessas prioridades. No entanto, as áreas de
Ciências Sociais Aplicadas e Engenharias, embora possuam também uma tendência
aplicada e tecnológica, não apresentaram alto grau de enquadramento nos
programas do PPA.
Dessa forma, que
outros elementos podem ser elencados como
justificativa para a maior convergência naquelas outras grandes áreas? A
comunidade científica das áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e
Ciências da Saúde estariam participando mais ativamente das decisões da
política científica e tecnológica? Ou seriam também determinadas instituições
governamentais de pesquisa, como a EMBRAPA e a FIOCRUZ, que estariam tendo um
maior peso nessas decisões? Por outro lado, as outras pesquisas relacionadas ao
petróleo, como estão sendo desenvolvidas principalmente no CENPES, teriam uma
menor presença no fomento do CNPq?
Porém, o que os dados
dessa pesquisa parecem indicar é a inclinação para um “modelo misto de
desenvolvimento científico e tecnológico”[1]
onde estão articuladas a demanda espontânea e a demanda induzida, a comunidade
científica e o governo, o desenvolvimento científico e o desenvolvimento
tecnológico. Esse modelo procura associar a lógica do campo científico, ou
seja, as demandas da própria evolução da ciência às demandas econômicas e
sociais, isto é, permite a articulação do mercado científico ao mercado
econômico e social, ao mesmo tempo em que possibilita a fluidez de fronteiras
entre as disciplinas. Porém, esse modelo pode reconhecer também as diferenças
entre as áreas, umas mais científicas e outras mais aplicadas e tecnológicas,
ou ainda umas mais articuladas às demandas sociais e outras às demandas
econômicas do setor produtivo.
* Estudo realizado pelo NESUB (Núcleo de Estudos Sobre Ensino Superior) da UnB, sob a minha coordenação e com a consultoria dos professores Carlos Benedito Martins e Jacques da Rocha Velloso, além da participação de vários consultores das diferentes áreas do conhecimento.
[1] SOBRAL, F. A. da F. & TRIGUEIRO, M. G. S. “Limites e potencialidades da base técnico-científica”. In: FERNANDES, A. M. & SOBRAL, F. (Orgs.). Colapso da Ciência e da Tecnologia no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 1994.
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