Elson Longo (UFSCar)
De uma
forma simples, podemos definir nanotecnologia como sendo o termo utilizado para
descrever a criação, manipulação e exploração de materiais com escala
nanométrica. Aqui cabe outra definição, um nanômetro (abreviado como nm) é um metro dividido por um bilhão ou
seja, 1 nm é igual a 10-9 m. Somente para se ter uma idéia de
tamanho, um fio de cabelo tem cerca de 100x10-6m quanto 0.1mm de diâmetro, ou seja, é 100.000
vezes maior que um nanômetro.
Vamos explicar
melhor a definição de nanotecnologia. A nanotecnologia é a ciência e a
tecnologia utilizada para controlar os materiais de tal forma que podemos
manipular átomos e moléculas para construir estruturas mais complexas como, um
dispositivo eletrônico ou mesmo um “nanobo”, aquele das meninas superpoderosas.
Com esta definição e com
esta explicação fica claro o por que do grande interesse dos paises e empresas
na nanotecnologia. Uma vez dominadas a ciência e a tecnologia do mundo
nanométrico, poderemos obter novos dispositivos eletrônicos, cada vez menores,
produzir robôs tão pequenos que poderiam ser injetados no organismo para
desobstruir artérias (aqui mais uma vez o mundo da ficção esta avançando em
relação ao mundo real, bastando lembrar
do filme “viagem insólita”, em que uma nave tripulada é injetada dentro do
organismo), desenvolver remédios que poderão atuar especificamente na região
danificada do organismo, como entregar um remédio para combater somente o
tumor. Sem duvida será uma grande revolução. Quem não entrar para competir e
dominar esta tecnologia, estará fadado a desaparecer do mercado, ou mesmo se
tornar um país subdesenvolvido. Além dessas revoluções tecnológicas, a
nanotecnologia também irá melhorar tecnologias em uso. Podendo também ser
empregada para melhorar o desempenho de catalisadores, criar células solares e baterias de Lítio mais
eficientes, possibilitando assim tornar dispositivos de energia limpas mais
viáveis, contribuindo para um mundo
menos poluído.
Outra
pergunta que vem á cabeça quando falamos de nanotecnologia, é quando e como
começou esta revolução? Na verdade é difícil estabelecer uma data exata. Na
antiguidade, os Romanos já produziam artefatos, como jarros de vidros com
nanopartículas de ouro. Com certeza eles não conheciam o que estavam fazendo.
No fim do século XIX, o respeitado cientista inglês Michael Faraday já
sintetizava nanopartículas de ouro, porém não compreendia as propriedades
destas partículas. Podemos considerar como o marco inicial da nanotecnologia, como
ciência, o famoso discurso do Físico americano Richard Feynman, onde 1959, onde
propunha que na escala nanométrica haveriam muitas
coisas a serem descobertas e muitas propriedades novas. Nas décadas de 80 e 90
do século passado, um grande esforço de químicos e físicos em todo mundo,
conduziram ao desenvolvimento de novos materiais e novos métodos de síntese,
que foram avaliados com os novos microscópios de força atômica e de
transmissão, daí houve a possibilidade de descobertas de novas propriedades e estruturas,
que levaram a uma revolução científica e a uma corrida no sentido de
compreender e dominar o nanomundo.
Sem duvida a nanotecnologia
é mais que uma das promessas deste novo século. É um sonho que pode se tornar
realidade. E veio para ficar.
Uma pergunta
que sem dúvida deve ocorrer com relação à nanotecnologia é onde e como será
aplicada esta tecnologia. Em termos de aplicação da nanotecnologia, pode-se desenhar dois panoramas distintos. O primeiro
panorama esta baseado no uso da nanotecnologia para os
desenvolvimentos de novas tecnologias visando substituir as atuais. O exemplo
mais importante deste seguimento é a eletrônica. Segundo uma lei empírica
conhecida como lei de Moore (Cientista e fundador da INTEL) e os conhecimentos
técnicos científicos atuais, os desenvolvimentos de novos chips de memória
(tais como o Pentium) com maior poder de processamentos, mais baratos e mais
velozes estão chegando no limite, considerando a atual tecnologia de
processamento de semicondutores. Para superar esta estagnação, uma solução
seria o desenvolvimento de uma tecnologia inovadora e revolucionária. A
alternativa obvia para isso é a nanotecnologia. Os cientistas e empresários,
estão apostando no desenvolvimento de transistores e memórias lógicas baseados
em nanotubos de carbono, nanofios de ouro, nanofios e nanofitas de materiais
semicondutores. Estes desenvolvimentos
estão sendo patrocinados por grandes empresas do setor de semicondutores (IBM,
INTEL, HP e outras) visando uma miniaturização ainda maior dos circuitos
eletrônicos, tentando gerar nanocircuitos.
Neste
sentido o LIEC vem desenvolvendo nanofios de óxido de estanho e óxido de índio
dopado com óxido de estanho.
Outra
tecnologia revolucionária que esta sendo pesquisada, é o uso de nanotubos de
carbono para desenvolvimento de materiais de alta resistência mecânica. Estudos
mostram que materiais a base de nanotubos de carbono podem apresentar uma
resistência de 10 a 100X a resistência do aço. Além disso compostos a base de
carbono apresentam baixa densidade, resultando em materiais altamente
resistentes e leves, ideais para aplicações em indústrias aeroespacial e
automobilística.
Na
medicina, a nanotecnologia promete revolucionar também, com o desenvolvimento
de medicamentos revolucionários. Por exemplo, os medicamentos
podem ser acopladas a nanopartículas magnéticas, estas nanopartículas
(com o medicamento) seriam injetadas na corrente sanguínea, e com o auxilio de
um imã, a droga poderia ser encaminhada diretamente no local do organismo que
necessitaria deste medicamento.
Na
verdade novas aplicações de nanotecnologia surgem dia após dia, sendo que ainda
não existam limites para estas
aplicações.
O
segundo panorama de aplicação da nanotecnologia, está baseado na utilização de
materiais nanoestruturados para melhorar o desempenho de tecnologias atuais. Um
exemplo típico disso é a incorporação de nanopartículas em pneus, diminuindo o
desgaste e aumentando a vida útil dos mesmos.
Neste
seguimento, existe uma grande expectativa com relação ao aprimoramento de
dispositivos de energia alternativa, utilizando materiais nanoestruturados. Os
cientistas têm demonstrado que as utilizações de nanopartículas permitem o
desenvolvimento de eletrólitos sólidos de baterias de Lítio (utilizados em baterias de celular e
computadores portáteis) com desempenho superior aos atuais. Novos
catalisadores, baseados em materiais nanoestruturados, têm sido desenvolvidos
para serem utilizados em células de combustível e na geração de hidrogênio. Uma nova célula solar, baseada em nanopartículas de TiO2,
tem apresentado excelente rendimento e um custo de fabricação menor. Todos
estes desenvolvimentos visam obter métodos de geração de energia ambientalmente
corretos, possibilitando assim um desenvolvimento sustentável e não agressivo
ao meio ambiente.
Outras
aplicações de nanotecnologia já estão presentes em nossos dias, tais como a
utilização de nanopartículas em filtros solares. Nanopartículas são utilizadas
para absorver radiação ultravioleta do sol, evitando assim problemas como
câncer de pele. Existem inúmeros outros exemplos em que a nanotecnologia está
modificando as tecnologias atuais, resultando em produtos com superior
desempenho. Sem dúvida a incorporação de materiais nanoestruturados em produtos
do dia a dia já é uma realidade.
Outra pergunta que sempre acompanha o tema de nanotecnologia é: qual o tamanho do mercado mundial? Porém, antes de responder esta pergunta, é importante conhecer quem está investindo em nanotecnologia e quais são os montantes de investimentos envolvidos.
O
investimento em nanotecnologia começou
no final da década de 90 do século passado. Um marco deste investimento é a
iniciativa do governo americano, que a partir de 1998 vem investindo
especificamente em nanotecnologia o montante de aproximadamente U$
500,000,000.00 (quinhentos milhões) anualmente. Para se ter uma idéia deste
montante, a FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo)
investe em todas as áreas do conhecimento, aproximadamente U$ 100.000.000,00
(cem milhões). Os outros paises, especialmente os pertencentes à União Européia
e o Japão, investem montantes da ordem de centenas de milhões de dólares
anualmente. Todo este investimento é somente do setor governamental, não
incluindo o setor privado. Só para se ter uma idéia, a Degusa, uma empresa
multinacional de produtos químicos com sede na Alemanha, investe anualmente em
materiais nanoestruturados aproximadamente trinta e cinco milhões de euros em
pesquisa e desenvolvimento.
Com
relação ao mercado mundial, ainda existem duvidas com respeito ao seu tamanho,
porém estima-se que nos próximos 10 anos este mercado pode ser superior a 1
trilhão de dólares. Somente em nanopartículas o mercado mundial do ano 2000 foi da ordem de quinhentos milhões de
dólares, existindo uma previsão de crescimento de mais de 1 bilhão de dólares
até o ano de 2005 (ver gráfico da Figura 3). O mercado mundial de
nanopartículas para 2005 é estimado ser da ordem de novecentos milhões de
dólares. A área de atuação do LIEC esta
centrada em eletrônica, óptica e magnéticos.
Um
fato interessante do mercado de nanotecnologia é o alto valor agregado dos
produtos. Por exemplo em nanopartículas, atualmente o preço por quilo varia de
10 a 400 dólares, podendo chegar a produtos com custo superior a U$ 1,000.00
por quilo. Como base de comparação, a tonelada (1000 quilos) de ferro gusa,
utilizado para fabricação de aço, tem um custo médio de U$ 130.00.
O
tema nanotecnologia é atual e sem dúvida, irá gerar ainda muita discussão a
nível governamental, empresarial e mesmo em conversas cotidianas. Os exemplos aqui citados e a projeções
apresentadas, serão brevemente consolidadas e em pouco tempo este texto será
superado. Porém isso também faz parte da nanotecnologia, ou seja, uma
tecnologia dinâmica e sem limite de expansão.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |