APRENDIZAGEM VIA SISTEMAS TUTORES INTELIGENTES: O ESTADO DA ARTE

Edson Pinheiro Pimentel1,2

 

Sistemas Tutores Inteligentes (STIs) são programas de computador com propósitos educacionais e que incorporam técnicas de Inteligência Artificial (IA), geralmente utilizando-se da tecnologia dos sistemas especialistas. Os STIs derivam dos programas CAI (Instrução Assistida por Computador) e oferecem vantagens sobre estes, porque podem simular o processo do pensamento humano, dentro de um determinado domínio, para auxiliar em estratégias nas soluções de problemas ou nas tomadas de decisões.

Mais precisamente, um STI é um sistema computacional que faz o tutoramento de um aluno num dado domínio (disciplina, matéria), como por exemplo matemática. O STI modela o entendimento do aluno sobre um tópico e à medida que ele realiza determinadas tarefas no sistema, compara o conhecimento do aluno com o modelo que ele tem de um especialista naquele domínio. Se existir uma diferença, o sistema pode usar o seu modelo do domínio para gerar uma explicação que vai auxiliar o aluno a compreender o que ficou mal entendido. Além disso o sistema pode também ajustar os níveis e estilos de aprendizado do aluno e apresentar a informação, os testes e o feedback que são mais apropriados.

Os Sistemas Tutores Inteligentes (STI) representam uma parte significativa da Inteligência Artificial Aplicada à Educação (IAED), mas não a totalidade,  e constituem uma tentativa de implementar, num sistema computacional, os métodos tradicionais de ensino e aprendizado exemplificados por uma interação um-a-um (entre tutor e aluno). O tutoramento um-a-um permite que o aprendizado seja altamente individualizado e, conseqüentemente, permite um melhor resultado. Um STI é baseado na hipótese de que o processo de  pensamento de um estudante pode ser modelado, rastreado e corrigido.

O estudo e o desenvolvimento de ferramentas computacionais voltadas para educação vêm sendo realizados desde a década de 60 quando foram apresentados os softwares educacionais chamados CAI (Computer Assisted Instruction – Instrução Assistida por Computador).  Esta categoria de software é baseada no modelo educacional comportamentalista, onde o professor é a figura central do processo ensino-aprendizagem. Os sistemas do tipo CAI apenas apresentam os conteúdos e o aluno é direcionado a tomar algumas atitudes frente a estímulos apresentados, ou seja, não há uma preocupação com o processo de raciocínio e aprendizado do aluno.  Neste contexto o aluno é quem  precisa se adaptar ao sistema e não o sistema ao modelo de aprendizado do aluno. 

Na década de 70 os sistemas do tipo CAI sofreram uma reformulação, com o uso de técnicas de Inteligência Artificial, passando a ser chamados de ICAI (Intelligent Computer Assisted Instruction - Instrução Inteligente Auxiliada por Computador) e depois de ITS (Intelligent Tutoring Systems - Sistemas Tutores Inteligentes), permitindo assim uma maior flexibilidade e participação ativa do aluno e do sistema, o que resultou num ambiente cooperativo para o ensino-aprendizagem. Neste contexto, pela modelagem do estudante, os sistemas podem personalizar a instrução, tornando a apresentação apropriada ao nível de conhecimento do estudante e com o seu modo de aprendizagem, ou seja, o aluno passa a ser o centro do processo ensino-aprendizagem, deixando de ser passivo e tornando-se um ser ativo no processo, além de tornar relevante o seu conhecimento atual e as suas características de aprendizado.

Os STIs são um campo de pesquisa e desenvolvimento interdisciplinar, envolvendo áreas diversas como Educação, Psicologia e Computação. Desde os anos 80 novos paradigmas de instrução têm surgido, refletindo as várias mudanças de ênfase na educação. O desenvolvimento de micromundos e ambientes de  aprendizado interativos constituem manifestações das mudanças de enfoque da IAED.

Nos estudos atuais sobre STIs uma das questões principais é  como torná-los capazes de se adaptarem às características de cada usuário (aluno), afim de executar um processo de ensino-aprendizagem individualizado e mais eficaz. Para tanto, os STIs devem permitir descentralização das atividades, múltiplas representações do conhecimento, múltiplas estratégias, aprendizagem colaborativa e detecção do estado motivacional e afetivo do aluno.

Os avanços mais recentes no campo dos ambientes de aprendizagem inteligentes, têm proposto o uso de arquiteturas baseadas em sociedades de agentes. Os princípios dos sistemas multiagentes (SMA) têm mostrado um potencial bastante adequado ao desenvolvimento de sistemas de ensino, devido ao fato de a natureza do problema de ensino-aprendizagem ser mais facilmente resolvido de forma cooperativa. As arquiteturas BDI (Believe, Desire and Intention), são um segmento da IA que tem explorado modelos de agentes baseados em crenças, desejos e intenções.

Pesquisas mais recentes têm enfatizado a necessidade de incorporação em STI de aspectos que permitam o monitoramento de habilidades metacognitivas (o conhecimento sobre o próprio conhecimento) e também de fatores motivacionais e afetivos do aluno : como o aluno aprende e o que impede a aprendizagem. A idéia é permitir ao aluno ter um papel mais ativo e crítico no processo de ensino-aprendizagem.

 

 

 

 

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Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004