FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS: ENTRE
A TRADIÇÃO E A INOVAÇÃO
Clarissa Eckert Baeta Neves
PPG-Sociologia/UFRGS
Este trabalho propõe refletir sobre a formação atual em Ciências
Sociais considerando o surgimento de novas demandas temáticas, bem como novas
habilidades necessárias no mercado de trabalho. Parte-se de uma análise dos
currículos numa perspectiva histórica, discutindo o perfil profissional dos
egressos correspondentes e de uma reflexão sobre os currículos atuais,
considerando a elevação do nível de complexidade das tarefas sociais e a ampliação do seu espectro, especialmente
devido à densidade da comunicação, mediatização da
informatização, compactação do tempo, que vem atingindo também as atividades
dos cientistas sociais e sociólogos em todos os âmbitos, somando-se a enorme
responsabilidade com a “interpretação” da realidade social e com a “intervenção
social”.
Também serão apresentados. os resultados de uma pesquisa
realizada com sociólogos sobre mercado de trabalho e qualificação. Da
perspectiva dos entrevistados, o mercado
não é muito amplo, mas ele existe e está em processo de crescimento,
especialmente no chamado Terceiro Setor. Foram apontados como problemas: a) o
despreparo e o desconhecimento das atividades que o sociólogo pode desempenhar
no mercado de trabalho; b) a ocupação cada vez mais de espaços importantes
deste mercado por profissionais de outras áreas, por ex.: assistentes sociais,
administradores, economistas e pedagogos; c) a falta de um Conselho Regional de
Sociologia que regulamentasse a atuação no mercado. Com relação a formação acadêmico-profissional, os sociólogos
entrevistados destacaram como aspectos positivos: a formação generalista; a
forte formação teórico-metodológica; e a formação como intelectual,
fundamental, pois fornece uma identidade e um status social. Como aspectos
negativos, ressaltaram ser o curso sem vínculo entre teoria e prática; curso
com pouca relação com o mercado; falta de pesquisas que levem à ações concretas na sociedade; formação deficiente frente
ao ritmo acelerado da pesquisa de mercado; curso estimulando excessivamente o
questionamento e a crítica, quando deveria sair da crítica pela crítica e ir
para a ação; pouca habilidade estatística e matemática. Além disso, incluíram
várias sugestões para o fortalecimento da formação: formação de pontes:
universidade – mercado e universidade – sociedade; inclusão de programas de
estágios com os diferentes setores da sociedade e do mercado; atualização do
programa do currículo, tratando dos diferentes tipos de pesquisas realizadas
fora da academia. O recado destes profissionais para as instituições formadoras
é igualmente claro. É preciso uma formação com sólida base teórica-metodológica,
mas combinada com o treinamento em novos recursos técnicos e instrumentos
específicos aplicáveis ao tratamento de aspectos, ainda que parciais das
grandes questões referentes à organização, dinâmica e transformação social . Os
cursos de Ciências Sociais, neste novo contexto, precisam, pois, combinar três
aspectos: uma formação básica sólida (Antropologia, Sociologia, Ciência
Política e Metodologia); o controle de novas tecnologias; e a formação em novas
opções de atividades, além da docência e pesquisa, como assessoria,
consultoria, planejamento, avaliação de políticas sociais, gestão de políticas
sociais, etc. As diretrizes curriculares propostas pela comissão de
especialistas, discutidas pelos cursos, sugerem mudanças neste sentido. As habilitações oferecidas seguem sendo a de Licenciatura e Bacharelado, incluindo-se
aqui, porém, perspectivas não apenas para a formação de pesquisadores
acadêmicos, mas também para pesquisas não acadêmicas, voltadas a esse amplo
mercado emergente do terceiro setor e movimentos sociais; bem como uma formação
profissional no campo do planejamento, consultoria, assessoria. As competências
e habilidades exigidas incluem autonomia intelectual, capacidade analítica,
pesquisa e prática social e amplo domínio das novas tecnologias de informação.