COMPATIBILIZAÇÃO DO USO DE ÁGUA PARA GERAÇÃO DE ENERGIA COM OS DEMAIS USOS DA BACIA DO RIO CUIABÁ

 

Antonio Ferreira da Hora1

Mônica de Aquino G. Massera da Hora2

Rui Carlos Vieira da Silva3

 

Resumo – A UHE Manso foi concebida para o atendimento do uso múltiplo dos recursos hídricos, dos quais destacam-se: regularização do rio Cuiabá; fomento do turismo; incentivo a irrigação, e, geração de energia. Assim sendo, a operação hidráulico-energética da usina é função direta das vazões regularizadas para jusante e da parcela a ser disponibilizada para os usuários localizados a montante do empreendimento. Esta disponibilidade de vazões é definida com base em estudos hidrológicos que buscam identificar os valores característicos associados a diferentes probabilidades de permanência no tempo.

 

A operação dos reservatórios de regularização dos aproveitamentos hidrelétricos interligados pode gerar, de forma artificial e aleatória, escassez hídrica para jusante, sem possibilidade de previsão da sua ocorrência, uma vez que está vinculada a “quando” e ao “quanto” de água será liberada pela usina. Por outro lado, uma usina tende a esgotar toda a disponibilidade hídrica para montante, tendo em vista que um empreendedor desta atividade pressupõe a utilização de todas as vazões disponíveis do curso d’água para a transformação em energia elétrica pelo período ao qual detém a concessão/autorização de exploração do potencial hidrelétrico.

 

Para avaliação da disponibilidade hídrica resultante da operação energética da UHE Manso foram definidos cenários de sua operação. Da análise dos resultados obtidos para os diversos cenários e as vazões regularizadas e a energia produzida em cada um deles, pode-se inferir que:

 

-               A simulação para o atendimento da vazão máxima outorgável Q95% (60 m3/s) para os usuários de montante, implica no não atendimento à vazão de restrição mínima defluente da usina (80 m3/s). Este resultado demonstra o conflito pela utilização dos recursos hídricos dos usuários de jusante da usina com os de montante.

-               A vazão máxima regularizada pela usina operando até o limite do N.A. máximo normal, cota 287,00 m, sem volume de espera, é igual a 133,2 m3/s.

-               Verifica-se que a operação considerando volume de espera de até 300.000.000 m3 ou uma sobrelevação de 1,00 m acima do N.A. máximo normal, quando comparada com a operação da usina sem volume de espera, limitada ao N.A. máximo normal, conduz a variações de produção de energia de 1,2% para menos ou para mais, que por sua vez podem ser consideradas como insignificantes.

-               O aumento da vazão regularizada através da incorporação de volume útil acima do N.A. máximo normal, para as cotas 287,50 m e 288,00 m, conduz a vazões de 133,8 m3/s e 134,4 m3/s, respectivamente. Estes valores, quando comparados com a vazão máxima regularizada (133,2 m3/s), representam um acréscimo de apenas 0,45% e 0,98%, respectivamente. Esta condição continuaria não atendendo a disponibilização de 60 m3/s para montante e 80 m3/s para jusante, ou seja, 140 m3/s.

-               A incorporação da totalidade do volume do reservatório até o N.A. máximo maximorum, cota 289,25 m, caso isto fosse possível, conduziria a uma condição de vazão regularizada igual a 136,2 m3/s, ainda inferior a vazão de atendimento de 140 m3/s.

-               Verifica-se que a operação considerando a retirada de vazões para atendimento dos usuários de montante conduz a perdas importantes de produção de energia, podendo chegar a valores superiores a 30%.

 

Em conclusão, a UHE Manso com seu reservatório de grandes dimensões pode ser um importante indutor de desenvolvimento regional, uma vez que, além da geração de energia elétrica, possibilita o aumento da disponibilidade hídrica para jusante do barramento, o controle de cheias e, ainda o lazer no entorno do seu lago.

 

Por outro lado, vale ressaltar que a implantação de um aproveitamento hidrelétrico, por si só, restringe o uso dos recursos hídricos para montante, uma vez que a retirada de vazões pelos demais usuários neste estirão reduz diretamente a produção energética da usina e a regularização de vazões para jusante, caracterizando o principal conflito pelo uso da água.

 

Assim sendo, os resultados encontrados enfatizam a necessidade de uma gestão integrada dos recursos hídricos com a efetiva participação de todos os atores envolvidos.

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1 Professor Titular. Universidade Federal Fluminense. Rua Passos da Pátria, 156. São Domingos-Niterói.-RJ-CEP 24210-240. Tel: (21) 2620-7070. E-mail: dahora@rionet.com.br.

2 Doutoranda pela COPPE/UFRJ. Laboratório de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente COPPE/UFRJ, Bloco I - Ilha do Fundão. Caixa Postal 68540-CEP 21945-970. Rio de Janeiro. Tel: (21)2562-7842. E-mail: monica@hidro.ufrj.br.

3 Professor Titular. Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia – COPPE/UFRJ, Centro de Tecnologia, Bloco B, Ilha do Fundão. CEP 21945-970. Rio de Janeiro. Tel: (21)2562-8640. E-mail: rui@coc.ufrj.br.

 


Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004