A. Rafael da Silva (UFMA)
Fabiano Geraldo Pimenta Júnior (SVS)
José Ivo dos Santos Pedrosa (SVS)
Como
trabalhar os eixos centrais da Reforma Sanitária, Universalização,
Descentralização, Controle Social, Equidade e Qualidade? Como promover seus
avanços e sua sustentabilidade num país com dimensões continentais onde as
desigualdades são flagrantes e a inclusão social ainda não fez parte da agenda
dos governos? Essas foram as principais questões levantadas pelos pesquisadores
da Universidade Federal do Maranhão ao ministrarem um mini-curso nas 4ª e 5ª
Reuniões Regionais da SBPC em São Luís (MA) e em Terezina (PI) intitulado “ Como a rede de educação básica pode contribuir para o
controle das endemias no Brasil”? Um dos objetivos da atividade foi chamar
a atenção com relação as endemias que afetam milhões
de brasileiros de Norte a Sul que vivem nas regiões mais pobres, desprovidas de
recursos da saúde onde são registradas baixo nível de IDH e baixa expectativa de vida. Outro ponto foi
lembrar a grande dívida social brasileira, o descaso dos governantes e a falta
de definição de prioridade. Os participantes dos cursos mostraram-se
familiarizados com doenças transmitidas por insetos vetores (malária, dengue,
Leishmaniose Tegumentar, Calazar) e outras, com destaque para hanseníase, tuberculose e Aids.
Durante os
treinamentos têm-se apresentado experiências práticas. Uma delas é sobre
Hanseníase realizado no município de Buriticupu onde foram examinados 13.640
alunos e detectado uma alta prevalência (13,4 hansenianos/10.000 escolares) com
total envolvimento da rede municipal de educação. Nas discussões tem surgido
questionamentos e indagações que indicam e
facilitam parcerias com um setor cujo alcance social ultrapassa as
relações do prevenir e do curar. Eis algumas: o setor saúde não pode sozinho
dar conta da grande problemática que é o controle das grandes endemias em nosso
país. A educação brasileira não desconhece a problemática, somente não é
chamada enquanto segmento da sociedade. Em torno da nossa escola a falta de comparecimento dos
alunos e o acometimento de doenças faz parte do dia a dia das
famílias. Pergunta-se: O caminho das
políticas públicas não é a busca da
multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade, a intersetorialidade e a
transversalidade? Os professores
assumem atitudes positivas no sentido de que a educação básica pode beneficiar e
beneficiar-se de um diálogo mais pragmático com o setor saúde.
Os
professores percebem que a evolução da doença no indivíduo exige que a medicina
volte para sua dimensão maior: ouvidos
atentos para captar a vulnerabilidade e as esperanças, mãos hábeis para
percorrer o corpo e sentir os órgãos afetados,
sensibilidade necessária para comprometer-se com a cura e existência de
serviços organizados; contrariamente, quando se trata de uma doença na
coletividade, sugerem que se deve agregar outros elementos, outros experiências,
principalmente com aqueles que exercitam
a dialética do ensinar e do aprender. Compreendem que é necessário
descaracterizar afirmações simplistas do
tipo SAÚDE é apenas AUSÊNCIA DE DOENÇA, como se a saúde fosse a
negação do seu contrário. E que foram atitudes e afirmações do tipo “ saúde diz respeito aos profissionais da saúde e “,
política é somente tarefa dos políticos” que cristalizaram certos
entendimentos que merecem ser contestados .
No campo
das idéias precisa-se de bons e estratégicos parceiros. Eis a razão deste
simpósio na 56ª Reunião Anual da SBPC não para propor a parceria educação/saúde na formalidade curricular ou
dos treinamentos com costuma fazer o setor saúde, mas fundamentalmente
trabalhar e amadurecer a proposta de incluir o controle das endemias no
processo do ensinar e do aprender na Educação Básica do país. Eis a razão para
participar dessa discussão a Secretaria de Vigilância em Saúde que cuida da política de controle das endemias,
no Ministério da Saúde, mostrando aos
seus integrantes que a educação básica pode ser uma grande parceira na
luta pelo controle das endemias em nosso
país.
Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004 |