64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística |
DISCURSIVISAÇÃO E ACONTECIMENTO NA NOMEAÇÃO DA PRIMEIRA MINISTRA NO STF: ESTUDO DE CASO EM ISTOÉ |
Jakeline Jesus Abade 1, 2 Eliane de Jesus Brito 1, 2 Mayara Archieris Amorim 1, 2 Vinícius Fonseca-Nunes 2,3 Maria da Conceição Fonseca-Silva 2, 4 |
1. Depto.de Estudos Linguísticos e Literários - UESB 2. Laboratório de Pesquisa em Análise de Discurso - LAPADis 3. Depto. de Ciências Sociais Aplicadas – UESB 4. Profa. Dra./ Orientadora – Depto.de Estudos Linguísticos e Literários – UESB |
INTRODUÇÃO: |
Este trabalho é resultado do subprojeto “Memória discursiva e a mulher como sujeito político na esfera do poder judiciário”, que está vinculado ao projeto temático “Memória discursiva, mulher e esferas do poder político”, coordenado pela Profa Dra Maria da Conceição Fonseca-Silva. O nosso objetivo foi investigar a discursivização sobre a nomeação de Ellen Gracie Northfleet, jurista brasileira, inicialmente procuradora, depois desembargadora, primeira mulher a se tornar ministra (2000) e presidente (2006) do Supremo Tribunal Federal. A revista Istoé, como sendo um instrumento midiático, na qual identificamos e selecionamos as formulações que analisamos, é considerada na pesquisa como um lugar de memória discursiva e, segundo Fonseca-Silva (2007, 2008, 2009) funciona como um dos lugares de espetacularização da vida e da política. Tomamos como base teórica o referencial teórico da Análise de Discurso Francesa e postulados foucaultianos, a fim de identificarmos funcionamentos de sentidos sobre a mulher como sujeito político, e mais especificamente como sujeito político no Poder Judiciário. |
METODOLOGIA: |
O corpus da nossa pesquisa é constituído de formulações linguísticas selecionadas de reportagens veiculadas em edições da revista Istoé, no período que compreende de 2000 a 2009. Num primeiro momento foram separadas e organizadas em pastas todas as reportagens que tratam de política por mês, número de edição e ano de publicação. Num segundo momento, foram selecionadas as reportagens que tratam de mulher na política. Num terceiro momento, foram identificadas e catalogadas as reportagens que tratam de mulheres que atuam nas esferas de poder legislativo, executivo e judiciário. Para este trabalho, o recorte de análise que fizemos diz respeito a mulher que atua na esfera do poder judiciário, especificamente que diz respeito a Ellen Gracie Northfleet, no tocante à sua nomeação (novembro de 2000) e posse (dezembro de 2000) como primeira ministra do Supremo Tribunal Federal. Na análise das formulações selecionadas, mobilizamos pressupostos teóricos da Análise de Discurso de Linha francesa, bem como postulados foucaultianos. |
RESULTADOS: |
Os resultados das análises das formulações analisadas indicaram que: i) antes da nomeação de Ellen Gracie Northfleet, nenhuma mulher havia ocupado o cargo de ministra do STF, indicado pela regularidade da expressão linguística “pela primeira vez”; ii) considerando que um enunciado sempre pode, sendo respeitadas algumas condições, desdobrar-se em outros, tendo seu sentido também produzido em relação a enunciados silenciados quando da seleção de um, a expressão “pela primeira vez” não corresponde à expressão “finalmente”, por exemplo, e não produz o efeito de uma comemoração, mas de descrição de um evento, de reconhecimento do acontecimento; iii) a nomeação de Ellen Gracie Northfleet para o supremo foi tratada como algo inusitado (a nomeação da primeira mulher), a primeira mulher a conquistar um cargo na mais alta corte do Judiciário, a Suprema Corte Brasileira; iv) a nomeação de Ellen Gracie Northfleet é discursivizada como uma quebra de tabus em relação ao fato de cargo ter sido sempre ocupado por homens. Com a entrada de uma mulher no ministério, algo estava mudando em relação aos costumes seguidos até o momento pelo tribunal, mudando a história Judiciária do Brasil. Em 2006, Ellen Gracie Northfleet foi eleita a primeira mulher presidente do STF do Brasil. |
CONCLUSÃO: |
Os resultados indicaram que a nomeação de Ellen Gracie Northfleet para o cargo de ministra do Supremo Tribunal Federal teve um efeito-sentido de novidade, numa corte até então ocupada somente por homens. A nomeação de Ellen Gracie Northfleet para o referido cargo abriu caminho para a democratização das esferas do poder, resultado também de lutas feministas. Assim, a revista Istoé, como lugar de memória discursiva, apresentou a nomeação da juíza como um acontecimento discursivo, que teve um efeito de espetacularização marcado regularmente na mídia pela expressão "pela primeira vez". |
Palavras-chave: Discurso e política, Mulher e esferas de poder, Poder Judiciário. |