64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
SABERES DO RECÔNCAVO: EQUIDADE E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DE JOVENS DE ORIGEM POPULAR NA UFRB
José Raimundo J Santos 1, 2, 3
1. Prof. Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
2. Coord. do Observatório do Ensino Superior da UFRB
3. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA
INTRODUÇÃO:
O escopo deste trabalho associa-se aos estudos acerca da crise da racionalidade na contemporaneidade, como também, suscita a necessidade de uma busca empírica pelas categorias da racionalidade e do reconhecimento como promotoras de justiça e equidade, compreendendo-as como presentes, simultaneamente, nas esferas estruturantes e estruturadas da sociedade, quer seja, no campo simbólico e das idéias ou, nas condições objetivas de existência dos indivíduos na sociedade. Pois, como afirma Giddens (1991), “é reconhecido que investigar os motivos de alguém para atuar como atuou é, potencialmente, procurar por elementos de sua conduta sobre os quais ele próprio não pode estar completamente consciente”. Terá como ponto de partida, desvelar as formas sociais da racionalidade, desnudando as estratégias e disposições cotidianas de enfrentamento de jovens de origem popular no transitar pela Universidade e, principalmente, na afiliação, aceitação e reconhecimento destes pelos grupos de pesquisas cientificamente reconhecidos pela instituição.
METODOLOGIA:
Metodologicamente buscou-se junto aos estudantes regularmente matriculados na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), cursantes do componente curricular Fundamentos de Filosofia, Metodologia Científica, como também, os inscritos no Programa Conexões de Saberes, compreender o processo relacional e dialógico dos saberes, institucionalizado cientificamente e aquele constituído culturalmente, presente na economia simbólica de associação e dissociação dos indivíduos aos grupos e vice-e-versa. Assim, foram coletadas narrativas autobiográficas de estudantes conexistas e não conexistas, perfazendo um total de 300 (trezentas redações). No foco central destas narrativas estavam a relação entre os saberes institucionalizados e reconhecidos cientificamente e, aqueles constituídos no campo cultural onde estão inseridos os indivíduos.
RESULTADOS:
Reivindicar uma identidade representa optar por associações e dissociações com grupos e indivíduos e, acima de tudo, requer que o indivíduo reúna as condições, materiais e simbólicas, para o enfrentamento dos conflitos no processo de reconhecimento e auto-reconhecimento no interior do espaço social – no nosso caso, da Universidade, circunscrito aos distintos campos de pesquisa legitimados pela instituição. Se, os primeiros momentos do reconhecimento se dão conforme a natureza do sexo - masculino ou feminino –, os demais, deverão ser compreendidos como frutos das relações sociais e dos valores compartilhados nos grupos onde o sujeito interage. Temos ainda que, se o acesso ao ensino superior e a permanência neste, tornou-se, na nossa sociedade, um bem escasso, as estratégias de permanência, o reconhecimento dos distintos saberes, das formas sociais da racionalidade e, consequentemente, as trajetórias acadêmicas na produção de conhecimento desenvolvidas pelos estudantes oriundos das camadas populares, enquanto protagonista da sua permanência aí, tornar-se-á a materialização objetivada da luta por reconhecimento e servirá como promotora do debate sobre as desigualdades e equidade existentes na Universidade.
CONCLUSÃO:
Logo, como conseqüência desta homogeneização dos saberes, tem-se a exclusão de outras formas de saberes, que orientam os indivíduos nas suas trajetórias individuais do fazer e do agir cotidiano, deslegitimando-os para acessar ao rol das elites produtoras e reprodutoras de conhecimentos, reconhecidas como legítimas e próprias destes espaços que denominamos de Universidade. Na UFRB, os jovens de origem popular encontram no Programa de Permanência Qualificada – PPQ - uma possibilidade de inserir-se em grupos de pesquisa reconhecidos pela instituição e, neste sentido, têm a oportunidade de consolidar uma trajetória acadêmica focada na pesquisa e extensão, associando-os ao ensino e aos saberes dos lugares de onde vêm. Portanto, compreende-se, que a equidade, no que tange ao acesso, permanência e ao desenvolvimento do conhecimento científico de jovens de origem popular, não é apenas um processo de distribuição de bolsas ou benefícios, mas trata-se de um movimento de exercício moral e de tomada de consciência sobre as injustiças históricas acometidas e, suas conseqüências em relação às condições de permanência no ensino superior de jovens de origem popular.
Palavras-chave: Saberes e Conhecimentos, Reconhecimento e Equidade, Juventude de Origem Popular.