64ª Reunião Anual da SBPC

H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística

O SUJEITO DA LINGUAGEM RG: ENCONTROS ENTRE AS PARAFASIAS E AS PALAVRAS DESEJADAS

Iva Ribeiro Cota 1 Tamiles Paiva Novaes 1 Lucélia Teixeira Santos Santana 1 Daniela Pereira de Almeida 1 Nirvana Ferraz Santos Sampaio 1

1. UESB

INTRODUÇÃO:

Este estudo baseia-se no acompanhamento longitudinal de RG, 34 anos, que apresenta, segundo diagnóstico médico, a Afasia como sequela de um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCi) decorrente de trombose de seio venoso, com o intuito de avaliar o funcionamento da linguagem e intervir nas dificuldades linguísticas apresentadas em situações reais de comunicação. Neste contexto, busca-se esclarecer as seguintes questões: Quais as particularidades da Afasia do sujeito em questão? O que se pode argumentar sobre as evidentes parafasias que marcam a fala desse sujeito? E, principalmente, o que se pode concluir deste estudo de caso do ponto de vista linguístico? A hipótese que orienta esta pesquisa defende que a análise da reestruturação da linguagem no caso de afasia se dá no viés da reintegração social, subjetiva e linguística, pois, a língua oferece recursos que possibilitam aos sujeitos afásicos a mobilização das suas dificuldades e a linguagem, que permeia o humano, possibilita a utilização de sistemas alternativos de significação. A relevância da pesquisa concentra-se na possibilidade de trazer para o campo da linguística os dados singulares do caso em questão como fonte de análise, discussão, não só na teorização, como também, na prática com esses sujeitos.

METODOLOGIA:

Na abordagem metodológica, trabalha-se com o estudo de caso através de um acompanhamento longitudinal do sujeito afásico RG, buscando compreender a afasia de modo interpretativo a partir de uma análise da linguagem em funcionamento e sobre o processo enunciativo constituído. Desde o dia 1° de julho de 2011, RG tem sido acompanhada no Laboratório de Pesquisa e Estudo em Neurolinguística (LAPEN), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Linguística, Mestrado Acadêmico em Linguística, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), no Espaço de Convivência entre Afásicos e não Afásicos (ECOA), em atividades individuais e em grupo, com o intuito de avaliar o funcionamento da linguagem e intervir nas dificuldades linguísticas apresentadas em situações reais de comunicação. As atividades individuais caracterizam-se por sessões que buscam evidenciar a forma como o sujeito em questão lida com o funcionamento da linguagem depois do AVCi e do diagnóstico de afasia, partindo de conversas informais, leituras, jogos, filmes, músicas, conversas ao telefone, troca de correspondências por MSN, e-mail, etc. As atividades em grupo são realizadas de forma interativa com outros sujeitos afásicos e pesquisadores com o objetivo de compartilhar e socializar experiências.

RESULTADOS:

Com o acompanhamento longitudinal, observa-se que RG apresenta parafasias, dificuldade de leitura, de escrita e de representação numérica, além de déficit na percepção acústica em conversas ao telefone. Nas atividades em grupo, observa-se que, quando há sobreposição de fala de interlocutores, apresenta dificuldade de compreensão, perda do foco e desvio do tópico conversacional. Nos dados do estudo de caso que aqui se apresenta, a parafasia merece destaque por ser recorrente. É relevante considerar como experiência, nesse contexto, os meios de significação construídos com o outro, pois, é lançando o olhar para o que sujeito evidencia na linguagem em funcionamento que se pode compreender a amplitude da linguagem em si. A linguagem vem reafirmar o seu caráter constitutivo no estudo desses dados. Mesmo com as limitações que a afasia pode trazer, existe a linguagem, língua e, consequentemente, um sujeito. O que torna imprescindível é buscar meios para que o afásico supere a sua condição afásica através do exercício constante do seu papel de sujeito da linguagem em situações de interação e reconstrução com o outro, com os recursos linguísticos e com os outros sistemas de significação.

CONCLUSÃO:

Os resultados indicam que a avaliação e a intervenção linguística eficazes colaboram sobremaneira para a reabilitação do funcionamento da linguagem dos sujeitos afásicos e as parafasias sublinham enigmas que evidenciam um caminho aos acertos. O que se destaca nesse processo é que a reconstrução da linguagem não se dá no isolamento e sim no encontro com o outro e com os recursos linguísticos. É no momento que RG interage com o investigador com o seu novo padrão de normalidade é que suas intenções vão transparecendo e que as suas ideias são compartilhadas. Dessa forma, a sua instabilidade transforma-se em estímulo para um processo de significação e reconstrução. Dessa maneira, o significado da palavra e o seu entendimento dependem necessariamente da relação que se estabelece entre os sujeitos. Esses aspectos devem ser destacados no estudo do funcionamento da linguagem após ocorrências neurológicas que tornam sujeitos afásicos, pois, o trabalho de reconstrução dos aspectos linguísticos apagados é um trabalho em conjunto.

Palavras-chave: Sujeito, Parafasia, Afasia.