64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 2. Paisagismo e Projetos de Espaços Livres Urbanos
LEITURA DA IMAGEM DE UMA ÁREA URBANA. O caso da “Praça Deodoro” em São Luís- MA.
Débora Garreto Borges UFRJ
1. Doutoranda PROURB/FAU/UFRJ–RJ; Mestre MDU/UFPE-PE; Arquiteta e Urbanista UEMA/MA.
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa tem como objetivo geral compreender as transformações socioespaciais que o uso imprime no espaço público, particularmente na praça, por meio da delimitação de territórios, no sentido de contribuir para o planejamento de praças, dentro de uma concepção de planejamento urbano que enfatiza a relevância da dimensão da vida cotidiana.
Considerando que o homem usa o espaço público e o transforma, tem-se na compartimentação, considerada a partir da delimitação de territórios, a variável que articula e possibilita o entendimento do uso transformando o espaço público no cotidiano. Destaca-se a relevância deste trabalho pela importância da “Praça Deodoro” para a cidade; por serem poucos os trabalhos que consideram os espaços livres públicos na dimensão do cotidiano, tendo como foco os usos; também por sua aplicabilidade a outras praças da cidade, assim como para outras praças centrais em centros históricos e, finalmente, pela possibilidade de estudo interdisciplinar com os campos da antropologia e da psicologia social.
METODOLOGIA:
Para compreender tais transformações, realizou-se a leitura do cotidiano, tendo como método a leitura da imagem de uma área urbana. A leitura do cotidiano aponta problemas e potencialidades e fornece um cabedal de informações consistentes sobre a realidade do espaço público na atualidade. Tais informações são o embasamento para o planejamento, no que tange à elaboração de propostas de intervenção/requalificação adequadas para tais espaços. Este método considera os usos como aspecto relevante na composição da imagem de uma área, o que justifica sua utilização. O processo de leitura tem como técnica principal a observação direta semiparticipante; conhecimento, avaliação e diagnóstico são partes integrantes da leitura, e a presença do pesquisador na área é indispensável. Esta pesquisa centrou-se na leitura da constituição e estrutura ativa da área, com foco nos diferentes tipos de usos realizados, de modo a perceber a apropriação do espaço, as atividades cotidianas e sua espacialização no território, o tipo de usuários, as áreas ou eixos de animação ou sossego, a multi/monofuncionalidade de diferentes áreas nos diversos períodos do dia e da semana. Os procedimentos foram realizados através de observação direta, mapeamento, entrevistas com técnicos e usuários e registro fotográfico.
RESULTADOS:
A Praça Deodoro, considerada como um conjunto de espaços públicos interligados, é uma praça histórica localizada na área central do centro histórico da cidade de São Luís- MA. Destacadas suas potencialidades: referência para o centro da cidade; uma das praças mais utilizadas, palco de muitas manifestações populares ligadas à história recente da cidade; relevante também por sua área(aprox. 1,78 ha); por sua cobertura vegetal (oitizeiros centenários) e por rica trajetória histórica (final sec XVIII). Potencialmente um lugar de convergência e de encontro. A leitura da imagem apontou: sujeira, poluição sonora, altos índices de violência, deterioração do patrimônio construído, privatização do espaço pelo comércio informal e ambulante e pelos automóveis, grande quantidade de pontos de parada de transporte coletivo; usos que a têm transformado em local de passagem e comércio. Pela análise dos territórios identificados, questiona-se a relação uso dominante x uso compatível. De acordo com a pesquisa os usos têm transformado a “Praça Deodoro” em um espaço eminentemente privatizado, inseguro e não-apropriado. Pondera-se que os usos principais realizados não são compatíveis, havendo a necessidade de que a área seja liberada dos usos que lhe conferem um efeito caótico e degradante.
CONCLUSÃO:
Se exploradas as potencialidades, é possível reverter a utilização da praça, como lugar de exercício da cidadania, e devolvê-la à população como espaço de encontro, livre acesso e circulação; um local de domínio público. Coibir a crescente privatização de espaços públicos repercute na apropriação da cidade como um todo. As evidências apontam para a necessidade de um reordenamento de atividades cotidianas, a partir de um planejamento que valorize a dinâmica da vida cotidiana e considere o gerenciamento como parte fundamental do processo de conservação da praça, incluindo a participação da comunidade como elemento indispensável. A “Praça Deodoro” pela sua historicidade é um instrumento de educação patrimonial, reordenar as atividades ali realizadas, é dar lugar a uma nova definição de valorização do espaço livre público, com enfoque na qualidade de vida, a partir da compreensão do espaço como representação do que é a cidade, com seus habitantes e práticas cotidianas. É pensar os problemas da cidade, requalificando os espaços livres públicos, numa tentativa de voltar-se para os mesmos na perspectiva do usuário; onde o que planeja é, antes de tudo, um cidadão que compreende que o espaço público pode gerar a identidade de uma área, um bairro, à cidade, atuando como marco e símbolo.
Palavras-chave: leitura da imagem, espaço público, cotidiano.