64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
Toponímia maranhense e história
Maria Célia Dias de Castro 1
Gisélia Brito dos Santos 2,3
1. Profa. Dra./Pesquisadora - Depto de Letras - UEMA
2. Drand./Pesquisadora - Faculdade de Letras e Linguística da UFG
3. Profa. Ms./Pesquisadora - Depto de Letras - UEMA
INTRODUÇÃO:
Propomos a hipótese de que há um conjunto de nomes toponímicos “motivados”, influenciados pelo ambiente sociocultural e pela mentalidade da época; pelo processo de transplantação cultural e pelas lutas de poder. O objetivo geral é apresentar por que os lugares maranhenses têm os nomes que têm. Propomo-nos ultrapassar os limites da análise descritiva para chegar a uma análise crítica dos mecanismos que estão implícitos na estrutura do processo de escolha dos topônimos. Os objetivos específicos são: descrever os topônimos maranhenses de caráter mais histórico; verificar as motivações que presidem à formação desses nomes; classificá-los em taxionomias; identificar os processos que leva(ra)m à escolha desse nome; reconhecer os modos de referência dos topônimos; identificar o contexto de formação sociohistórica e de mudança desses topônimos; e apresentar a visão crítica dos autores sobre alguns processos de denominação e de mudanças de nomes. Pretendemos acrescentar mais um estudo da língua portuguesa aplicado aos diversos nomes que identificam um dos estados coloniais mais antigos desse país.
METODOLOGIA:
A pesquisa é bibliográfica, e os procedimentos para a análise e interpretação dos dados são tomados da seguinte forma: i) seleção do corpus que é formado por nomes de origem indígena e de origem portuguesa, mais precisamente, nomes de municípios maranhenses; ii) análise linguística com descrições semânticas; iii) interpretação dos resultados com os dados sócio-históricos. Os procedimentos para levantamento do corpus são a pesquisa enciclopédica nos relatos de viagens de autores portugueses quinhentistas a oitocentistas, como também de autores da História do Brasil e do Maranhão; pesquisa nos dicionários corográficos e no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Para a metodologia, respaldamo-nos no Paradigma Indiciário e no Movimento Palavras e Coisas como paradigmas de pesquisa de caráter linguístico-histórico.
RESULTADOS:
O mecanismo de motivação que está na origem de alguns nomes não ocorre de forma espontânea, pela “voz pública”, conforme Dauzat (1951), mas são designações sistemáticas, impostas oficialmente; possuem um alto grau de simbolismo e são convencionalizadas por imposição de poder. O modo de referência desta classe apresenta-se tanto de forma descritiva quanto causal. A denominação se dá pela mudança, com a substituição dos nomes atribuídos de forma espontânea e pelos nomes que representam aspectos externos. Quanto à crítica: “é tal a intimidade entre o gosto do nome e as circunstâncias políticas da nação, que nos tempos da guerra da Liberdade se escolhiam os nomes Pedro ou Miguel, consoante a paixão política das respectivas famílias; e a mesma intimidade continua a revelar-se hoje no regime democrático.” (VASCONCELOS, 1928, p. 565); e “quer-se que uma criança possua como sobrenome o nome de uma pessoa notável, para que as qualidades d’esta passem para ela.” (VASCONCELOS, 1928, p. 568). Mais recentemente: “tem, felizmente [Barreirinhas] escapado às mudanças de nome tão freqüentes de 1910 em diante nas localidades maranhenses, mudanças na maioria tão infelizes.” (MARQUES, 2008, p.195).
CONCLUSÃO:
Nomes próprios relacionados a personagens políticos: Presidente ( Presidente Vargas < Santa Luzia do Dareu); Governador (Governador Archer < Centro do Paciência); Senador (Benedito Leite < Foz do Balsas); Presidente de Província (Barão de Grajaú < Colônia);
Nomes próprios relacionados com a literatura: Gonçalves Dias;
Nomes próprios perifrásticos relacionados a famílias possuidoras do lugar: Jenipapo dos Vieiras, Lago dos Rodrigues;
Nomes próprios relacionados aos desbravadores e de antigas lideranças locais: Bernardo do Mearim;
Nomes próprios relacionados a fatos históricos: Bequimão;
Corotopônimos: “do Maranhão”, dos 81 municípios novos, 25% possuem esse genitivo.
A história, a cultura e o poder possuem estreita ligação com a língua;
“Crítica”: os topônimos descritivos fazem parte de uma cultura produzida pelas classes populares, enquanto os topônimos causais fazem parte de uma cultura imposta a essas classes.
Palavras-chave: motivação, história, toponímia maranhense.