64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 6. Psicologia do Desenvolvimento Humano
Avaliação cognitiva em crianças com anemia falciforme através de diferentes procedimentos
Alex Zopeletto da Silva 1
Jaqueline Adriany de França 1
Tatiane Lebre Dias 2
1. Graduando do curso de Psicologia - UFMT
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Psicologia - UFMT
INTRODUÇÃO:
Na Anemia Falciforme (AF) os glóbulos vermelhos em formato de foice não transitam de forma natural pelo sistema circulatório, resultando assim, na vaso-obstrução e em sua destruição rápida. Assim, a AF se caracteriza por ser uma doença genética, com maior frequência na população afrodescendente, que requer tratamento específico e, com pouca literatura disponível na área. A doença é conhecida por causar fortes dores musculares e, assim, ocasionar possíveis inconvenientes de aprendizagem, principalmente, para as crianças no período escolar. Desse modo verifica-se a necessidade de compreender o processo de aprendizagem de crianças com AF. Com base nesses aspectos, este trabalho comparou os resultados de crianças dom AF em duas modalidades de avaliação cognitiva, a saber: a) tradicional: cujo objetivo é centrado no produto (resultado) da avaliação; b) assistida: visa a implementar ajuda por parte do avaliador durante a aplicação, de modo, a melhorar o desempenho da criança privilegiando o processo de aprendizagem.
METODOLOGIA:
Participaram do estudo três crianças (2 meninas e 1 menino) diagnosticadas com anemia falciforme (Hb-SS), com idades entre 10 a 12 anos, residentes na cidade de Cuiabá. A coleta de dados ocorreu em uma unidade de saúde pública da cidade, durante o atendimento médico das crianças. Para a avaliação cognitiva utilizou-se os seguintes instrumentos: a) Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR) de autoria de Angelini e colaboradores (1999) - avalia a capacidade intelectual geral – fator G, capacidade de extrair significados de uma situação confusa, de desenvolver novas compreensões; b) Jogo de Perguntas de Buscas de Figuras Diversas (PBFD) desenvolvido por Gera e Linhares (2006) - objetiva investigar as estratégias utilizadas pelas crianças na elaboração de questões de busca de informação, com restrição de alternativas, em situação de resolução de problemas. Divide-se em 4 fases: fase sem ajuda (SAJ) – não recebe ajuda do examinador; fase de assistência (ASS) - recebe ajuda do examinador, visando a avaliar o desempenho potencial da criança; fase de manutenção (MAN) - avalia o nível de desempenho da criança após suspensão da ajuda. Ao final obtém-se o perfil de desempenho cognitivo: alto-escore, ganhador, não-ganhador. Avaliou-se com os critérios de correção das avaliações.
RESULTADOS:
No MPCR os resultados obtidos foram: duas crianças obtiveram classificação Intelectualmente Médio (III+, III-) e uma com classificação Abaixo da Média na Capacidade Intelectual (IV-). No PBFD a partir dos resultados nas perguntas de busca (relevante, irrelevante, incorreta e repetida) e nas tentativas de solução (correta, incorreta e correta ao acaso) as crianças obtiveram os seguintes perfis: ganhador (n=2) e não ganhador (n=1). Comparando os resultados das duas avaliações verificou-se que as crianças (n=2) que obtiveram classificação intelectualmente médio no Raven apresentaram perfil ganhador no PBFD. Já a criança que obteve no Raven classificação abaixo da média na capacidade intelectual o seu perfil no PBFD foi não ganhador. Mesmo que as provas apresentem procedimentos diferenciados verificou-se que o desempenho das crianças nas avaliações foram próximos.
CONCLUSÃO:
De modo geral, no Raven as crianças apresentaram desempenho médio para área da inteligência geral. No PBFD verificou-se que duas crianças beneficiaram-se da ajuda fornecida pelo avaliado durante o jogo. Embora as avaliações apresentem diferentes procedimentos observou-se semelhança nos resultados, de modo a se compreender que as crianças com desempenho médio no Raven se beneficiaram da ajuda no avaliador no PBFD, isto é, melhoraram a capacidade de elaborar questões de busca de informação com restrição de alternativa visando a solução do problema. Já a criança que obteve classificação abaixo da média no Raven não se beneficiou da ajuda do avaliador no PBFD. De todo modo, em relação ao desempenho dessa criança nas avaliações cabe refletir se nesse caso a ajuda oferecida pelo avaliador no PBFD não foi suficiente para melhorar o desempenho na prova, considerando que no Raven a criança apresentou desempenho inferior comparada as demais. A anemia falciforme por ser uma doença que atinge diversos âmbitos da vida do portador, pode ser um possível causador de dificuldades de aprendizagem em face de recorrentes ausências escolares e comprometimento do desenvolvimento infantil.
Palavras-chave: Anemia Falciforme, Avaliação Cognitiva Assistida, Avaliação Cognitiva Tradicional.