64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura |
FORMAÇÃO DE LEITORES LITERÁRIOS PELO NULI: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA |
Juliana Tatsch Menezes 1 Zíla Letícia Goulart Pereira Rêgo 2 |
1. Curso de Licenciatura em Letras - UNIPAMPA/Campus Bagé. 2. Profa. Dra./Orientadora – Curso de Licenciatura em Letras -UNIPAMPA/Campus Bagé. |
INTRODUÇÃO: |
A tentativa de estímulos à leitura na escola costuma pecar por não considerar a identidade cultural dos alunos. Segundo Hall (1999), uma identidade cultural enfatiza aspectos relacionados à nossa pertença a culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas, regionais e/ou nacionais. Na escola, devido a turmas numerosas e à falta de tempo dos professores para criarem aulas estimulantes, o que podemos observar é a preocupação em conseguir ensinar o conteúdo programado, deixando de lado a formação do leitor literário que pauta suas escolhas pelo prazer de ler, e não pela obrigatoriedade da leitura. Considerando isso, apresentamos neste trabalho um relato das experiências obtidas durante as oficinas realizadas pelo Núcleo de Formação do Leitor Literário (NULI), que buscam, partindo de textos não literários, de outras formas artísticas e de leituras adequadas ao contexto dos participantes, conectar a identidade cultural dos jovens a textos literários e, através dessa “ponte”, desmistificar a leitura literária como sendo algo inacessível ou complexo. Esperamos, a partir dessa experiência, auxiliar esses jovens no seu letramento literário e que os mesmos possam criar referências de leitura, expandir seus horizontes culturais e, com isso, adquirir o hábito da leitura literária. |
METODOLOGIA: |
Nosso trabalho foi desenvolvido com jovens de 12 a 15 anos no Centro Comunitário da Vila Damé, periferia da cidade de Bagé-RS. Relataremos neste trabalho a experiência que obtivemos em duas das oficinas propostas pelo NULI, cujo trabalho por meio de textos da literatura oral e textos não literários trouxeram resultados significativos. Para a primeira oficina levamos aos participantes textos astrológicos que continham características mais específicas sobre os signos do zodíaco, após, entregamos poemas de Elias José sobre a mesma temática para que, dessa forma, os alunos pudessem criar o “seu signo” com características que mais se adequassem à sua personalidade. Com essa atividade buscamos que o aluno percebesse que “podemos falar de várias formas o mesmo assunto” e conhecer outros gêneros textuais. Devido à proximidade das festas juninas, em nossa quarta oficina levamos livros que continham parlendas, trovas e quadras populares para que, após o contato com a leitura, os participantes pudessem criar e reproduzir os seus textos em bandeirinhas de São João. Como um complemento das oficinas, preparamos “sacos de leitura” que continham textos de várias temáticas e gêneros, procurando incentivar a leitura em casa e promover o contato diário com o texto literário. |
RESULTADOS: |
Na oficina em que trabalhamos quadras, parlendas e trovas, os alunos buscaram em seu acervo pessoal, na memória e nas brincadeiras, textos parecidos para a realização das atividades; criaram mais de um texto, discutiram e emprestaram idéias uns para os outros. Durante a oficina sobre os signos do Zodíaco, surgiram curiosidades, interesses e relatos dos alunos sobre os signos dos familiares e amigos, além de questionamentos sobre os gêneros textuais ali tratados. As atividades decorrentes da leitura literária, nessas oficinas, aconteceram de forma natural, como conseqüência da construção de sentidos e da necessidade dos participantes de relatarem suas experiências. Quanto aos textos dos “sacos de leitura”, muitos alunos relataram que foram lidos por seus familiares. Observamos que a socialização da leitura pelos alunos e a apropriação dos textos por eles demonstram a possível concretização do letramento literário. Acreditamos que, ao trabalharmos com textos que fizeram sentido para aquela comunidade, conseguimos transmitir aos alunos a ideia de que a literatura pertence a nós bem como pertencemos a ela, sendo, assim, um reflexo do que somos ou seremos e, dessa forma, ajudamos a aproximar o texto do aluno contribuindo para a formação de leitores literários. |
CONCLUSÃO: |
A experiência que obtivemos na elaboração e na realização das oficinas propostas pelo NULI fez com que percebêssemos que é necessário existir um vínculo entre a identidade cultural do aluno e os novos conhecimentos. Entendemos que não basta apenas querermos que os alunos leiam, é preciso preocuparmo-nos com a qualidade dos textos que levamos até eles, é preciso encantá-los e, para isso, levar textos que façam sentido para uma determinada comunidade faz com que, ao se enxergarem naquela leitura, eles sintam-se valorizados. Concluímos que, a abordagem da literatura por meio de outras linguagens, artísticas ou não, pode ajudar na criação da cumplicidade entre texto-aluno, fazendo com que este se sinta confortável na leitura e, com isso, suscitando nele a vontade de conhecer mais, vivenciar mais, promovendo, assim, uma transformação interior necessária para a formação de leitores literários, para o letramento literário e, também, para a construção deste aluno como um indivíduo. |
Palavras-chave: Formação de leitores literários, Letramento literário, Oficinas de literatura. |