64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística |
OS DISCURSOS SOBRE O TRÁFICO DE DROGAS NA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO DE FRONTEIRA. |
Erisvania Gomes da Silva 1 Ana Maria Di Renzo 2 |
1. Depto de Letras- UNEMAT 2. Profa. Dra./ Orientadora- Depto de Letras- UNEMAT |
INTRODUÇÃO: |
A presente pesquisa se propõe compreender os discursos sobre o tráfico de drogas nos jornais veiculados nas fronteiras como constitutivos dos sujeitos brasileiros na relação com bolivianos e paraguaios, analisando como os discursos sobre o tráfico de drogas afetam a constituição dos sujeitos citadinos. É por meio dos discursos que buscamos compreender como ocorre o embate entre as formas materiais e abstratas na região estudada através dos noticiários impressos e de entrevistas. Neste estudo, segue-se o caminho da Análise de Discurso de orientação francesa, fundada por Michel Pêcheux. A Análise de Discurso (AD) tem como objetivo compreender como um texto faz sentido, por isso, vamos analisar as noticias nos jornais visando compreender o dito e o não-dito, entrecruzados nos interdiscursos dos textos jornalísticos que retratem o tráfico de drogas na região de fronteira e de entrevistas, dando ênfase ao “como é dito” e não ao “o que é dito. |
METODOLOGIA: |
Inicialmente para empreendermos a essa pesquisa foram realizadas entrevistas com moradores na localidade de fronteira entre Cáceres Mato Grosso, e San Mathias/Bolívia. As entrevistas foram transcritas, com o intuito de realizar a análise dessas materialidades discursivas. Além disso, reunimos as materialidades que tratam da questão do tráfico de drogas, tais como: reportagens de jornais impressos e entrevistas com instituições policiais, e instituições civis. Enfim, constituímos uma leitura de arquivo que nos permitiu compreender como tais discursos constituem o sujeito de fronteira e como esse sujeito se relaciona com a cidade. Nessa linha teórica, o corpus não se constitui no a priori, mas no próprio fazer e na medida em que os fatos reclamam sentidos. |
RESULTADOS: |
Os dados apontados pela analise das entrevistas e reportagens demonstram que há um discurso vigente de ‘repressão’, mascarado por uma ideia de ‘proteção’. Desse modo, compreendemos que os discursos analisados organizam sentidos pelo efeito de evidência, inscrevendo-se na ideia de proteção, de guarnição, de combate ao inimigo da fronteira, responsável por usar o Brasil como rota, corredor. No entanto, ao inscrever esse mesmo dizer na formação discursiva do estado, dá-se visibilidade a um pré-construído: o de que o tráfico de drogas não é uma prática de brasileiros ou um problema do Brasil, mas ações de sujeitos estrangeiros que se avizinham com o Brasil e que o utiliza como rota, canal para exportação. Logo, todo o sentido de aparato policial que na materialidade aparente quer significar proteção, fiscalização, funciona como repressão nacional contra o estrangeiro da fronteira que é a origem do tráfico de drogas. Os discursos analisados acabam por constituir os sujeitos que residem nessa região pela memória do dizer, originando assim a imagem da fronteira como local de segurança nacional, de sujeito ligado ao ilícito e de tráfico de drogas. |
CONCLUSÃO: |
A análise dessas materialidades discursivas, que abarca os dizeres representados pelas entrevistas e jornais impressos, na concepção da Análise de Discurso, constitui um trabalho de interpelação dos sujeitos pela ideologia na história. Assim, é interessante percebermos, que há uma relação constitutiva entre fronteira, tráfico de drogas e segurança nacional, significando brasileiros, bolivianos e paraguaios, resultado do trabalho da ideologia e da história sobre a forma como produzimos sentidos na língua. O lugar da constituição do sujeito de fronteira, como analisamos, constitui-se pelo caráter emblemático porque, historicamente, se olhou para a proximidade do Brasil com os países vizinhos como lugar de repressão do estrangeiro, origem de muitos problemas no Brasil, que através desse imaginário, enfatiza a defesa, por meio da repressão, a proteção das fronteiras brasileira. Nesse sentido, essas discursividades constituem o imaginário de que a fronteira é um local problemático. As relações constitutivas ocorrem por meio da sobredeterminação dos discursos de ilegalidade ligando a fronteira a esse imaginário do tráfico, ou seja, o sujeito que vive nessa região de fronteira Brasil, Bolívia e Paraguai é indissociável do imaginário de que o traficante é o estrangeiro. Nesse caso, os estrangeiros são os maiores inimigos a ser combatidos, pois eles utilizam nosso país como corredor, canal, rota. Por essa razão, a fronteira tem que ser “protegida” cujo efeito silencia a repressão. |
Palavras-chave: Discurso, Fronteira, Linguagem verbal e não-verbal. |